Mercado

A hora do respeito e da atenção

Ainda que alguns setores do governo aparentem um certo descaso, o agronegócio brasileiro é a âncora verde da balança comercial e o aval da estabilidade econômica do país. Nós, cooperativistas, temos orgulho de o governo federal contar com um cooperativista e executivo do agronegócio, o ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues.

Para nossa preocupação, nos últimos meses, temos assistido à uma seqüência de atropelos em questões fundamentais ao agronegócio: a conhecida incapacidade da malha viária nacional em escoar o produto das safras das novas fronteiras de produção, a explosão do latente conflito entre operadores e autoridades locais no porto de Paranaguá e a eclosão da greve dos fiscais agropecuários federais em antiga reivindicação salarial. Exatamente três questões que, juntas, têm um poder de fogo devastador para os preços da agropecuária, a exportação do produto nacional e para a balança comercial. As três questões eram (ou deveriam ser) do conhecimento das áreas que controlam o orçamento federal e que confiaram no imobilismo para não investir em infra-estrutura, na remuneração de pessoal especializado e até na mediação de interesses corporativos das categorias que movem um porto! Neste caso, não há Roberto Rodrigues que seja capaz de tirar do nosso caminho, ao mesmo tempo, os buracos nas estradas, os fiscais sem amparo do orçamento e as partes em conflito no porto! O prejuízo causado apenas pela paralisação do porto de Paranaguá é tamanho que há dificuldades em estimar os números, dadas as conseqüências das repercussões nas cadeias de exportação, armazenamento, distribuição e produção.

Por que nós, cooperativistas e produtores, saímos da habitual discrição e silêncio que o nosso trabalho duro exige? Não para provocar outro atropelo, não para jogar técnicos, políticos e burocratas uns contra os outros. Exibimos o resultado do nosso esforço e queremos, no mínimo, respeito e atenção às nossas dificuldades, muitas delas criadas pela indiferença para com o produtor brasileiro e as cooperativas nacionais.

Eis o resultado do nosso trabalho: o agronegócio representa 33% do PIB nacional, cria 37% dos empregos do país e é responsável por 42% das exportações brasileiras. O Brasil conquistou a posição de maior exportador de carne bovina do mundo, ultrapassando a Austrália e os Estados Unidos, com vendas de R$ 4,5 bilhões. Estamos na dianteira mundial nas exportações de frangos, atingindo R$ 5,4 bilhões e alcançamos excelentes resultados também no café, suco de laranja, cana de açúcar e tabaco.

Ainda mostramos nosso desempenho com a soja (sem contar com a que ficou parada nos caminhões e em Paranaguá). A safra recorde de grãos de 2003 alçou o país ao posto de maior exportador do complexo de soja do mundo. O setor agrícola produziu no ano passado mais de 123 milhões toneladas de grãos, o que superou em 27,5% a safra anterior. O agronegócio respondeu, no ano passado, por 41,9% das exportações. O setor exportou nada menos do que US$ 30,6 bilhões no ano passado, um aumento de 23,35% em relação a 2002; e isso em um ano em que o Produto Interno Bruto brasileiro encolheu 0,2%.

Boa parte desses recordes se deve ao desempenho das 1.519 cooperativas agropecuárias do país, que somam 6,3 milhões de associados, familiares e agregados, além de garantir 110 mil empregos diretos. As cooperativas brasileiras respondem, por exemplo, por 62,19% da produção nacional de trigo; 44,19% de cevada; 39,7% de leite e 27,97% de café.

Por favor, insistimos: basta de atropelos. Agora, é a hora do respeito e da atenção.

Márcio Lopes de Freitas é presidente da Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB).