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Mais etanol na gasolina não resolve a crise do setor sucroalcooleiro

Durante a cerimônia de lançamento do navio Sérgio Buarque de Holanda, em 09/07, o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, falou sobre a possibilidade de, pela enésima vez, o governo mudar o percentual da mistura do etanol anidro na gasolina C, que passaria dos atuais 20% para 25% (gasolina C = gasolina A, pura + etanol).

Como sempre, o governo em vez de dar um choque de gestão no setor de combustíveis, parte para uma solução simplória, tipo operação “tapa-buraco”, que não resolve nem o problema da Petrobras, tampouco do setor sucroalcooleiro. Em outros textos publicados por este Jornal do Brasil, mostrei que a solução para o setor passa, obrigatoriamente, por uma série de providências, que o governo federal insiste em “empurrar com a barriga”, obviamente para não contrariar a sua base aliada, os sindicatos e ao mesmo tempo fazer média com a população em ano eleitoral. Até parece que vivemos no melhor dos mundos no que diz respeito aos combustíveis, quando, na verdade, passamos por um momento extremamente difícil, como resultado da má gestão governamental.

Entre outras, a primeira providência a ser tomada é exigir que, em curto prazo, a indústria automobilística resolva de forma definitiva a eficiência dos motores que utilizam o etanol como combustível. Não é admissível que, após quase 40 anos do lançamento dos primeiros veículos a etanol, os mesmos continuem tendo um consumo 30% superior em relação aos que utilizam a gasolina.

O curioso de todo esse panorama é que nunca vi nenhuma autoridade ou mesmo empresários do setor sucroalcooleiro representados pela União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica) reclamarem dessa disparidade no consumo e exigirem melhor eficiência. O governo, sempre benevolente com a indústria automobilística, enquanto os outros setores industriais definham e a atividade cai mês a mês, faz de conta que o problema não é com ele; o negócio é vender automóveis e poluir o ar com mais gasolina. Esse dirigismo estatal na economia com o privilégio de setores escolhidos por sua capacidade de lobby é uma distorção econômica.

Do outro lado, o setor sucroalcooleiro pede menos impostos e mais incentivos – o que é justo e necessário –, mas não move uma palha para exigir que a indústria automobilística produza veículos mais econômicos. É preciso que a Unica seja mais atuante e exigente nas suas reinvindicações. Palestras, simpósios, congressos e discursos já mostraram que não resolvem, o negócio é partir para a ação firme e decidida em defesa do setor sucroalcooleiro.

O governo parece não se dar conta da enorme crise pela qual passa o setor de combustíveis como um todo. Qual é o resultado dessa indiferença estatal? A resposta é simples: o absurdo tabelamento, há mais de cinco anos, da gasolina e do diesel; a quase estagnação da produção de petróleo; e o enorme incremento das importações de derivados, notadamente a gasolina – em função do aumento de custo e diminuição da oferta do etanol – são os principais fatores que prejudicam a Petrobras e têm causado um monumental prejuízo à estatal, como perda de valor de mercado, lucro líquido muito abaixo do esperado, além, é claro, da sistemática perda de valor das ações da empresa – desde 01/01/2011 já caíram 34,55%, sendo que, desse total, 15,35% somente em 2012 (Petr3, 12/07, petrobras.com.br).

Se não bastasse todo esse prejuízo que está sendo causado à Petrobras, por quem deveria dela bem cuidar, parece que o governo quer destruir a bem sucedida indústria do etanol. O setor sucroalcooleiro que até 2008 vinha crescendo a taxas de 10% ao ano está encolhendo. Em 2008, foram 34 novas usinas; 2009, 10; 2010, 4; 2011, 4; e nenhuma para 2012. Para os próximos anos, não há previsão de entrada em operação de nenhuma nova usina (as greenfields). O setor está tão endividado (estima-se US$ 25 bilhões) que há várias usinas à venda e o índice de renovação dos canaviais está muito abaixo do necessário, o que já está provocando uma enorme redução na produção de cana por hectare e, por extensão, menor produção de açúcar e etanol.

O setor sucroalcooleiro anos seguidos investiu bilhões de dólares, continua gerando milhões de empregos diretos e indiretos, lutou (e venceu) contra as barreiras protecionistas para a entrada do etanol no mercado americano e, por fim, conseguiu que a Agência de Meio Ambiente norte-americana reconhecesse o nosso etanol de cana-de-açúcar como combustível avançado. É um absurdo que, essa, que é considerada por inúmeros cientistas e experts mundiais como a maior revolução energética dos últimos 100 anos – limpa e renovável –, para benefício do nosso país e para o mundo, esteja correndo sério risco de sobrevivência, sendo o governo federal o maior responsável por esta situação. Tendo em vista que o setor sucroalcooleiro tem que repassar os seus custos reais para o preço final e com os veículos que utilizam o etanol consumindo 30% mais do que aqueles que usam a gasolina subsidiada, esse combustível (o etanol) deixou de ser viável para o consumidor.

Qual o resultado dessa irresponsabilidade governamental? Como o etanol deixou de ser competitivo, a importação de gasolina simplesmente disparou. Vamos aos números. Entre 2009 e 2000 importamos um total de 3,595 milhões de barris (mb) a um custo de US$ 133,272 milhões. Entre 2012 (jan/mai,www.anp.gov.br) e 2010, esse número explodiu e importamos 27,721 mb pelos quais pagamos US$ 3,309 bilhões. Ou seja, em dois anos e meio importamos 7,7 vezes mais gasolina do que nos 10 anos anteriores com o agravante de ter gasto 25 vezes mais! A conta é simples, a média entre 2009/2000 foi de US$ 37,08/barril e entre 2012/2010, US$ 119,38/b. Há outro agravante: assim como a gasolina nacional, a importada também é subsidiada; um verdadeiro escândalo!!!

Somente aumentar o percentual do etanol na mistura com a gasolina não resolve os gravíssimos problemas do setor sucroalcooleiro e da Petrobras. O que se faz necessário é a fabricação de veículos com melhor eficiência no consumo, menor carga tributária e uma gestão estatal que siga as leis do mercado, ou seja, preços reais, sem subsídios.

*Humberto Viana Guimarães, engenheiro civil e consultor, é formado pela Fundação Mineira de Educação e Cultura, com especialização em estruturas de concreto, geração de energia, saneamento e materiais explosivos.

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