A indústria de motores – equipamentos considerados o coração dos automóveis –, vai ficar com parcela significativa dos cerca de US$ 1,5 bilhão em investimentos inicialmente programados pelas montadoras e fornecedores de autopeças para 2005.Osetor é dominado pelas próprias fabricantes de veículos e empresas independentes que desenvolvem tecnologia própria para o carro nacional e também se consolidam como plataforma de exportação de motores de baixa cilindrada. Norastro das montadoras, o setor vai produzir este ano volume recorde de 2,4 milhões de motores, dos quais 14% para exportação. Aperspectiva para 2005, que será dominado pelos motores multicombustíveis, é de crescimento de 10%. As vendas externas devem totalizar 400 mil unidades. “OBrasil tem custos competitivos, mão-de-obra qualificada e tecnologia”, justifica o coordenador do grupo de motores do Sindicato Nacional dos Fabricantes de Autopeças (Sindipeças), Rodrigo de Castro Pereira Nunes. O País, diz ele, especializou-se principalmente no desenvolvimento dos equipamentos de baixa cilindrada, como as versões 1.4 e 1.6. A capacidade de produzir motores que hoje equipam, por exemplo, os modelos Seat Ibiza, que circulam pela Espanha, e o Polo vendido no Japão, garantem à Volkswagen aportes da matriz alemãemnovos equipamentos.Afábrica de motores em São Carlos (SP) tem uma câmara especial que testa veículos em diferentes condições climáticas, de 40 graus negativos a 60 graus positivos. “O Gol que recentemente começou a ser exportado para a Rússia passou por testes nessa câmara”, diz o gerente da fábrica de São Carlos, Marcos Ruza.Asofisticação tecnológica ganhou reforço recentemente com a importação, da Alemanha, de um robô que simula os testes no veículo, fazendo o papel do motorista. ARANHA A vantagem é que o equipamento, parecido com uma aranha gigante, pode permanecer na câmara a baixas ou altas temperaturas durante vários dias de testes, sem interrupção.Orobô custou R$ 5,6 milhões. A filial de São Carlos vai produzir este ano 355 mil motores, 50% a mais que em 2003. Emoito anos de operação da fábrica, foram produzidos 2 milhões de equipamentos de 1.0 a 2.0 litros. Para o próximo ano, Ruza calcula acréscimo de 5% a 10% nas vendas internas e externas. No segmento de motores a diesel para veículos de grande porte, como caminhões e ônibus, o Brasil também desponta em tecnologia. A Cummins colocou no mercado, este ano, motores inteligentes que detectam e avisam ao motorista qualquer problema na viagem. Também informam, por meio de sistemas eletrônicos, gastos com combustível, velocidade ou mudanças de rota. “São motores mais silenciosos, mais econômicos e menos poluentes”, diz Luiz Pasquotto, diretor de marketing e vendas da Cummins. Os motores eletrônicos devem substituir os mecânicos por causa das exigências ambientais. A resistência das empresas frotistas em adotá-lo, entretanto, está no preço mais elevado. Para contornar essa barreira, a Cummins desenvolveu, no Brasil, um motor mecânico que atende às normas ambientais, mas é 30% mais barato que o eletrônico. A empresa também contabiliza aumento de 50% na produção de sua fábrica em Guarulhos, na Grande São Paulo, para 62 mil unidades, das quais 10,3 mil para exportação.Em2005, o grupo vai investir R$ 60 milhões para ampliar a capacidade produtiva para 75 mil motores ao ano. A Mercedes-Benz, pioneira na tecnologia do motor eletrônico, é a única a produzir equipamentos a gás, hoje exportados para aAlemanha. “Somos centro de competência mundial dentro do grupo, no desenvolvimento desses produtos”, informa Bart Laton, diretor de produção da montadora do grupo DaimlerChrysler. A empresa mantém em São Bernardo do Campo (SP) um exclusivo laboratório de testes que simula, por exemplo, o desempenho de um motor em uma altitude de 4 mil metros, comum em mercados como o Chile. Com produção este ano de 88 mil motores, 25% superior ao registrado em 2003, a Mercedes exporta 30% desse volume, a maior parte para os Estados Unidos.
SOBREVIVÊNCIA – Única empresa com a produção voltada totalmente ao mercado externo, a Tritec, joint venture da BMW e da DaimlerChrysler, negocia a exportação de mais de 700 mil motores para duas empresas chinesas. As entregas começariam em 2006, num contrato com duração de cinco anos. O novo negócio pode garantir a sobrevivência da fábrica no Paraná que, em 2007, vai perder seu único cliente, aBMWinglesa, que hoje adquire motores para o modelo Mini. Neste ano, a Tritec vai produzir 80 mil motores, mesmo volume previsto para 2005. Já a International, líder no segmento de motores a diesel para veículos comerciais, está pronta para colocar no mercado equipamentos movidos com até 25% de biodiesel, combustível feito com óleos vegetais, que reduz a emissão de poluentes na atmosfera. A empresa produzirá este ano 60 mil motores, número que deverá se repetir em 2005. Desse volume, cerca de 20% será destinado ao mercado externo. AInternational investiu no Brasil, desde 2001, US$ 90 milhões emdesenvolvimento de novas tecnologias. Segundo a responsável pela área de comunicação da empresa, Mariana de Paula Pinto Mendes, o valor inclui o desenvolvimento da família de motores eletrônicos NGD, nas versões 3.0 que vão substituir, a partir de 2005, as atuais versões com 2.8 de potência.
ALTA ROTAÇÃO – 60 Milhões de reais é o valor do investimento da Cummins na ampliação da capacidade de produção da fábrica s de Guarulhos, de 62 mil para 75mil motores por ano 88 Milmotores será a produção da Mercedes-Benz no Brasil este ano, um crescimento de 25% em relação ao ano passado 90 Milhões de dólares é o valor do investimento da International no Brasil desde 2001, em desenvolvimento de novas tecnologias.