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A vocação brasileira para os biocombustíveis

O ano apenas começou, mas já podemos dizer que o tema matriz energética será pauta permanente no Brasil e no resto do mundo. Assim, não foi à toa que escolhemos o tema Sustentabilidade e a Matriz Energética Mundial. Contribuição da Engenharia Brasileira, como foco de debates para o XV Congresso e Exposição Internacionais de Tecnologia da Mobilidade SAE BRASIL, que acontece em novembro, entre os dias 21 e 23, em São Paulo. Nós, engenheiros da mobilidade, sabemos que temos muito a mostrar sobre este assunto, principalmente a respeito das tecnologias voltadas aos biocombustíveis, como álcool e biodiesel.

A experiência brasileira com os combustíveis alternativos à base de biomassa começa a dar frutos positivos para a Nação. Recentemente, o jornal norte-americano The New York Times elogiou o Brasil em seu editorial, ao dizer que é um exemplo a ser seguido pelos Estados Unidos na questão de independência de energia. “Quando a questão é carro, muito da pesquisa já foi feita – o Brasil obteve independência energética ao descobrir como levar seus cidadãos de casa para o trabalho em carros sem muita gasolina”, publicou o jornal em seu editorial.

Por isso, a SAE BRASIL está muito feliz em saber que a tecnologia desenvolvida no País por nossos colegas engenheiros está sendo reconhecida e servindo de referência para o mundo. Há mais de onze anos, apresentamos ao mercado os sistemas flexíveis de motores, durante o Congresso SAE BRASIL, o principal palco de exposição das tecnologias da mobilidade ainda em desenvolvimento nos centros de pesquisas das empresas do setor. Hoje, a maioria dos veículos vendidos possui o sistema bicombustível (álcool/gasolina) e estamos na vanguarda tecnológica quando o assunto é gás natural veicular (GNV).

Queremos ir além. Tanto que em dezembro do ano passado assinamos um protocolo de intenções com o governo de São Paulo para incentivar o uso do GNV no transporte urbano de carga e passageiro. Por meio deste instrumento, a SAE BRASIL se compromete a promover análises das conseqüências da introdução do GNV como vetor na matriz energética, em fóruns de discussão técnica; e incentivar a realização e a apresentação de trabalhos sobre o desenvolvimento do uso do GNV como combustível em veículos comerciais – especialmente em ônibus urbanos e caminhões de entrega urbana, utilizando todas as possíveis soluções tecnológicas.

Em contrapartida, o Estado se compromete a incentivar a utilização do GNV em ônibus de transporte público urbano e metropolitano, aumentar a participação do GNV na matriz energética do Estado de São Paulo, contribuir para a redução dos índices de poluição ambiental, e oferecer aos usuários dos serviços de transporte público a possibilidade de sistemas mais econômicos.

Outra experiência que tem tudo para dar certo é o biodiesel, que aos poucos começa a chegar aos postos de combustíveis e poderá, muito em breve, substituir o similar derivado de petróleo. Segundo dados da ANP (Agência Nacional de Petróleo), o consumo de diesel no Brasil é de cerca de 40 milhões de m³, sendo que importamos 10% deste total. A mistura de biodiesel é, portanto, uma forma de se atingir a auto-suficiência neste tipo de combustível.

Podemos esperar, então, um aumento significativo da contribuição da engenharia brasileira para a sustentabilidade energética nacional e, com isso, o desenvolvimento de tecnologias que serão úteis para o mundo inteiro. Para nós, no Brasil, o álcool, o biodiesel e o GNV são estratégicos, ainda que outros países do mundo apostem no carro híbrido (elétrico/combustão). Talvez nossas soluções não sirvam para todos, mas atualmente grande parte do mundo sinaliza que estamos no caminho certo.

* Besaliel Botelho (foto) é vice-presidente executivo para a América Latina da Bosch e presidente do XV Congresso e Exposição Internacionais de Tecnologia da Mobilidade SAE BRASIL.