Mercado

A biotecnologia a serviço dos canaviais

A necessidade de buscar variedades resistentes às pragas que atacam as lavouras de cana-de-açúcar e de proporcionar o aumento da produtividade dos canaviais levou o Grupo Votorantim a investir pesado, por volta de R$ 25 milhões, na instalação de uma empresa de biotecnologia voltada para o setor sucroalcooleiro, a Canavialis. A empresa, que atua no mercado há dois meses, na pesquisa e desenvolvimento de variedades de cana e na área de serviços para as usinas, planeja investir na instalação de uma estação experimental de 100 hectares na região de Araçatuba para o cultivo de variedades de cana.

“O setor sucroalcooleiro está em franca expansão e como existia uma lacuna no desenvolvimento de biotecnologia, houve o interesse em investir nesta área”, afirma o diretor geral da Canavialis e Alellyx, outra empresa do Grupo Votorantim, que desenvolve pesquisas de laboratório das culturas de laranja e eucalipto — a Alellyx, inclusive, foi quem anunciou a descoberta de um novo vírus que causa a morte súbita nos citros.

D Andrea esteve em Araçatuba na semana passada para apresentar a Canavialis a cerca de 70 diretores e gerentes agrícolas das usinas da região e falou dos planos da nova empresa para o noroeste paulista. A Canavialis, afirmou ele, tem interesse em instalar uma estação experimental nesta região devido ao crescimento do setor de açúcar e álcool. “Mas ainda não temos data prevista para isso”, disse. Apesar do interesse pela região, ele destaca que a empresa atuará em todo o Brasil.

Um dos trabalhos da empresa, que tem sede em Campinas, é o desenvolvimento de variedades de cana para solucionar problemas específicos existentes nos canaviais. Como exemplo, ele cita os migdolos, praga comum nos canaviais, e a floração, que compromete a produção de açúcar na planta. “O papel da Canavialis será o de desenvolver variedades mais resistentes a pragas e também capazes de controlar problemas como a floração, tudo por meio da biotecnologia”, afirmou.

Cruzamento – Ele explica que a empresa combina a biotecnologia, que consiste em utilizar o seqüenciamento genético da planta, com o melhoramento clássico, feito a partir da observação visual. “Por meio do conhecimento genético fazemos cruzamentos combinando genes de plantas diferentes para conferir outras qualidades à planta, buscando o melhoramento”, completa.

Como exemplo, ele cita uma planta com bom teor de açúcar, mas não resistente ao vento. “Nesse caso, a saída é fazer o cruzamento dessa planta com outra que tenha boa resistência ao vento”, exemplifica.

Além da Canavialis, outras empresas também atuam no desenvolvimento de variedades de cana-de-açúcar, como o IAC (Instituto Agrônomico de Campinas), que produz a variedade IAC; a Cooperçúcar, que desenvolve a SP e a UFSCar, que produz a RB. A Canavialis deve lançar a sua primeira variedade, que será batizada de CV, em 4 anos, afirma D Andrea.

A empresa atua ainda na produção de mudas indexadas. “Nossa proposta é fornecer mudas livres de doenças para que a renovação dos canaviais seja feita a partir de material saudável, que garanta boa produtividade”, afirmou. Por ano, 1/6 dos canaviais é renovado.

Hoje, afirma o diretor geral da Canavialis, 90% das lavouras de cana têm raquitismo, doença que provoca a redução do teor de açúcar nas plantas. “Daí a importância de se introduzir plantas saudáveis”, reitera ele. A empresa possui uma biofábrica (fábrica de plantas) em Conchal, na região de Campinas, com capacidade para produzir 2 milhões de plantas/ano.

Outro foco de atuação da empresa é o controle fitosanitário dos canaviais.