Prática agrícola milenar, a técnica de Adubação Verde é considerada por especialistas como método ecologicamente correto de rotação de cultura, caracterizada pelo objetivo de melhoramento do solo através da adição de material orgânico vegetal não decomposto. Entre inúmeras características – como regeneração de solos degradados, melhoramento da eficiência dos fertilizantes minerais, criação de condições ambientais favoráveis ao incremento da vida biológica do solo, entre outras, a Adubação Verde também é uma excelente opção natural para controle de nematóides e ervas daninhas. A terceira edição do informativo notícias por e-mail da PIRAÍ Sementes abordará o tema, entrevistando o pesquisador do Instituto Biológico de Campinas, Carlos Eduardo Grossi.
Pergunta: Qual a definição de nematóides?
Carlos Eduardo Grossi: Os nematóides fazem parte de uma fauna microscópica que habita o solo englobando espécies benéficas que participam de importantes processos como a mineralização de nutrientes (nematóides cujo hábito alimentar são fungos e bactérias) até formas daninhas às plantas cultivadas. Em certas condições favoráveis, as populações dos nematóides fitoparasitos podem aumentar, atingindo níveis onde são comuns os danos e conseqüentes prejuízos econômicos às culturas. Também nesse caso, há diferentes espécies, porém os causadores de maiores problemas são os nematóides de galha.
Como identificar a ocorrência de nematóides numa cultura?
Os agricultores podem facilmente reconhecer os engrossamentos radiculares, sintomas diretos do parasitismo desses nematóides, o que origina seu nome comum. Resumidamente, seu ciclo vital inicia-se com a entrada de “larvas” nas raízes, fixando-se no interior do tecido radicular próximo aos vasos condutores de seiva de onde se alimentam de células modificadas. Findando-se a fase jovem (larval), as fêmeas colocam seus ovos, dos quais nascem novas larvas. Um dos alvos de uma medida de controle é interromper alguma dessas etapas.
A Adubação Verde pode ajudar?
Os adubos verdes têm fama de controlar os nematóides. E isso não é mentira! Embora seja conveniente esclarecer de antemão que nem todas as plantas possuem essa característica benéfica. Algumas leguminosas e outras plantas usadas regularmente para adubação verde como sesbania (Sesbania), feijão de porco (Canavalia ensiformis), lab-lab (Dolichos lablab), tremoço (Lupinus), calopogônio (Calopogonium muconoides), ervilhaca (Vicia), girassol (Helianthus annuus), nabo forrageiro (Raphanus sativus var. oleiferus), trevo (Trifolium) e chícharo (Lathyrus sativus) são boas hospedeiras e multiplicam as populações dos nematóides de galha no solo, o que pode comprometer a safra seguinte, invertendo o efeito desejado. Por outro lado, há representantes de adubos verdes eficientes no controle dos nematóides de galha como crotalária (Crotalaria spp.), mucuna (Mucuna), leucena (Leucaena leucocephala), aveia preta (Avena strigosa), azevém (Lollium multiflorum), mamona (Ricinus communis) e tagetes (Tagetes) e que agregam outras qualidades como disponibilidade de sementes no mercado, formação de um bom volume de biomassa e matéria orgânica de qualidade.
Como controlar a presença dos nematóides?
Um dos mecanismos de controle é bem simples: a planta não hospeda o parasito. Ele não consegue penetrar ou não consegue se instalar nas suas raízes e acaba morrendo de inanição.
As crotalárias são chamadas de plantas armadilhas, pois permitem que os nematóides as penetrem e se fixem normalmente como uma planta hospedeira. Porém, após a planta reconhecer que está sendo parasitada, ela elimina as células modificadas de alimentação do nematóide, esse não consegue voltar ao solo, morrendo no interior dos tecidos radiculares. Esse também é um dos mecanismos de controle do tagetes, o conhecido cravo de defunto.
Outro mecanismo de controle acontece no manejo da biomassa pelo agricultor. Os tecidos vegetais dos adubos verdes em contato com o solo serão decompostos, produzindo substâncias tóxicas aos nematóides como ácidos orgânicos voláteis (acético, butírico e propiônico). No processo de decomposição da biomassa forma-se um substrato onde diferentes organismos antagônicos aos nematóides (principalmente fungos) se desenvolvem. Causadores de doenças nos nematóides, os fungos conseguem realizar um controle natural nas populações desses parasitos no solo. Pesquisas recentes têm reconhecido o efeito de certos compostos químicos produzidos pelas raízes, por exemplo, da mucuna-preta na seleção e manutenção de microrganismos antagônicos aos nematóides. Esse efeito persiste nas safras seguintes, mantendo um equilíbrio das populações de microrganismos no solo.
Qual a recomendação aos agricultores?
Há diversas estratégias de cultivo do adubo verde: em rotação de culturas, em sucessão, em consórcio, em faixas e em pouso temporário. Para controlar os nematóides, o melhor sistema é a rotação de culturas com o plantio exclusivo do adubo verde na primavera-verão. Localizar setores da propriedade com problemas de infestações de nematóides e nesses locais instalar o adubo verde é, sem dúvida, a mais recomendada.