O número de acidentes de trabalho em usinas de açúcar superou os da construção civil no país. Os dados são do Anuário Estatístico de Acidentes de Trabalho produzido pelo Ministério da Previdência e se referem a 2006. As informações sobre o ano passado só devem ser divulgadas em 2009. Devido à informalidade do setor, o índice pode ser ainda superior.
Segundo o levantamento, houve 14.332 acidentes em usinas de açúcar no ano retrasado, enquanto na construção civil foram 13.968. Em 2005, de acordo com o anuário, foram registradas 12.727 ocorrências em construções e 11.435 em usinas. Os dois setores são a segunda e a terceira atividade econômica com mais acidentes de trabalho no Brasil.
A primeira no ranking são atividades de atendimento hospitalar. Para o ministério, no entanto, a campeã em registros concentra ocorrências de menor gravidade. No Nordeste, pólo da cana até os anos 60, as usinas de açúcar estão em primeiro lugar.
O anuário é feito com base em acidentes comunicados pelas empresas ao ministério. A conta só envolve funcionários com carteira assinada. Todas os casos notificados geraram algum tipo de afastamento do trabalhador de suas funções.
Outra divisão do setor sucroalcooleiro também aparece entre as atividades com mais acidentes de trabalho. O cultivo da cana fica em nono lugar, com 8.789 ocorrências.
Os dados sobre acidentes em usinas de açúcar, porém, incluem também ocorrências no corte da cana. Empresas que trabalham tanto com cultivo quanto com o processamento da cana acabam registrando os casos de acidente como sendo de usinas, segundo o Ministério do Trabalho.
A área plantada com cana no país pulou de 7 milhões para 7,8 milhões de hectares de 2006 para o ano seguinte. O desenvolvimento do álcool é uma das bandeiras do governo Lula.
Nas usinas, as caldeiras são apontadas como o principal fator de risco para os trabalhadores, segundo a diretora do Departamento de Segurança e Saúde do Ministério do Trabalho, Júnia Barreto. Nas lavouras, os acidentes mais comuns, segundo o ministério, são com o manuseio de foices e devido ao carregamento de peso.
Para Remígio Todeschini, responsável pelo anuário, a alta rotatividade entre os trabalhadores do setor também contribui para os acidentes.
Proporção
A Unica (União da Indústria de Cana-de-Açúcar) diz que os dados sobre acidentes de trabalho no setor não são preocupantes porque não levam em conta que a indústria emprega 1 milhão de pessoas no país.
Para a entidade, se for feito um cálculo proporcional do número de ocorrências pela quantidade de empregados, a indústria do álcool e açúcar sai das primeiras posições. Segundo a associação, ainda “há espaço para melhorar”, mas o setor oferece condições superiores a outras atividades.
De acordo com a Unica, em quantidade de acidentes por mil empregados, as usinas de açúcar caem para a 32ª posição entre as atividades com mais ocorrências. A primeira seria transporte dutoviário.
No Nordeste, o Sindicato da Indústria do Açúcar e Álcool de Alagoas diz que há uma tendência de queda dos acidentes. Segundo o órgão, melhorias nos equipamentos e no transporte vêm sendo continuamente implantadas nos últimos 20 anos. (Felipe Bächtold)