As grandes potências mundiais sempre sobrepuseram aos países de terceiro mundo, os chamados subdesenvolvidos ou em desenvolvimento, e àqueles pobres e miseráveis como os que compõem o continente africano, que passaram por um intenso processo de exploração, servindo como mão-de-obra escrava no inicio da colonização.
Tentando corrigir as grandes distorções sociais, políticas e econômicas e visando estreitar as relações entre países pobres e ricos, foram criadas ao longo dos séculos uma gama de organizações mundiais. A Organização Mundial do Comércio (OMC), que surgiu em 2001, com sede em Genebra (Reutrers), reúne 153 países e tem como precípua básica estabelecer regras sobre o comércio entre as nações, negociando e assinando acordos, que depois são ratificados pelo parlamento de cada país.
Nesta semana em Genebra (Suíça), em um encontro onde participaram Brasil, Índia, Estados Unidos, União Européia e Áustria, veio à tona a questão dos subsídios fornecidos pelas grandes potências mundiais a seus agricultores. Esta benesse consiste em direcionar a quantidade de dinheiro pago aos fazendeiros por unidade, a partir do que eles produzem ou exportam. É um mecanismo para diminuir o custo da produção e faz com que os produtores rurais se tornem mais competitivos.
A sinalização por parte dos Estados Unidos em cortar subsídios agrícolas para permitir a conclusão da Rodada de Doha chegou a ser vista como um passo importante para que as negociações pudessem ter um avanço desejável. A redução nos subsídios norte-americano, que acabam distorcendo o mercado agrícola, é uma das principais exigências dos países desenvolvidos.
As rodadas de negociação continuaram e o acirramento do debate se tornou cada vez mais latente. As farpas trocadas foram sentidas quando os Estados Unidos acusam a Índia e China de ameaçarem o delicado equilíbrio da Rodada de Doha e a Argentina, nossa vizinha sul-americana, passa a querer se distanciar do Brasil no tocante à abertura do setor industrial dos países emergentes. Diga-se de passagem, o nosso país possui tecnologia de altíssimo nível nesse segmento.
Mas as arestas são muitas quando está em questão políticas de sobrevivência. Chineses e indianos têm como objetivo proteger seus pequenos agricultores da abertura de mercado, pois se isso viesse a acontecer por certo abalaria a segurança alimentar nacional e com isso levaria milhares de trabalhadores à miséria e fome. A possibilidade fez o governo chinês anunciar que irá incluir o arroz, açúcar e algodão na lista de produtos especiais que poderão ficar livres de qualquer corte de tarifas de importação.
Na efervescência das acaloradas discussões apareceram as mesmas China e a Índia se colocando favoráveis ao protecionismo que, por certo, não condiz com a realidade. Basta lembrar que este mecanismo foi criado somente para salvaguardar os países pobres ou miseráveis da África e parte da Ásia.
Todo esse imbróglio tinha como foco a busca de mecanismos que pudessem efetivamente vir a manter a flexibilidade, permitindo aos países emergentes, como o Brasil, subirem as tarifas de importação para protegerem-se de um acentuado aumento nas importações. Nesse momento o poder de barganha foi fator determinante para que as negociações saíssem a contento e que todos conquistassem velhas aspirações que antes não eram permitidas em função do domínio dos países ricos.
Entretanto, diante de um quadro dividido, as rodadas de negociação chegaram ao final, após nove dias exaustivos de intensas conversações. Especialistas acreditam que o término é melancólico, afinal a reunião da OMC fracassou por que estava em jogo uma série de vontades e vaidades. As grandes potências mundiais detentoras das maiores riquezas do planeta não querem abrir mão de seus ganhos exacerbados, aliados a uma política neoliberal imposta por esses países que perdura por milhares de anos.
Paradoxalmente, o Brasil que se intitulou representante dos países em desenvolvimento, acabou sendo penalizado. Efetivamente os maiores atingidos pelo insucesso da Rodada de Doha serão os estados brasileiros com vocação agroindustrial e, por certo, Mato Grosso irá figurar entre eles, pois esperavam pela redução dos subsídios norte-americano e das demais potências mundiais para que seus produtos do campo pudessem ganhar maior valor de mercado.