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A ética ambiental nas usinas

Até pouco tempo, as empresas tratavam os impactos ambientais gerados por suas atividades “externalizando negativamente o efeito ambiental”. Ou seja: os custos das ações que afetavam a natureza eram impostos às pessoas externas às transações entre produtor e consumidor do produto poluente. As argumentações para tal iniciativa geravam em torno do comprometimento da lucratividade, conseqüentemente, da competitividade.

Muitas decisões dos agentes econômicos com relação à questão ambiental ainda hoje decorrem da sua racionalidade econômica. Apesar da existência no País de uma legislação ambiental rigorosa, criteriosa e vanguardista, sua aplicabilidade vem enfrentando dificuldades de implementação, tendo em vista a fragilidade no quadro de recursos humanos e financeiros encontrados nas instituições públicas responsáveis por sua fiscalização.

Por outro lado, o modelo burocrático implementado na gestão das organizações públicas há tempo vem dando suporte às suas rotinas e decisões. A centralização do poder decisório nos escalões mais altos das organizações, geralmente distantes do local onde ocorre a demanda, ou a visão fragmentada do processo e a acomodação do funcionário, decorrente da limitação e partição das tarefas que lhe são atribuídas, configuram-se exemplos.

Ainda assim temos observado que o setor público brasileiro tem tentado acompanhar as mobilizações e decisões, irreversíveis em nível global, em torno da questão ambiental, pelo aprimoramento da regulamentação de meio ambiente, revertendo as ameaças e os danos efetivos ambientais em custo direto para as empresas.

Assim, em função da legislação ambiental e de “pressões” exercidas pelos mais diversos setores, como sociedade civil organizada, Ministério Público e órgãos ambientais, o fato é que, juntamente com os cálculos de risco, no processo de tomada de decisão de implantação de empreendimentos os empresários estão incluindo a variável ambiental. Esse novo posicionamento, que exige das empresas a adoção do moderno conceito de gerenciamento ambiental, impõe à alta administração da organização a obrigatoriedade de iniciar processos de diagnóstico ambiental, estabelecimento de metas, objetivos e planos direcionados às ações essenciais na área socio-ambiental.

Ademais, o gerenciamento ambiental feito de forma correta, ética e responsável, ao contrário do que alguns imaginam, traz muitos benefícios econômicos e estratégicos para as empresas. Dentre eles, a melhoria da imagem institucional; a melhoria das relações com órgão governamentais, comunidade e grupos ambientalistas; o acesso facilitado às linhas de financiamento; a economia de custos decorrentes da redução de desperdícios antes não imagináveis (lembrando que economia também significa o controle para evitar desperdícios); e a redução de multas e penalidades por poluição ou não-adequação à legislação ambiental, entre outros.

Conclui-se, portanto, que a formação de uma consciência ética ambiental é a única alternativa para aquelas empresas que tratam com descaso seus problemas ambientais. Afinal, elas tendem a incorrer em custos elevados com multas, sanções legais, além da perda de competitividade em um mercado cada vez mais preocupado com a qualidade de vida e processos produtivos em harmonia com o meio ambiente.

PDSc Roberto Roche

Consultor Ambiental

www.robertoroche.com.br