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A China quer muito a tecnologia dos outros

Entrevista, Arthur Kroeber: Editor da China Economic Quarterly. É editor da China Economic Quarterly e diretor da consultoria Dragonomics desde 2002. Entre 1992 e 2002, foi correspondente da Economist Intelligence Unit para a China e o Sul da Ásia. Ele começou a trabalhar na Ásia em 1987, como jornalista especializado em economia, escrevendo sobre a China, a Índia e outros países.

Semana passada, uma delegação de Xangai visitou o Brasil e apontou o etanol como uma oportunidade de cooperação entre Brasil e China. Podemos desenvolver projetos conjuntos de pesquisa e desenvolvimento, disse Liu Jin Ping, vice-presidente do Conselho de Desenvolvimento do Investimento Estrangeiro de Xangai, que participou de evento.

Para Arthur Kroeber, editor da newsletter China Economic Quarterly, é difícil e leva tempo ir além das exportações de commodities para o mercado chinês. Ele vê a possibilidade de parcerias, que precisam ser negociadas com todo o cuidado. Os chineses não gostam de importar coisas e querem muito absorver a tecnologia dos outros, disse o especialista em China, que participa de evento do Instituto Fernand Braudel de Economia Mundial, em São Paulo. A seguir, trechos da entrevista.

Quais são as oportunidades para o Brasil no comércio com a China?

É possível ir além da venda commodities básicas, mas é difícil e leva tempo. É preciso trazer alguma coisa para a mesa que eles querem. Por exemplo, uma coisa que faria muito sentido econômico para o Brasil é vender etanol à China. O Brasil é o produtor mais eficiente, tem uma tecnologia estabelecida e existe capacidade de produção aqui. A China tem dificuldades em aumentar a importação de petróleo. Eles poderiam tentar produzir etanol de milho domesticamente, mas não conseguiriam produzir milho suficiente e seria menos eficiente. Apesar de fazer muito sentido, os chineses não gostam da idéia de importar.

Por quê?

Se pudessem, os chineses gostariam de produzir todo o etanol. Mas não faz sentido. Não conseguiriam produzir uma grande quantidade de matéria-prima, seja milho ou árvores para etanol de celulose. No longo prazo, se eles estiverem realmente interessados, precisarão fazer parcerias. A questão que se coloca para o Brasil, já que é difícil exportar diretamente para a China, seria a criação de projetos conjuntos em outros países, como os da África, capazes de produzir cana. Existem muitos riscos. Se derem a tecnologia direto para a China, eles podem pegá-la e tirá-los do negócio. Explorar essas oportunidades é uma tarefa de longo prazo, que consumiria bastante tempo.

Como o senhor vê a China como competidor do Brasil?

Essa é uma questão para indústrias de todo o mundo. A China é muito competitiva na fabricação e avança na cadeia de valor, produzindo bens cada vez mais sofisticados. A única solução para isso é estabelecer uma base de produção na China. Isso não quer dizer, necessariamente, transferir toda a produção para lá. As indústrias mais sofisticadas usam a China como parte de sua estratégia. Mas quem não estiver lá, mesmo minimamente, não terá a visão do que a China está fazendo. É fácil investir no país. Todas as vantagens que as empresas chinesas têm, como custos baixos de mão-de-obra, estão disponíveis a empresas estrangeiras. Acho que a questão que se coloca a governos de países como o Brasil é como criar políticas que permitam às empresas aproveitar as vantagens da China e manter parte da operação local, como centros de desenvolvimento. Não sou especialista em indústria brasileira, mas, pelo que sei, os impostos são altos e o mercado de trabalho, mais rígido do que deveria. Para competir com a China, alguma desregulamentação é necessária.

Até que ponto as estatísticas chinesas são confiáveis?

Existem problemas. Os números estão se tornando mais confiáveis do que há 10 anos, mas ainda existe muita influência política. É preciso usá-las com bastante cuidado.

Quem é:

Arthur Kroeber

É editor da China Economic Quarterly e diretor da consultoria Dragonomics desde 2002.

Entre 1992 e 2002, foi correspondente da Economist Intelligence Unit para a China e o Sul da Ásia.

Ele começou a trabalhar na Ásia em 1987, como jornalista especializado em economia, escrevendo sobre a China, a Índia e outros países.