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Mecanização nos canaviais pode cortar 60% dos empregos, informa Cepea

Estudo do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) mostra que a mecanização dos canaviais pode eliminar de 243,2 mil a 316,3 mil empregos de um total de 510,6 mil ligados diretamente à produção da cana, ou de 48% a 62% da mão-de-obra empregada. O impacto, segundo o estudo, é apenas na etapa da colheita.

Realizado por um grupo de pesquisadores da Universidade de São Paulo (Esalq-Cepea), o trabalho avaliou os impactos da mecanização e do aumento de produtividade na colheita de cana sobre a geração de empregos nos setores produtores de cadeia de cana no Brasil, nas cinco regiões do País – Norte, Nordeste, Centro-Oeste, Sudeste e Sul.

O impacto do desemprego atingiria os postos de menor escolaridade (trabalhadores que possuem três anos de estudo), segundo informações do Cepea. Ao mesmo tempo, haveria um crescimento relativo da ocupação de pessoas com níveis de qualificação mais elevados.

Para compor o trabalho, a equipe utilizou informações próprias e do IBGE. Em 1997, o grau de mecanização na colheita da cana era de 5% para a região Nordeste e de 20% para a região Sudeste.

Segue abaixo na íntegra o trabalho do Cepea:

Foram montados três cenários que consideram diferentes hipóteses com relação ao processo de mecanização e de aumento de produtividade na colheita da cana para melhor fundamentar a pesquisa.

No cenário I, assume-se que a mecanização seja de 50% para região Nordeste e de 80% para as demais regiões, sendo que não há aumento de produtividade. No cenário II, idem ao cenário I com relação à mecanização, só que agora, todas as regiões sofrem, além da mecanização, um aumento de 20% na produtividade da colheita manual e mecânica. E no cenário III, idem ao cenário II para as regiões Norte, Centro-Oeste, Sudeste e Sul, enquanto que para a região Nordeste haveria um aumento de produtividade de 140% na colheita manual, e de 20% na produtividade da colheita mecânica.

Foram estimados os empregos gerados de forma direta, indireta, e induzida, e por nível de qualificação da mão-de-obra, dividido em seis grupos: nenhum e menos de 1 ano de estudo; de 1 a 3 anos de estudo; de 4 a 7 anos de estudo; de 8 a 10 anos de estudo; de 11 a 14 anos de estudo; e 15 ou mais anos de estudo. Os resultados apontam claramente a tendência de perda de importância dos setores produtores de cana-de-açúcar, álcool e açúcar na geração de empregos, ao longo do tempo, quer seja de forma direta, indireta ou induzida. Nota-se também que, simultaneamente, ocorre um aumento do nível de qualificação da mão-de-obra empregada.

O fato destes setores gerarem ao longo do tempo um volume menor de emprego e utilizarem uma mão-de-obra mais qualificada é condizente com o processo de desenvolvimento das economias modernas, ou seja, uma diminuição na participação das pessoas empregadas pelos setores primário e secundário e um aumento desta participação no setor terciário da economia.

Para o Brasil, do total dos empregos liberados a partir da mecanização da colheita da cana, dependendo do cenário, é de 57% a 79% sobre os nos trabalhadores com nenhum ou menos de 1 ano de estudo, de 64% a 80% no grupo dos trabalhadores entre 1 e 3 anos de estudo, de 26% a 31% aos trabalhadores com 4 a 7 anos de estudo, e de 2,2% a 6% no caso dos trabalhadores de 8 a 10 anos de estudo. Simultaneamente, há um pequeno aumento no número de trabalhadores com 11 a 14 anos de estudo e com 15 ou mais.

Nos três cenários, no caso da região Nordeste há uma diminuição no número de trabalhadores com até 3 anos de estudo e um aumento nos outros níveis de qualificação. Para a região Sudeste, a diminuição acontece para os trabalhadores com até 7 anos de estudo, sendo que nos outros níveis ocorre um aumento no total de trabalhadores. As mudanças ocorridas nas regiões Norte, Centro-Oeste e Sul se dão de modo que suas estruturas se aproximem da implantada na região Sudeste.

