O Ministério da Agricultura divulgou hoje nota em que afirma que o preço do álcool hidratado deverá sofrer queda devido ao acordo fechado com os usineiros na última quarta-feira. A avaliação, feita também por usineiros, ganhou até mesmo o apoio dos donos de postos, que, horas antes, afirmavam que o acordo teria um efeito contrário e pressionaria os preços do produto na bomba.
A polêmica sobre a eficácia do acordo foi desatada pelo Sincopetro (Sindicato do Comércio Varejista de Derivados de Petróleo do Estado de São Paulo), para quem o governo teria estabelecido um teto de R$ 1,05 por litro de álcool carburante (anidro e hidratado).
Dessa forma, o Sincopetro entendeu que o acordo reduziria o preço do litro do álcool anidro de R$ 1,08 para R$ 1,05, mas aumentaria o do hidratado de R$ 1,03 para R$ 1,05. Com impostos, o impacto para o consumidor do álcool hidratado poderia chegar a R$ 0,05 por litro, pelos cálculos do Sincopetro.
No final da tarde, no entanto, o Sincopetro afirmou que o governo não explicou o acordo corretamente. O sindicato, agora, também afirma que haverá queda nos preços.
Antes do recuo do Sincopetro, o presidente da Única (União da Agroindústria Canavieira de São Paulo), Eduardo de Carvalho, havia enviado correspondência ao Palácio do Planalto em que reiterava a disposição dos usineiros de reduzir o preço do álcool anidro (adicionado à gasolina) de R$ 1,08 para R$ 1,05.
Segundo a assessoria de imprensa da Unica, na correspondência ele também lembrou que historicamente o preço do álcool hidratado é inferior ao anidro por ter a adição de 6% a 8% de água. “Assim sendo, o preço do álcool carburante hidratado deverá estar abaixo daquele teto [R$ 1,05]”, afirmou.
Já o Ministério da Agricultura citou levantamentos semanais da Esalq-USP (Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz) para afirmar que “a cotação do litro do álcool hidratado tem um deságio entre 5% e 15% em relação ao do anidro”.
“Hoje, o preço razoável do litro do álcool hidratado, que tem um percentual de 6% a 8% de água, deve oscilar entre R$ 0,95 e R$ 1”, disse o diretor do Departamento de Cana-de-Açúcar e Agroenergia, Ângelo Bressan. “Esperamos que o mercado mantenha a mesma relação histórica de preços”, completou.
Bressan informou ainda que os representantes dos ministérios da Agricultura e de Minas e Energia vão se reunir na próxima semana com o setor de distribuição e revenda de combustíveis para debater as margens de lucro na comercialização de álcool.
A estatal BR Distribuidora, que detém 37% do mercado de distribuição de combustíveis, poderá ser acionada para garantir o repasse integral de eventuais reduções de preço do álcool na usina.
Mesmo sem uma intervenção direta na distribuição do produto, os preços da Petrobras deverão servir como uma referência para o mercado, forçando uma queda.
Acomodação de estoques
Para técnicos do governo ouvidos pela Folha Online, o aumento do preço do álcool verificado nos últimos dias é resultado de uma acomodação dos estoques de álcool hidratado e anidro, já que o volume de anidro estaria maior.
Além disso, eles lembram que houve uma mudança nas regras para a compra do álcool anidro no Estado de São Paulo. A Secretaria de Fazenda estabeleceu que cada distribuidora só poderia comprar uma cota de anidro de acordo com a quantidade de gasolina comprada da Petrobras.
As principais fraudes realizadas por distribuidoras, levadas pelo atrativo da aquisição do álcool diferido, são a adição de álcool anidro na gasolina numa quantidade acima do permitido e o chamado álcool molhado –prática irregular de adição de água ao álcool anidro para abastecer os carros movidos a álcool.
A medida teria levado à queda da demanda pelo álcool anidro –usado irregularmente em fraudes– e aumentado a do hidratado, aproximando os preços.