Mercado

A torre de 1000 metros de altura

Situada no deserto da Austrália, esta usina de energia solar será a mais alta construção do mundo e também a mais ambiciosa obra para gerar eletricidade a partir de uma fonte não poluente

O maior projeto de produção de energia solar do planeta está sendo tocado em Mildura, no meio do deserto australiano. Uma torre de 1 quilômetro de altura por 130 metros de diâmetro, que será a mais alta construção do mundo quando ficar pronta, em 2009, será erguida no centro de um imenso painel solar, de 20 quilômetros quadrados. Se tudo correr como o previsto, o calor gerado pelo painel formará uma corrente de ar de até 50 quilômetros por hora na enorme chaminé, o bastante para movimentar 32 turbinas, gerar 200 megawatts de energia e abastecer até 1 milhão de pessoas. O gigantismo do projeto dá uma idéia de quanto fontes renováveis como o sol e os ventos começam a merecer atenção e se tornar viáveis.

Grandes empresas também já acordaram para o potencial das energias limpas. A British Petroleum, mais conhecida como BP, uma das maiores multinacionais do ramo petrolífero, adotou um novo slogan que brinca com sua própria sigla: “beyond petroleum” (além do petróleo). A intenção é apresentar a companhia como uma “produtora de energia”, que investe não apenas em plataformas de extração e oleodutos, mas também em fontes energéticas renováveis e limpas. A BP tem uma subsidiária dedicada à energia solar que faturou 400 milhões de dólares em 2004, um crescimento de um terço em apenas um ano. Por trás da estratégia, claro, há considerações de marketing. Mas o crescimento da pesquisa nesse campo permite antever um futuro em que as fontes hoje conhecidas como alternativas sejam economicamente competitivas e até substituam as atuais.

Um estudo americano prevê que em 2038 todos os carros novos produzidos nos Estados Unidos poderão ser movidos exclusivamente a hidrogênio. Bem antes disso, em 2024, metade dos veículos será híbrida, movida a eletricidade e gasolina. A estimativa não foi feita por nenhum visionário e sim pela respeitável Academia Nacional de Engenharia americana. Os autores do estudo admitem que se trata de um cenário otimista, mas que se baseia em dados concretos: já há nos mercados americano, europeu e asiático modelos híbridos a preços acessíveis. O automóvel Prius, da Toyota, virou coqueluche na Califórnia. Atores de Hollywood, como Brad Pitt e Harrison Ford, dirigem orgulhosamente seus modelos recém-adquiridos. O sucesso fez com que a empresa elevasse a produção do carro de 10 000 para 15 000 unidades mensais. Nos Estados Unidos, a previsão é que sejam comercializadas mais de 100 000 até o fim deste ano. No Prius, o motor elétrico é usado na partida e a gasolina ou o diesel, apenas quando o carro atinge a velocidade de cruzeiro, o que reduz a queima de combustível. Segundo a companhia, as emissões de hidrocarbonetos e de óxidos de nitrogênio são 88,8% menores do que as regulamentadas na Europa para motores a gasolina e 93% menores do que as indicadas pelas normas para diesel.

Os carros a hidrogênio ainda não foram além dos protótipos para a apresentação em salões do automóvel, mas a cada ano parecem mais viáveis e próximos do lançamento comercial. A DaimlerChrysler distribuiu 100 veículos desses para a avaliação por integrantes do governo alemão. A General Motors apresentou no Salão de Detroit o Sequel, que espera produzir em série a partir de 2010. Uma Zafira da GM européia movida a hidrogênio percorreu catorze países em 38 dias neste ano para provar que carros do gênero são capazes de cobrir longas distâncias. BMW, Ford, Mercedes-Benz, Suzuki e Honda também têm seus protótipos.

O uso crescente de energias renováveis não é fruto de súbita consciência pesada de governos e multinacionais, e sim produto da necessidade. É uma questão econômica, antes de ser uma solução ecológica. As previsões catastrofistas dos anos 70, pelas quais o petróleo já estaria extinto, eram evidentemente exageradas. Hoje a ciência está mais precisa. Calcula-se que haja petróleo suficiente para um século de consumo, mantida a evolução atual. Mas gasolina e óleo diesel serão substituídos, a longo prazo, por alternativas renováveis, inevitavelmente. O consumo de outros combustíveis fósseis, como o gás natural, cresce mais rapidamente que o de petróleo, porém eles também são finitos. À medida que se tornarem escassos e caros, será preciso recorrer a outras fontes. Gasolina, óleo, carvão e gás natural tendem a ser substituídos por pilhas de hidrogênio, biomassa, biodiesel, energia dos ventos e do sol. Durante as duas próximas décadas, essas novas fontes responderão por cerca de 8% do consumo mundial.

“A humanidade passou dos combustíveis sólidos para os líquidos e agora para os gases. A tendência é chegarmos à forma mais simples de geração de energia: o hidrogênio”, diz o professor Paulo Emílio Valadão de Miranda, responsável pelo desenvolvimento do primeiro ônibus brasileiro movido a esse gás, que deve rodar em 2006, no Rio de Janeiro. O hidrogênio é, de longe, o mais abundante elemento químico. Quando expelido de motores, une-se ao oxigênio e forma a água.

A preocupação com o aquecimento global e a poluição do ar acaba tendo algum peso no incentivo às pesquisas. Iniciativas como o Protocolo de Kioto, acordo internacional para controlar a emissão de poluentes na atmosfera, valorizaram idéias ecologicamente corretas. Entre as energias totalmente limpas e descomplicadas, a vedete é a eólica, a fonte energética que mais cresce no mundo – 20% no ano passado. Ainda há problemas, como a dificuldade de levar essa forma de energia a regiões sem vento e a necessidade de hélices maiores para tornar o custo de produção competitivo. O mais provável é que no futuro se use uma combinação de várias tecnologias para fornecer energia limpa a grandes regiões.

O vento que abastece o Ceará

No Brasil, um dos estados mais avançados no uso da energia dos ventos é o Ceará, onde três parques eólicos como este, no Mucuripe, abastecem áreas habitadas por 200 000 pessoas. “A tecnologia custa um décimo do valor necessário para a energia solar”, explica o professor Alexandre Rocha Filgueiras, do departamento de energia elétrica da Universidade Federal do Ceará. Uma vantagem das hélices sobre os painéis solares é a menor ocupação de espaço – embora os ambientalistas se queixem da poluição visual.

Fevereiro de 1988

Ilustração Paladino

No fim da década de 80, o hidrogênio começava a ser visto como a fonte de energia ideal para os carros do futuro. Engenheiros da BMW e da Mercedes-Benz, trabalhando em separado, anunciavam, depois de quatro anos de testes, ter removido os obstáculos práticos para o uso do gás como substituto da gasolina. “O hidrogênio surgiu nas pesquisas dos alemães como a mais realista forma de energia para mover carros de passeio num prazo de quinze a vinte anos”, escreveu VEJA na época. Entre outros problemas que ainda não haviam sido equacionados estava encontrar um processo barato de resfriar e liquefazer o hidrogênio para mantê-lo à disposição dos motoristas nos postos de abastecimento. Hoje essa questão já foi resolvida: recentemente o presidente americano George W. Bush inaugurou o primeiro posto comercial americano para carros movidos a hidrogênio. Apesar da imagem de adversário dos ambientalistas, o governo de Bush tem um programa cujo objetivo anunciado é tornar o hidrogênio comercialmente viável em 2020.