O açúcar e o álcool devem continuar como vedetes entre as commodities agrícolas em 2007, apesar do forte recuo dos preços do açúcar no mercado internacional nos últimos meses. Em fevereiro deste ano, o produto atingiu sua maior cotação dos últimos 20 anos, alcançando 19,7 centavos de dólar por libra-peso na bolsa de Nova York, mas depois inverteu a mão, iniciando um movimento de queda. Essa notícia para o Brasil, contudo, não é necessariamente ruim.
Com os mais baixos custos de produção de açúcar do mundo, o país continua na rota de investimentos no próximo ano, sobretudo por conta do álcool, e se mantém competitivo nos atuais patamares de preços praticados no mercado, em torno de 11 centavos de dólar, segundo analistas.
A expectativa é de que as cotações do açúcar, que acumularam queda no ano de 19,7%, ficando atrás somente do gás natural entre os produtos negociados pelo índice CRB de commodities, oscilem entre 10,7 centavos e 12,7 centavos de dólar em Nova York. O índice CRB agrega uma cesta de 19 matérias-primas, incluindo metais.
“A volatilidade continuará alta. Pode até ser que os preços caiam abaixo de 10 centavos, mas voltam a subir”, diz uma fonte de mercado.
Se confirmada a previsão mais pessimista, ainda assim o Brasil deverá registrar rentabilidade, uma vez que seus custos de produção ficam em torno de 10,3 centavos de dólar, segundo levantamento da consultoria Datagro. Os custos de produção de concorrentes do Brasil, como Guatemala e Tailândia, giram em torno de 11 a 12 centavos de dólar. A Índia, segundo maior produtor mundial e um dos países responsáveis, ao lado do Brasil, pela recente queda dos preços internacionais, por causa da grande produção de açúcar, tem custos em torno de 15 centavos.
Apesar de ter o custo mais baixo do mundo, a desvalorização do real frente ao dólar ajudou a reduzir a competitividade brasileira no mercado internacional, lembra Júlio Maria Martins Borges, presidente da Job Economia e Planejamento.
Mesmo com um cenário de preços menos firmes para 2007, o setor sucroalcooleiro do Brasil está em um dos seus melhores momentos. Dos US$ 15 bilhões previstos para investimentos em expansão de novas usinas, cerca de US$ 5 bilhões já foram aplicados. Eduardo Pereira de Carvalho, presidente da Unica (União da Indústria da Cana-de-Açúcar), afirma que em um cenário mais pessimista de preços, os investimentos podem até reduzir seu ritmo, mas dificilmente deixarão de ser concluídos, sobretudo aqueles encabeçados por empresários tradicionais do setor.
A grande incógnita para a próxima safra, a 2007/08, é saber o tamanho da produção brasileira. O consenso geral é de que a safra de cana seja maior, superior às 420 milhões de toneladas de cana previstas para o Brasil em 2006/07.
“A produção brasileira de cana tem crescido a uma taxa de 10% a 15% nos últimos anos”, lembra Rodrigo Corrêa Costa, da Fimat Futures. No centro-sul do país, responsável por 85% da produção nacional, 16 novas unidades de açúcar e de álcool entrarão em operação em 2007. No segundo semestre deste ano, 12 novas usinas iniciaram atividades. Somadas, essas novas plantas vão agregar pelo menos cerca de 15 milhões de toneladas a mais na próxima safra, garantindo novo recorde de produção.
A demanda por álcool continuará firme no mercado internacional. “Os EUA estão aumentando sua capacidade de produção [atualmente em 20 bilhões de litros anuais], mas há regiões daquele país que ainda terão de importar o combustível”, diz Plínio Nastari, presidente da Datagro. Na atual safra, os embarques diretos para os EUA, com tarifa de US$ 0,54 centavos por galão, devem ficar em 1,4 bilhão de litros. Para o próximo ciclo, há espaço para até 700 milhões de litros para os EUA. O preço do galão de álcool no mercado americano voltou a subir, impulsionados pela expectativa de oferta escassa de matéria-prima (milho) para a produção de etanol. Em julho deste ano, o galão atingiu o seu pico de preço (US$ 4,7), mas teve recuo forte por conta da entrada da safra americana. Há quatro semanas, saltou de US$ 1,8 o galão para U$ 2,25, aumento de 25% por conta de especulações sobre redução de oferta, segundo a Datagro.
“O mercado de carros flexfuel no Brasil também tem muito o que crescer, o que pode gerar uma demanda extra de 1,6 bilhão de litros”, afirma Nastari. A demanda atual por álcool no mercado interno está em torno de 13 bilhões de litros. Para o exterior, o Brasil deverá manter os volumes de embarques de álcool para 2007/08, em torno de 3,5 bilhões de litros.