Tudo começou em uma segunda-feira, 24 de abril de 2003, com o lançamento do Volkswagen Gol 1.6 Total Flex. Era o primeiro modelo fabricado no Brasil capaz de rodar abastecido com álcool, com gasolina, ou com a mistura de ambos em qualquer proporção. De lá para cá, os sistemas “flexfuel” evoluíram. Novas tecnologias têm aperfeiçoado os sistemas e já antecipam o que se pode esperar dos carros bicombustíveis em um futuro nem tão distante.
A evolução dos veículos “flexfuel” tem, entre suas significativas melhorias, o aumento da taxa de compressão dos motores. Há quem considere que os modelos com taxas mais altas, em torno de 12,5:1, como o Volkswagen Fox 1.0 Flex ou o Ford Fiesta 1.6 Flex, representam uma “segunda geração” da “espécie”, que já “nasceram” bicombustíveis. Para Carlos Henrique Ferreira, assessor técnico da Fiat, o aumento da taxa de compressão foi um ganho que surgiu em conjunto com outras mudanças no motor a gasolina. “Também houve o tratamento das peças para receber o álcool e a evolução da central eletrônica, que identifica o combustível”, avalia.
A taxa de compressão, bem como outros benefícios observados nos carros “flex” mais recentes, são conseqüência da evolução das centrais eletrônicas e do desenvolvimento de componentes como o sensor virtual de combustível, que substituiu o sensor “físico”. De acordo com o engenheiro mecânico Vicente Lourenço, diretor de engenharia Powertrain da General Motors, essas novidades proporcionam um melhor controle da injeção de combustível, o que, por sua vez, permite que se trabalhe com taxas de compressão mais altas. “Essas melhorias podem gerar motores com incremento de potência e torque e com economia do consumo de combustível”, garante.
Se o aumento da taxa de compressão já é uma realidade, a próxima novidade a ser embarcada nos modelos bicombustíveis será o novo sistema de partida a frio. Herança dos antigos carros a álcool, o velho tanquinho de gasolina que permite que o carro dê a partida nos dias com temperaturas abaixo de 15 ºC deverá, em breve, fazer parte do passado. Segundo Fernando Damasceno, gerente de programas da Magneti Marelli, o novo sistema de partida com álcool deverá estar nos veículos já em 2006. “O novo sistema sabe quando o veículo está abastecido só com álcool e quando a temperatura está muito baixa. Ele então aquece o álcool e o veículo parte com o álcool aquecido”, explica.
Os sistemas “flexfuel”, no entanto, ainda esbarram em problemas cotidianos. Entre eles, as montadoras e fabricantes de componentes são unânimes em apontar um grande inimigo comum: o combustível adulterado. Essa adulteração vai desde a gasolina com mais de 25% de álcool na mistura até água e sujeira no álcool vendido nas bombas. Ao mesmo tempo em que buscam criar inovações tecnológicas, os engenheiros das companhias têm que apresentar soluções imediatas para esses problemas. “O combustível adulterado aumenta o desgaste dos componentes. A gente tem procurado melhorar os filtros para reduzir o impacto ao usuário”, valoriza Fábio Souza Ferreira, gerente de desenvolvimento de produto da Bosch.
Problemas à parte, os sistemas bicombustíveis já trouxeram inovações tecnológicas e devem evoluir ainda mais nos próximos anos. O primeiro veículo tricombustível – aí incluído o gás natural veicular, além do álcool e da gasolina -, o Chevrolet Astra Multipower, já está disponível no mercado nacional desde o ano passado e vende cerca de 130 unidades mensais. Mas Fernando Damasceno aposta em um futuro com a combinação de tecnologias, como a turbo compressão e uma taxa de compressão variável. “Isso vai permitir um melhor aproveitamento da tecnologia flex, principalmente quanto ao consumo de combustível”, acredita o gerente de programas da Magneti Marelli. (por Alexandre Coelho – Auto Press)