A volatilidade do dólar e as flutuações no mercado internacional de petróleo têm trazido desafios significativos ao setor energético brasileiro, especialmente para o segmento sucroalcooleiro.
Amance Boutin, consultor da Argus, em entrevista, destacou as principais implicações dessas dinâmicas econômicas, bem como as estratégias que o setor tem adotado para mitigar seus impactos.
Segundo Boutin, a volatilidade do dólar, que chegou a ser um ponto crítico no início de janeiro, recuou para o segundo plano diante da estabilização da cotação próxima a R$ 6. No entanto, novos pacotes de sanções internacionais e a instabilidade nas cotações de petróleo continuam a pressionar os preços dos combustíveis.
“Esse aumento de preços alimentado por fatores externos cria turbulências, mesmo com o câmbio mais domado”, afirma.
Defasagem dos preços de combustíveis
O consultor destaca que a defasagem entre os preços domésticos e internacionais dos combustíveis apresenta nuances importantes.
O diesel, que praticamente não sofreu reajustes em 2024, tem um impacto inflacionário direto, levando a Petrobras a evitar aumentos significativos. Por outro lado, a gasolina, menos sensível à inflação e com alternativas como o etanol, recebeu ajustes mais visíveis.
“Congelar o preço da gasolina gera um represamento que afeta o preço do etanol, especialmente em um cenário onde o governo tenta incentivar combustíveis renováveis. Há um equilíbrio delicado que precisa ser mantido”, observa Boutin.
O mix de produção das usinas
A escolha entre a produção de açúcar e etanol nas usinas é fortemente influenciada pelas disparidades de preços.
Atualmente, o açúcar oferece margens mais atrativas, incentivando a maximização dessa produção.
“Com a defasagem atual de cerca de R$ 0,42 por litro entre o preço internacional e o praticado pela Petrobras, a preferência pelo açúcar se mantém”, explica o consultor. Ele também destaca que muitos contratos de longo prazo já fixados pelas usinas reforçam essa dinâmica.
Transição energética e futuro do etanol
A transição energética traz novas oportunidades e desafios. A produção de combustíveis sustentáveis, como o SAF (combustível de aviação sustentável), aumenta a demanda por etanol, mas impõe questões relacionadas a custos elevados de reprocessamento.
Boutin acredita que o Brasil possui capacidade de suprir essa demanda, mas será necessário equilibrar oferta e preços.
“A implementação de programas como o ‘Combustível do Futuro’ cria um cenário positivo para o setor de biocombustíveis, mas requer ações consistentes para garantir que esses avanços se concretizem”, afirma.