Apesar de as cotações do açúcar permanecerem em baixo patamar no mercado internacional, o dólar ainda forte tem servido para manter estável a remuneração em reais das usinas do Centro-Sul do país. Em alguns casos, o preço médio em moeda local (calculado a partir da fixação do hedge da commodity e do câmbio) está até mais elevado do que no último ciclo. Assim, o mercado, que inicialmente apostava que o etanol remuneraria melhor as empresas, atualmente está bem mais dividido, ainda que tenha crescido a expectativa de que haja no país um novo reajuste da gasolina, cujas importações voltaram a trazer prejuízos à já combalida Petrobras.
Conforme cálculos do Valor Data, no primeiro trimestre deste ano o dólar subiu 14% ante o real, enquanto as cotações dos contratos futuros de segunda posição de entrega da commodity em Nova York recuaram também 14%. Mas as empresas que conseguiram maximizar o hedge do açúcar e o do câmbio tiveram um desempenho acima desse “empate” e já mostram em seus balanços preços médios de venda para entrega nesta safra 2015/16 mais elevados que os de 2014/15.
A Raízen Energia, maior companhia do segmento, fixou até 31 de março um preço médio de R$ 1.018 por tonelada para o açúcar que começou a ser produzido na atual temporada. O valor definido para 1,394 milhão de toneladas, o equivalente a 30% da produção esperada, é 7,7% superior aos R$ 945 de 2014/15. Já há alguns volumes precificados para 2016/17 e, apesar de ainda se referir a apenas 80 mil toneladas, os preços médios já estão em R$ 1.216 por tonelada, 19% mais que em 2015/16.
No guidance divulgado na semana passada, a Cosan, que controla a Raízen Energia em parceria com a anglo holandesa Shell, projetou uma produção de açúcar no atual ciclo até 7,8% maior que no anterior, de no máximo 4,4 milhões de toneladas. No caso do etanol, o crescimento foi estimado em até 1,8%.
O grupo sucroalcooleiro São Martinho ainda não divulgou seus resultados referentes ao último trimestre da safra 2014/15, que terminou em 31 de março. Mas até 31 de dezembro a companhia já havia fixado 600 mil toneladas do açúcar que será produzido em 2015/16 ao valor médio de R$ 1.053 por tonelada, 19,6% acima do preço médio (parcial) alcançado até o terceiro trimestre de 2014/15, de R$ 881,4 por tonelada.
Conforme analistas, há uma expectativa de que o preço médio da São Martinho em reais para o ciclo passado tenha sido maior, pois a empresa ainda tinha um volume de açúcar vendido em bolsa, mas sem hedge de dólar – o que amplia as possibilidades de ganho, pois, no período, a moeda americana se valorizou a níveis acima de R$ 3,30.
Apesar de a moagem de cana estar mais propícia à produção de etanol nos dois primeiros meses da safra 2015/16, a produção de açúcar cresceu 6% no Centro-Sul em relação a igual intervalo do ciclo passado, conforme dados publicados pela União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica), cujos associados respondem por 60% da produção sucroalcooleira nacional. Somente na segunda quinzena de abril, o aumento foi de 11%.
O incremento na oferta de açúcar neste início de temporada não surpreendeu a trading Czarnikow, conforme a analista Ana Carolina Ferraz. Em seus cálculos, a combinação das atuais cotações em Nova York e do câmbio no país traz um retorno com açúcar no Brasil de cerca de 10%, considerando um custo de produção (operacional) de 41 centavos de real por libra-peso.
Na visão da trading inglesa, a produção de açúcar no Centro-Sul em 2015/16 será de 34 milhões de toneladas, 6,2% maior que em 2014/15. A consultoria americana FCStone, que até abril projetava 31,1 milhões de toneladas, passou a trabalhar com 32,1 milhões, ao passo que a brasileira Agroconsult projeta 33,6 milhões de toneladas para a região – responsável por 90% da oferta de cana do país -, um incremento de 5,1%.
“Mesmo com menores preços no mercado internacional, o açúcar ainda é rentável às usinas brasileiras. Com a taxa de câmbio médio revisada para R$ 3, estimamos um preço líquido de venda do açúcar VHP [bruto] em torno de R$ 40 a saca de 50 quilos, frente a um custo aproximado de R$ 35,8 por saca”, afirma Fábio Meneghin, analista da Agroconsult,.
Maior trading global de açúcar (via Alvean, joint venture com a Cargill) e de etanol, a Copersucar acredita que há mais possibilidades de alta para o biocombustível do que para o açúcar. A recuperação das cotações internacionais do petróleo, argumenta o presidente do conselho de administração da companhia, Luís Roberto Pogetti, voltou a gerar defasagem entre os valores de importação da gasolina e de venda no mercado interno. “Há grandes chances de, em a inflação arrefecendo, haver um novo reajuste para o combustível”, afirma.
No mesmo sentido, a consultoria FG Agro antevê para 2015/16 uma safra ainda menos açucareira do que em 2014/15. A estimativa é que apenas 41% do caldo da cana nesta temporada seja destinado à produção da commodity, ante 43,21% de 2014/15 – o que significará produção de 31,2 milhões de toneladas.
(Fonte: Valor Econômico)