Mercado

A auto-suficiência do petróleo e os preços dos derivados

No final do ano de 2005, a boa notícia que a Petrobrás está prestes a produzir 1,8 milhão de barris/diários de petróleo, com um avanço de 17% na comparação com o igual período de 2004. A fim de comemorar a superação da meta, será estruturada uma grande campanha de publicidade pelo governo.

Desta forma, o Brasil deverá alcançar a auto-suficiência na produção do combustível fóssil e permanecer mais distante das flutuações do mercado internacional. Ademais, poderá estabelecer uma política de preços para os derivados do petróleo, baseada no efetivo custo da extração, transporte e do refino. Numa paisagem sem monopólio e ingerência do Estado, a Petrobrás conseguirá, finalmente, a alforria que tanto reivindica. Há fundamentados receios que o alcance dessa privilegiada situação ensejará ao governo a adoção de práticas demagógicas em relação aos mencionados preços, mui especialmente do gás de botijão (GLP), do diesel e da gasolina, mormente às vésperas das novas eleições, com prejuízos à rentabilidade da Petrobrás e dos seus acionistas.

Com o escopo de combater a inflação, o governo mantém os preços dos combustíveis defasados. Essa situação levou, certa feita, o ex-ministro, Mário Simonsem, a comentar: “Combater a inflação, compelindo os preços, equivale a tentar curar a febre pela destruição dos termômetros”.

Os derivados do petróleo mais consumidos no Brasil: o óleo diesel e a gasolina tiveram, desde o ano de 2001, duas alterações nos seus preços, com um aumento acumulado de 30%.

Por outro lado, o valor do barril do petróleo (159 litros) iria variar entre 40 e 70 dólares, com a atual estabilidade em torno de 60 dólares.

É importante ressaltar que o óleo bruto, extraído de alguns campos, não apresenta a mesma qualidade do petróleo leve consumido majoritariamente pelas refinarias nacionais. Em decorrência, a nossa principal empresa do Estado continuará importando petróleo leve e, principalmente, o óleo diesel, usado como combustível (40 bilhões de litros anuais) em motores do ciclo diesel. O diesel é fundamental para uma Nação, que transporta, praticamente, toda a sua produção e habitantes com veículos movidos com esse subproduto do petróleo, vindo a constituir o calcanhar de Aquiles do nosso sistema. Desgraçadamente, o Brasil, há muito tempo, deu as costas para o transporte eletrificado.

No tocante às reservas internacionais recuperáveis (viáveis economicamente), teríamos petróleo para as três décadas e reservas privadas (barril de petróleo a US$ 200), suficientes para mais sete décadas, considerando os atuais usos. Quanto aos americanos do norte, consomem 25% da produção mundial e a manutenção dos elevados ritmos de crescimento da economia mundial denota que a demanda petrolífera continuará considerável. Desta forma, os EUA levariam apenas 11 anos para esgotar suas atuais jazidas, enquanto a China 19 anos. Consoante as fontes mais confiáveis, o volume total de petróleo no mundo é estimado em 1,0 trilhão de barris, 600 bilhões encontram-se no Oriente Médio. Com as recentes descobertas na Bacia de Campos, a 4,2 mil metros de profundidade, teríamos um acréscimo nas reservas brasileiras, atualmente em torno de 14 bilhões de barris de óleo equivalente (somado ao gás natural) o suficiente para cerca de 20 anos de consumo.

No concernente ao refino do petróleo, entre nós, as onze unidades da Petrobrás já estão, com toda a sua capacidade exaurida (2,1 milhão de barris/diários). A auto-suficiência no refino também é perseguida, quando o consumo dos derivados já se encontra em torno de 1,8 milhão de barris/diários. Graças à parceria celebrada com a Venezuela, a empresa estatal deseja processar, a partir de 2011, 200 mil barris diários, com o emprego de petróleo de densidade pesada nacional, no Recife mesmo porque a última refinaria construída pela Petrobrás data de 1980.

O Brasil apresenta-se, novamente, diante de um novo desafio: assegurar a auto-suficiência do petróleo e do refino, mantendo a lucratividade da Petrobrás e capacidade de investimento ou congelar os preços dos derivados, em 2006, a fim de obter dividendos políticos.