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Mais um ciclo de incertezas para as usinas do Centro-Sul

Se a última safra de cana no Centro-Sul do país, a 2011/12, encerrada em 31 de março, mostrou-se desafiadora para as empresas do segmento em virtude da quebra da produção e das margens apertadas diante da redução dos volumes de açúcar e etanol disponíveis para comercialização, o cenário para o ciclo 2012/13 também aponta para dificuldades.

É verdade que a tendência é de aumento da oferta canavieira; mas, em contrapartida, os preços de seus subprodutos estão menos atraentes e apresentam viés de baixa, o que exerce particular pressão sobre as companhias sucroalcooleiras com ações negociadas na BM&FBovespa – Raízen Energia (Cosan), Guarani (Tereos Internacional) e São Martinho.

O grupo São Martinho, considerado um dos que têm melhor desempenho operacional no mercado, anunciou ontem que obteve nos 12 meses da safra 2011/12 um lucro 11% menor, de R$ 126,6 milhões.

“Tivemos uma queda de 12% no volume de cana moída e de 20% na quantidade de açúcar na cana”, disse Fábio Venturelli, presidente da companhia. Ainda assim, afirmou ele, “foi o segundo maior lucro da nossa história”. No quarto trimestre do exercício que terminou em março, houve prejuízo de R$ 4,898 milhões.

As margens operacionais da São Martinho caíram nove pontos percentuais, de 47,3% em 2010/11 para 38,8% em 2011/12. Na mesma comparação, as margens da Raízen Energia recuaram de 33,4% para 30,8%, enquanto as da Guarani encolheram de 21,9% para 20%.

Para 2012/13, as três empresas abertas projetam aumento da moagem de cana depois de investimentos expressivos na parte agrícola de suas operações, mas as chuvas desde início de safra têm prejudicado a qualidade da cana.

“As unidades estão perdendo dias de safra. Quem não tiver boa capacidade industrial de moagem poderá ser obrigado a deixar cana ‘bisada’ [de um ano para outro] no campo “, afirmou Venturelli. Além disso, explicou, o nível de ATR (Açúcar Total Recuperável), que mede a quantidade de açúcar contida na cana, que estava bom, diminuiu com as chuvas.

Ainda assim, afirmou o executivo, estimativas conservadoras para a moagem do grupo São Martinho em 2012/13 apontam para 12 milhões de toneladas de cana, 13,2% mais que em 2011/12 (10,6 milhões). Assim, a produção de açúcar da empresa poderá crescer 16,3%, para 900 mil toneladas, e a de etanol tem potencial para aumentar 24,7%, para 377 milhões de litros.

Essas projeções consideram as participações acionárias de 50,95% que o grupo São Martinho detém na Nova Fronteira Bioenergia, de Goiás, e de 32,18% na Santa Cruz – Açúcar e Álcool, de São Paulo.

A Raízen Energia, por sua vez, prevê moer entre 52 milhões e 55 milhões de toneladas de cana na nova temporada, ante as 52,3 milhões de 2011/12. A Guarani estima processar 18,3 milhões de toneladas, um aumento de 13%.

Um dos problemas é que, em termos de remuneração, os preços do açúcar estão 19% mais baixos que no pico deste ano, registrado no fim de fevereiro, e apresentam viés de baixa porque as estimativas sinalizam mais um ano de superávit global da commodity e instabilidade no cenário macroeconômico mundial.

Ao mesmo tempo, a oferta interna e os preços do etanol continuam indefinidos. A expectativa do segmento era que o governo fosse aumentar os preços da gasolina, o que elevaria o valor do teto dos preços do etanol, que para serem competitivos devem equivaler a, no máximo, 70% dos preços do combustível fóssil.

A Petrobras confirmou o aumento da gasolina, mas o governo anunciou a retirada da Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (Cide) – R$ 0,091 por litro – sobre o combustível, o que evita altas nos postos e não favorece o etanol. Agora, o segmento aguarda uma eventual elevação da mistura de etanol na gasolina (ver Contexto).

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