O controle biológico é muito conceituado, como sendo o controle natural de organismos vivos utilizando-se de outros organismos vivos. Todos as pragas têm um complexo de inimigos naturais quem mantêm em equilíbrio o seu nível populacional. Todas as vezes que as pragas são favorecidas e que seus inimigos naturais são desfavorecidos, ocorre um desequilíbrio biológico, geralmente acarretando em aumento populacional da praga. O uso de inseticidas, de forma indiscriminada, é um desses fatores de desequilíbrio.
Até a década de 1950, a broca-da-cana, Diatraea saccharalis, causava prejuízos consideráveis à cultura da cana-de-açúcar, atingindo freqüentemente intensidade de infestação (relação entre o número de colmos danificados e sadios) superior a 25%. Com a implantação de programas de controle biológico da broca-da-cana, utilizando-se de moscas nativas criadas em laboratórios de instituições de pesquisa e, posteriormente, das próprias usinas, a intensidade de infestação caiu e o índice de intensidade de infestação (que leva em conta o número de internódios danificados) se manteve ao redor de 10%, o que era considerado, na época, muito bom.
Na década de 1970/1980, a vespinha Cotesia flavipes, antigamente classificada como Apanteles flavipes, foi importada da Ásia para o Brasil e criada massalmente (em grandes quantidades) em laboratórios de todo o Brasil. Após o início das liberações dessa vespinha em campo e da intensificação desse programa, o índice de intensidade de infestação, anteriormente mantido ao redor de 10% com as moscas, caiu para ao redor de 2%, ocasionando em uma economia de mais de 80 milhões de dólares por ano para o setor canavieiro. Esse foi considerado o maior programa de controle biológico do mundo.
Além da broca-da-cana, a cigarrinha-da-raiz, Mahanarva fimbriolata, e as cigarrinhas que ocorrem nas folhas, Mahanarva posticata e outras, também têm sido controladas de forma biológica. Nesse caso, o agente utilizado é um fungo, Metarhizium anisopliae, muito utilizado em décadas anteriores para as cigarrinhas-das-pastagens. Apesar de não ser tão extensamente utilizado como a vespinha para a broca-da-cana, a cada ano que passa, mais e mais agricultores têm vislumbrado as vantagens de utilização do Metarhizium para o controle da cigarrinha. A economia gerada pela utilização do fungo em relação aos inseticidas chega a ser muito maior do que a gerada pela utilização da vespinha. Entretanto, a utilização do fungo requer dos agricultores maiores cuidados no manuseio, conservação e aplicação, pois esse produto é um ser vivo altamente dependente de umidade e extremamente sensível à radiação ultravioleta, não podendo ser tratado como um inseticida.
As demais pragas que ocorrem na cana-de-açúcar potencialmente podem ser controladas de forma biológica. Entretanto, muita pesquisa falta para a implantação de programas de controle biológico destas pragas.
Para se ter uma idéia, para os cupins que atacam raízes, especialmente Heterotermes tenuis, pode-se utilizar o fungo Beauveria bassiana ou Metrhizium aniopliae em iscas de papelão corrugado. Estas iscas já são comercializadas para serem utilizadas com inseticidas.
As iscas também podem ser utilizadas para o controle do gorgulho-da-cana, Sphenophorus levis, praga que ocorre no estado de São Paulo, atacando raízes e colmos, causando o enfraquecimento e morte das plantas.
As principais pragas da atualidade são:
-lagarta-do-cartucho, Spodoptera frugiperda, para o milho, pois essa praga se encontra resistente a muitos inseticidas utilizados no Brasil. Ocorre no Brasil todo. É um problema grave especialmente nas áreas de produção de sementes, onde são feitas pulverizações muito freqüentes. A lagarta-do-cartucho se alimenta das folhas do cartucho do milho, ou seja, das folhas novas ainda enroladas no centro da planta, causando a diminuição da produção. Além disso, a lagarta também ataca as espigas, causando perdas nos grãos e facilitando a entrada de microrganismos que também prejudicam a produção. Em plantio de “safrinha”, essa praga ataca plantas novas, cortando-as rente ao solo, diminuindo a densidade de plantas da cultura. É também importante nas áreas de produção de sementes por todos os prejuízos citados, mas também por danificar os pendões florais, diminuindo a polinização e formação de grãos.
– o bicho-furão tem causado prejuízos para os citricultores paulistas, muitas vezes mais graves que os causados pelos ácaros da leprose e da falsa-ferrugem. O ácaro-da-leprose tem mostrado resistência a diversos acaricidas existentes no mercado. Entretanto, os citricultores têm mostrado boa competência para lidar com o manejo de resistência. Essa praga coloca seus ovos nos frutos, de onde eclodem as lagartinhas que perfuram o fruto e se alimentam da polpa deste, causando apodrecimento e queda. Com isso, ocorre uma grande perda na produção de frutos.
– no algodão, a lagarta-do-cartucho, Spodoptera frugiperda, vem se tornando séria praga para a cultura na região Centro-Oeste, especialmente em Goiás e MatoGrosso. Para essa cultura, o bicudo, Anthonomus grandis, ainda é o grande entrave para a produção nas regiões Sudeste e Centro-Oeste, pois exige muitas aplicações de inseticidas e um rigoroso monitoramento. A lagarta-do-cartucho causa a desfolha do algodoeiro, o que acaba por diminuir a produção de fibras. O bicudo, praga exótica, ataca botões florais e capulhos, para alimentação e oviposição, causando o apodrecimento e queda, o que acarreta em perdas enormes na produção de fibras.
– na cana-de-açúcar, graças ao controle biológico, a broca-da-cana, Diatraea saccharalis, vem sido mantida sob controle. Entretanto, basta que os produtores parem de liberar vespinhas para o controle da praga e esta volta com intensidade dentro de alguns anos, como tem sido observado em diversas localidades. A broca-da-cana perfura os colmos da cana e cava galerias internas, por onde penetram fungos que causam a podridão vermelha, diminuindo a produção de sacarose. Em ataques em plantas novas, causa a morte da gema apical, destruindo as folhas novas, causando o sintoma chamado coração morto.
Responsáveis:
Maria Aparecida Vicente Cano
Sócia Proprietária
Bióloga
Elitamara Morsoletto Santos
Sócia Proprietária
Bióloga
Alexandre de Sene Pinto, professor e doutor em entomologia
Consultor Biocontrol