O mercado de açúcar em NY fechou a semana [04 a 08/08] em queda em todos os meses, entre 9 e 13 dólares por tonelada, devolvendo parte dos ganhos da semana anterior e deixando os traders cada vez mais apreensivos. O ambiente nas empresas é de incerteza quanto à trajetória dos preços. É extremamente desgastante traçar uma política de hedge quando se tem um mercado que oscila 300 pontos em apenas 20 pregões, ou que sobe um dia e no outro derrete.
Na semana passada, por exemplo, em três dias consecutivos, a oscilação de preços (entre a máxima e mínima do dia) superou os 100 pontos. Em mercados com tal performance, o que é certo num dia passa a ser errado no dia seguinte. E a estratégia vitoriosa de uma manhã pode virar um cadafalso na sombria tarde que se aproxima. Em momentos como esse, o livro de cabeceira recomendado é “A Arte de Deglutir Batráquios”.
Fique de olho no seguinte: a queda abrupta que ocorreu na segunda-feira passada foi em função de um derretimento geral das commodities (milho, soja, trigo, gás natural, petróleo) que afetou também o açúcar, mas a mínima vista na segunda-feira representou, na verdade, uma oportunidade de compra valiosa, pois os preços na sexta fecharam num patamar melhor. Ou seja, será que o mercado consegue cair mais? Por outro lado, é bom não esquecer que o recente estouro de preços foi alimentado – ao que se supõe – por uma massiva cobertura de posições vendidas a descoberto por parte de alguns fundos. De qualquer modo, o mercado está se consolidando nesses níveis.
Existe uma dicotomia entre o preço do primeiro mês de vencimento e os demais. O primeiro reflete a situação do mercado físico e é afetado pela real equação da oferta e demanda do mercado à vista, e também é mais suscetível às posições dos fundos. Os demais meses, principalmente os de vencimento mais longo, refletem a conjuntura de longo-prazo (óbvio) e a percepção do mercado (leia-se investidores, hedgers, produtores, processadores, etc) à luz dos fatos de hoje, de como os preços deverão se comportar lá na frente. Em outras palavras, o mercado acredita que os preços serão mais remuneradores em 2009/2010 e 2010/2011, porque o etanol está se distanciando do açúcar em termos de retorno, fazendo com que as usinas produzam o máximo que puder de etanol.
Alguns limitadores da alta podem ser listados: fixação de preços por parte de produtores de outros países (Tailândia) que estão contentes com os níveis de preço atuais ao redor de 15 centavos de dólar por libra-peso; o fluxo de dinheiro para as commodities está diminuindo e alguns fundos estão reduzindo a exposição que possuem nos portifólios; e uma eventual correção do real em relação ao dólar.
A volatilidade histórica de 20 dias está em incríveis 52,5%. Vendas de opções têm trazido dor de cabeça para os traders que terão que esperar o tempo passar para que o aumento da volatilidade inesperada possa compensar a deterioração do valor tempo. Esta semana a volatilidade implícita das opções subiu 2%. Enquanto isso, explicações são dadas sobre as chamadas de margem advindas do aumento da volatilidade.
A máxima recente de 14,69 centavos de dólar por libra-peso, no dia 1º de agosto, com o dólar cotado pelo BC a 1,5593 equivale a R$ 26,27 por saca. Há um ano, NY estava a 10,28 centavos de dólar por libra-peso e o real negociava a 1,8866, equivalente a R$ 22,24 por saca. Parece que hoje a remuneração é melhor, mas lembre-se que o custo de produção subiu, o preço dos fertilizantes tiveram alta de 140%, o frete (interno) em dólares subiu e o pior de tudo: os descontos alargaram.
Produtores devem ficar atentos e ser disciplinados na hora de fixarem preços aproveitando eventuais subidas repentinas do mercado. Talvez uma fence (compra de put (opção de venda) e venda de call (opção de compra)) a custo inicial zero pode ser uma boa estratégia. Mas, mais importante, não perca oportunidades no dólar que devem estar a caminho.
Mudando de assunto, o contrato de açúcar na BM&F está na UTI, o que é lamentável, pois se trata de instrumento que serviria muito bem para as empresas consumidoras principalmente. Soja e milho estão “bombando” na BM&F, porque o contrato agrada compradores e vendedores. Gostaria de aproveitar esse espaço para fazer uma enquete junto aos leitores: qual sua sugestão para melhorar o contrato de açúcar na BM&F?