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Mercado “vira” e usina cogita adiar moagem de cana nova

É inusitado para esta época do ano, mas duas usinas de açúcar e álcool do centro-sul do país ainda moem cana produzida na safra 2007/08, cuja colheita terminou em dezembro. Com excesso de matéria-prima em plena entressafra, tanto a Dail, de Ibaiti (PR), quanto a Campestre, de Penápolis (SP), continuam com as máquinas ligadas, e o trabalho segue firme.

No mercado, porém, toda esta atividade “fora de hora” é motivo de preocupação. No calendário do segmento, o início da nova safra de cana da região, a 2008/09, está agendado para começar em abril, e o fato de existir oferta “velha”, e de ela ainda ser crescente, pode significar problemas mais adiante.

Nesse contexto, as usinas que mantêm bons estoques de açúcar e álcool – e elas não são tão poucas assim – cogitam adiar o início da moagem de cana nova. Afinal, se está difícil desovar esses estoques, o que fazer com produto novo? O fato é que o mercado não está uma maravilha. A oferta cresceu, o preço do álcool recuou e o mercado de açúcar se recupera mais lentamente do que gostariam os usineiros.

Mesmo alguns novos projetos de usinas que deveriam entrar em operação neste ano devem ficar para depois. Fontes do segmento dizem que isso pode acontecer mesmo com empreendimentos em estágio já avançado, com infra-estrutura agrícola e industrial pronta.

Até o fim de 2007, a União da Indústria da Cana-de-Açúcar (Unica) indicava que 31 novas unidades entrariam em operação em 2008. De fato, 29 devem cumprir o cronograma. Ninguém fala abertamente sobre os prováveis adiamentos, mas eles refletem uma realidade de preços diferente daquela de um ano atrás, quando o etanol ganhou as manchetes como principal biocombustível alternativo ao petróleo.

“Se pudéssemos, esperaríamos mais um pouco”, diz Newton Salim Soares, diretor-superintendente da Equipav, que toca um projeto que deverá dar a partida em junho. A empresa tem mais dois no forno – um para 2010, em Chapadão do Sul (MS), e o outra para 2011, em Chapadão do Céu (GO) -, mas, dependendo das condições do mercado, esta última será postergada.

Maior companhia sucroalcooleira do país, a Cosan, com 17 usinas, garante que não vai adiar o início da moagem da nova safra. Mas, segundo seu vice-presidente, Pedro Mizutani, algumas usinas correm o risco de deixar cana em pé caso chova no final da moagem. No total, a Cosan deverá processar 42 milhões de toneladas de cana, 7% a mais que na safra anterior.

Quaisquer adiamentos chamarão mais a atenção neste ano devido à s antecipações promovidas nas últimas temporadas. A estratégia ganhou força a partir de 2003, por causa das disparadas dos preços do álcool em entressafras de magros estoques, e teve o apoio do governo. Daí o mês “oficial” de reinício dos trabalhos hoje ser abril, não mais maio.

“Há 15 anos, a safra na região [centro-sul] começava em julho. Começou a ser antecipada por conta das variedades de cana mais precoces”, lembra Antonio de Padua Rodrigues, diretor técnico da Unica.

Com os atuais bons estoques, os preços do álcool não param de cair mesmo na entressafra e com um consumo doméstico mensal recorde (cerca de 1,5 bilhão de litros). E já há quem tema o futuro das exportações, já que o volume disponível para embarques no centro-sul tende a subir de 2,8 bilhões (em 2007/08) para 3,1 bilhões de litros.

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