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Mercado de açúcar é afetado por chuvas em período seco

O mercado de açúcar vive um cenário atípico com os participantes de olho nas condições climáticas mais chuvosas que já afetam colheita de cana justamente em um período de clima tipicamente mais seco, apontam analistas.

A produção e o escoamento da commodity no Brasil também estão sendo afetados.

Nos primeiros meses deste ano, foi o clima seco que afetou os canaviais justamente quando as plantas mais precisavam de água para o desenvolvimento.

“É um mercado de clima… normalmente para cana não se teria este problema nesta época, porque o inverno geralmente é mais seco e este ano está fugindo do padrão”, disse o sócio diretor da Archer Consulting, Arnaldo Luiz Corrêa.

O clima chuvoso em um período normalmente seco em áreas produtoras do Centro-Sul está impedindo a colheita e paralisando a moagem na temporada iniciada no final de abril.

Até 1º de junho, a Unica (União da Indústria da Cana-de-Açúcar) registra uma queda de quase 30% no volume de cana moída na safra 2012/13.

Corrêa, da Archer Consulting, estima que até a segunda quinzena de junho usinas do Centro-Sul devem perder entre 12 a 13 dias de produção. Ele ressalta que, diante de uma previsão de mais chuvas nos próximos dias, este atraso pode ser ainda maior.

No curto prazo, o efeito da chuva é uma maior disponibilidade de etanol, porque normalmente quando as usinas retomam as operações produzem primeiro o combustível por conta da condição da cana.

Reflexo disso é que os preços do etanol hidratado –usado nos carros flex– vem recuando no mercado interno. O índice semanal Cepea/Esalq deste combustível já recuou cerca de 7% desde o início de maio, para 1,0818 o litro.

Mesmo assim, Corrêa pondera que isto pode ocorrer somente no curto prazo e não deve alterar o mix de produção entre açúcar e etanol nesta temporada.

“A usina pode até produzir etanol quando retorna (operação após a chuva), mas vai priorizar mesmo é o açúcar na safra, porque ele remunera melhor”, explica.

A Raízen, joint venture entre Cosan e a Shell e maior produtora de açúcar e etanol do país, disse na semana passada que já prevê elevar a oferta do combustível nesta temporada.

O tempo chuvoso no Brasil, maior produtor global, tem influenciado o mercado em Nova York, por vezes limitando quedas ou mesmo atuando como fator altista.

PRODUTIVIDADE

Depois da retração na moagem de cana no último ciclo, a primeira em uma década, os analistas consideram que a oferta de cana poderá ser maior que no ano anterior, mas a produtividade industrial –medida pelo teor de açúcar na cana (ATR)– seria menor.

A seca no começo do ano afetou o desenvolvimento da cana, enquanto a chuva entre maio e junho tem reflexos no rendimento dos canaviais. No acumulado da safra até o final de maio já houve queda de 1,2% no ATR, que ficou em 114,90 kg, segundo levantamento da Unica.

O sócio-diretor da Job Consultoria, Júlio Maria Borges, ressalta que junho também está muito chuvoso. “A chuva de agora compensa em parte o período seco: melhora o rendimento agrícola (toneladas de cana por hectare), mas piora o ATR (por tonelada de cana)”, disse.

Já o representante da Unica em Ribeirão Preto, Sérgio Prado, importante área produtora no interior paulista, pondera que normalmente o ATR é mais baixo no início da safra. “Mas esta é uma questão que vamos ter de acompanhar”, disse.

Tradicionalmente, o ATR aumenta à medida que a safra se desenvolve e atinge o pico entre agosto e setembro. Mas a própria Unica avalia que, se a atual condição climática persistir, o ATR já pode ser inferior ao inicialmente previsto, de 140 kg.

EFEITO NOS PORTOS

A chuva recentemente também vem afetando o escoamento da produção de açúcar neste começo de temporada, gerando filas de navios em Santos e Paranaguá, dois importantes portos do país, e até cancelamentos de carregamentos previstos no porto paulista.

Esta situação faz tanto indústria como participantes dos mercados de açúcar ficarem de olho nas previsões climáticas. A grande questão é saber sobre a intensidade do fenômeno climático El Niño, caracterizado por um aquecimento anormal das águas do Pacífico, afetando o regime de chuva em regiões tropicais.

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