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Açúcar e etanol no Cariri

A retomada da produção sucroalcooleira no Cariri volta ao debate, como empreendimento econômico capaz de consolidar o desenvolvimento sustentável do sul do Ceará. A tese está posta e as discussões em curso, embora sem otimismo.

O governo do Estado acena com a possibilidade de adquirir o acervo industrial da Usina Manoel Costa Filho, de Barbalha, desativada desde 2005, decorrente do crescente rombo de seu passivo financeiro com fornecedores de cana, tributos, dívidas trabalhistas e encargos judiciais resultantes de inúmeros feitos. Esses débitos, acumulados, inviabilizaram a empresa industrial.

A Usina Manoel Costa Filho foi construída na década de 70, por empresários pernambucanos com raízes fincadas no Cariri. A região, desde o Século XVIII, já indicava sinais de solo apropriado para o cultivo da cana-de-açúcar. No Século XIX, registrou-se a primeira expansão do plantio de cana para a produção de rapadura comercializada nos diversos Estados do Nordeste como o doce sertanejo.

Ao longo do Século XX, essa cultura recebeu outro grande impulso, chegando o município de Missão Velha a contar 300 engenhos de rapadura em produção. Em menor escala, o fenômeno se repetiu em Barbalha, Crato e nos demais municípios circundantes da Serra do Araripe. A rapadura chegou a lastrear um ciclo econômico de grande repercussão no sul do Ceará pela sua penetração da Bahia ao Maranhão.

Atividade agroindustrial rudimentar cresceu tanto a ponto de proporcionar o desenvolvimento de indústria sofisticada de engenhos e caldeiras, com tecnologia inglesa, e a migração de artesãos italianos especializados na construção de artefatos de cobre para uso na produção de rapadura.

Esse ciclo industrial permitiu a desativação dos engenhos movidos a tração animal, a melhoria da qualidade e da produtividade da rapadura. As feiras sertanejas funcionavam como mercado de consumo do alimento básico do vaqueiro, junto com o queijo coalho. Mas a usina de açúcar, a incúria em relação aos engenhos, a imprevidência e a falta de sucedâneos para as exigências mercadológicas desmantelaram a indústria rudimentar do caldo, mel e da rapadura, alimentos básicos do sertanejo.

Na década de 80, quando a usina do Brejão absorvia as safras de cana para transformá-la em açúcar e etanol, o Cariri conseguiu gerar 4% do Produto Interno Bruto do Ceará. A usina estimulava o plantio de um tipo de cana com maior produtividade e assegurava assistência técnica. Chegou a disseminar seu cultivo por área superior a 10 mil hectares, no raio de 50 km do entorno da usina, oferecendo 1.600 empregos diretos.

Grupos estão se formando para encontrar uma fórmula de reativação do polo sucroalcooleiro do Cariri. A aquisição da velha usina esbarra em débitos de mais de R$126,5 milhões. As sugestões circulantes entre as lideranças apontam para a formação de uma cooperativa de produtores para retomar o cultivo, com respaldo do Estado.

Outros encontram obstáculos intransponíveis diante do passivo crescente da velha usina. Só de encargos trabalhistas, os débitos chegam a R$ 23,5 milhões. Depois, seus equipamentos, sem manutenção há décadas, devem estar sucateados, não compensando a aquisição.

Contudo, há saídas para uma nova indústria, mediante a compra de equipamentos embalados. O Cariri poderá produzir etanol e açúcar, em larga escala agora, quando estes insumos estão em alta pela crise de produção.