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A chance para um exemplo de paz

Hoje já é lugar comum comentar a perplexidade e a sensação de vulnerabilidade e desproteção de tomou conta de todos nós com o ataque às torres de World Trade Center. Uma sensação esquisita nos pegou a todos de surpresa. Cada um a sua maneira, cada um com uma intensidade. Será que somos capazes de imaginar o que sentem os americanos?

E agora, passada a catarse, pessoas já se perguntam quais os efeitos dessa tragédia para Brasil. Efeitos sociais e políticos mas, principalmente, econômicos já que os fatos ocorreram no coração financeiro do mundo. Em relação ao setor sucroalcooleiro, vieram me perguntar quais as implicações diretas do terror e da guerra que se aproxima e que já pode ter começado quando este texto for publicado.

Na cabeça, podemos dizer que o açúcar na Bolsa de Nova Iorque passou de 7,87 no dia do ataque para 6,54 quinze dias depois. Uma perda de R$ 29,3 por tonelada e que resulta em um número astronômico se multiplicado, por exemplo, por um milhão das sete milhões de toneladas de açúcar que exportamos anualmente. Já o dólar, que estava na casa dos R$ 2,70 no dia do ataque, chegou a ultrapassar os R$ 2,80 no auge da crise. Essa era a realidade até a data em que escrevia este artigo, mas só no futuro podemos desenhar com clareza um quadro mais geral e que está sempre atrelado à economia americana.

Por outro lado, se o mundo todo se preocupa com os EUA, fontes seguras me garantem, e eu me recuso a acreditar, que o presidente George W. Bush, o mesmo que têm feito declarações infelizes sobre o meio ambiente e empréstimos para países em desenvolvimento, fez sua primeira viagem internacional apenas há pouco, quando teve que cumprir compromissos diplomáticos na Europa. Não é muita surpresa já que cerca de 70% dos americanos, mesmo tendo oportunidade, nunca deixaram seu país e sabem muito pouco sobre o mundo. E talvez mais de 90% deles jamais sonhou, em se pesando os filmes de Hollywood, que um fato desses pudesse acontecer. Mas, quem conhece bem sabe que o espaço dedicado pela imprensa americana às questões internacionais é mínimo.

No nosso lado, do lado dos brasileiros e dos países em desenvolvimento, que somos agredidos economicamente o tempo todo, esperamos ao menos um resultado positivo de toda essa situação: que se crie oportunidade para reflexão. E que desta análise se possa clarear a real situação do comércio mundial. Países em desenvolvimento, com setores agrícolas importantes e essenciais para suas frágeis economias, travam há anos uma guerra econômica com contra barreiras de importação, impostas principalmente por países do Nafta e da União Européia.

Mas se nem a CIA, aparelho tido como o mais sofisticado e implacável do mundo, mostrou provas contra o verdadeiro cérebro da carnificina, não somos nós que podemos especular sobre motivos, resultados ou cenários futuros; pelo menos eu não me considero apto. Contudo, persistindo com o otimismo no qual costumo me apoiar, além das reflexões sobre as distorções nas barreiras de exportações, gostaria de sugerir, se me fosse lícito, que fosse construído no lugar das torres um mausoléu em homenagem às vítimas. Se eu pudesse, pediria que os US$ 40 bilhões liberados para a guerra e a recuperação da área do World Trade Center, compusesse um fundo das potências internacionais que poderia financiar, a fundo perdido (que na verdade não é perda e sim lucro) os setores sociais de forma a fomentar uma economia auto-sustentável para países paurérrimos como alguns da África, América e Ásia, como próprio Afeganistão. Seria, sem dúvida, um exemplo de civilidade e um grande legado à humanidade.

Mas como realmente existe sede de vingança, a “América” deveria proporcionar aos afegãos todas as informações com as quais temos sido bombardeados diariamente. Com suas cavernas e ruínas equipadas com televisores e computadores os fundamentalistas poderiam finalmente ver as cenas do terror ou se entupir de más notícias que circulam o globo. De alguma forma, fechar as bocas das cavernas e abrir a enclausurada mente dos fundamentalistas Afegãos para que eles também possam sentir um pouco da aflição pela qual passamos.

Maurilio Biagi Filho é presidente do Conselho Superior de Meio Ambiente e Infra-Estrutura da Fiesp