Após estas mudanças no emprego, observa-se que antes do processo de mecanização, 68,01% da mão-de-obra ocupada na produção da cana, média Brasil, possuía até 3 anos de estudo, após o processo de mecanização este número cai para 51,36% no cenário I; para 48,30% no cenário II; e para 36,86% no cenário III. O nível de qualificação que passa a concentrar um maior número de trabalhadores, é a faixa de 4 a 7 anos de estudo, com 36,69% no cenário I, 38,74% no cenário II, e 47,32% no cenário III.

Devido à diminuição do emprego direto na colheita da cana e na conseqüente diminuição da massa salarial deste setor, observa-se uma queda no emprego indireto e induzido gerado nos setores produtores de cana-de-açúcar, álcool, e açúcar.

Com respeito ao impacto da mecanização da colheita da cana sobre a variação do volume de emprego gerado de forma direta, indireta e induzida a cada R$ 1 milhão produzido pelo setor, contata-se que na produção da cana-de-açúcar, para o Brasil como um todo, há uma redução de 178,5 para 127,6 empregos no cenário I; para 121,3 no cenário II e para 113,4 no cenário III. Isto representa quedas de 28,5% a 36,5%, dependendo do cenário que estiver sendo considerado.

Para as regiões Norte, Nordeste, Centro-Oeste, Sudeste e Sul, as quedas variam respectivamente de 68,0% a 68,8%, 26,5% a 45,2%, 43,1% a 45,2%, 23,0% a 25,6%, e 45,0% a 46,4%. Como observado anteriormente, a maior redução no volume de emprego ocorre para os trabalhadores com nível de qualificação mais baixo.

Como não foi feita nenhuma hipótese sobre mudanças tecnológicas na produção de álcool, não há alterações no emprego direto gerado neste setor. As diferenças acontecem no emprego gerado de formas indireta e induzida. De forma indireta, há uma diminuição no total de emprego justamente porque ocorre uma redução da demanda por mão-de-obra para produzir a cana-de-açúcar que é o principal insumo utilizado na produção do álcool. Como se utiliza uma quantia menor de mão-de-obra indireta, a massa salarial gerada pelo setor é menor, o que significa um volume menor de recursos para o consumo das famílias, o que causa uma redução no emprego gerado de forma induzida.

Para o Brasil como um todo o emprego total gerado a cada R$ 1 milhão produzido de álcool cairia de 127,0 para 106,8 empregos no cenário I, para 104,3 no cenário II, e para 101,1 no cenário III. Ou seja, uma queda entre 15,9% e 20,3%. Para as regiões Norte, Nordeste, Centro-Oeste, Sudeste e Sul, as retrações foram respectivamente entre 41,5% e 42,0%, 15,1% e 25,7%, 18,7% e 19,6%, 12,2% e 13,7%, e 24,3% e 25,1%.

Da mesma forma que na produção do álcool, como não foi feita nenhuma hipótese sobre mudanças tecnológicas na produção de açúcar, não há alterações no emprego direto gerado neste setor. Conforme explicado, as diferenças acontecem no emprego gerado de forma indireta e induzida.

Para o Brasil como um todo, o emprego total gerado a cada R$ 1 milhão produzido de açúcar caiu de 149,9 para 128,2 no cenário I, para 125,5 no cenário II, e para 122,1 no cenário III. Ou seja, uma queda de 14,5% a 18,5%. Para as regiões Norte, Nordeste, Centro-Oeste, Sudeste e Sul, as quedas foram respectivamente entre 34,7% e 35,2%, 14,4% e 24,5%, 19,8% e 20,8%, 10,8% e 12,1%, e 23,9% e 24,8%. Em termos percentuais, dos três setores analisados, este é o que apresenta a menor queda percentual no volume total do emprego gerado. Tanto para a produção de álcool quanto para a de açúcar, em números absolutos, a diminuição maior de empregos a cada R$ 1 milhão produzido se dá no emprego indireto, para o Brasil como um todo e para cada uma das suas macrorregiões. E como observado anteriormente, a queda maior no volume de emprego ocorre nos trabalhadores com nível de qualificação mais baixo.

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