O recém-assinado Acordo de Paris, fruto das negociações da Conferência do Clima da ONU (CoP-21), não afetará a expansão prevista da produção brasileira de petróleo, principalmente na camada pré-sal. Segundo o presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), Maurício Tolmasquim – que participou de vários compromissos na conferência e é um dos principais nomes da área energética do governo -, o petróleo continuará tendo participação relevante na economia mundial até, pelo menos, 2050.
“Para 2030 [horizonte das metas apresentadas pelo Brasil na CoP-21], não dá [para acabar com a produção de petróleo]. Só é possível retirar o petróleo [da matriz energética] quando se resolver o problema do transporte, se houver uma massa de carros elétricos. Isso virá, mas não antes de 2050”, disse Tolmasquim ao Valor, indicando que essa transição só deve ocorrer, mais intensamente, em cerca de 70 anos.
O acordo não determina uma meta específica para a produção de petróleo, mas limita o aumento da temperatura global abaixo dos 2°C, em relação aos níveis pré-industriais, e defende esforços para limitar o aumento a 1,5ºC. Um dos fatores que aumentam a emissão de gases de efeito estufa e o aquecimento global é a queima de combustível fóssil.
A manutenção de investimentos no pré-sal, destacou o presidente da EPE, não vai tirar a posição de relevância do Brasil na produção de energias renováveis. “Como não vamos aumentar a participação [proporcional] do petróleo na economia nacional, vai sobrar uma quantidade para exportar. Vamos chegar a uma situação aparentemente paradoxal, mas que faz todo o sentido: vamos ser a única economia exportadora de petróleo a ter uma matriz das mais limpas do mundo”, disse. A expectativa é que a matriz energética (que considera o uso da energia para todas as finalidades) brasileira mantenha o atual patamar de 45% de fontes renováveis em 2030.
Tolmasquim afirmou que o Brasil saiu da CoP-21 com posição de vantagem para se adequar às metas do acordo e de cumprir o compromisso firmado pelo país, considerada a maior meta entre as apresentadas em Paris, de reduzir as emissões de gases do efeito estufa em 43% até 2030, tendo como base os valores de 2005.
“O Brasil tem uma vantagem relativa aos demais países pelas condições naturais muito boas. Temos grande quantidade de solo, muita água e muito vento. A produção da [energia] renovável no Brasil pode ser mais competitiva do que em outros lugares. O custo para implementar é menor”, afirmou.
Na área de energia, a meta brasileira é expandir a participação das fontes renováveis, excluindo as hidrelétricas, na matriz elétrica (que considera uso da energia apenas para produção de eletricidade), dos atuais 9% para 24% até 2030.
“[A meta] é mais do que o dobro da participação atual. É um grande desafio, mas achamos que é possível justamente pelo fato de a eólica ser hoje competitiva no Brasil, o fato de termos ainda um grande potencial da biomassa, sobretudo o bagaço [de cana], mas estão entrando agora com força usinas com cavaco de madeira, e a [energia] solar, que tem tudo para crescer, principalmente com os leilões que estão sendo organizados e a nova legislação que está sendo implementada”, disse Tolmasquim.
Na área de combustíveis, a expectativa é que o etanol e o biodiesel respondam por quase um quarto (23,7%) do volume total de combustíveis consumidos no Brasil em 2030. Essa fatia atualmente está em 18,4%. Para atender à meta, Tolmasquim aposta no desenvolvimento do etanol de segunda geração, que aumenta a eficiência na produção do combustível em relação à área plantada, e ao aumento da participação do biodiesel no diesel, atualmente em 7%. Na opinião dele, essa participação subirá para 10% antes de 2025.
Segundo Tolmasquim, a economia brasileira está preparada para a nova realidade de menor emissão de gases do efeito estufa. De acordo com a EPE, a relação de emissão de uma tonelada de gás carbônico por habitante, na área de energia, no Brasil, deverá crescer de 2,3, em 2014, para 2,8, em 2030. O número, porém, continuará bem abaixo dos indicadores atuais da China (6,1), União Europeia (6,5) e Estados Unidos (16,1).
Com relação ao Acordo de Paris, o presidente da EPE disse que “foi dado um grande passo”, mas destacou dois pontos: é preciso fazer os compromissos saírem do papel e saber que é necessário fazer muito mais do que aquilo que foi aprovado entre os países.
fonte: (Valor)