JornalCana

Lula quer montar “tropa de choque pró-etanol”

O governo brasileiro decidiu contra-atacar de maneira organizada as críticas de europeus e norte-americanos à produção de etanol e à expansão do programa de biocombustíveis. Aproveitando a viagem de quatro dias à Holanda e à República Tcheca, iniciada nesta quarta-feira, 9, em Haia, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva rebaterá as críticas com uma acusação: ele dirá, em Amsterdã, na quinta-feira, diante de uma platéia de empresários, que os países ricos estão levantando “supostos riscos ambientais e sociais” para criar uma nova barreira de proteção comercial contra os países pobres e emergentes.

Na viagem entre Brasília e Haia, Lula conversou com ministros e decidiu que, na volta ao País, montará um grupo de trabalho (GT) para estabelecer uma estratégia de combate às críticas.

A “tropa de choque pró-etanol”, que vai envolver pelo menos quatro ministérios – Agricultura, Meio Ambiente, Desenvolvimento e Relações Exteriores – e uma rede de embaixadas, vai contactar organizações não-governamentais (ONGs) e a imprensa local dos países mais críticos. Além de lançar um “livro branco do combustível limpo”, essa “tropa” aproveitará seminários, palestras e contatos com a mídia para falar dos “benefícios do etanol”.

Preconceitos

A senha para o trabalho vai ser dada pelo próprio presidente, ao dizer que o etanol não pode ser combatido com base “em preconceitos”. Lula se refere às três críticas mais contundentes dos europeus: 1) o questionamento sobre os benefícios do etanol no combate ao aquecimento global, alegando que a plantação de cana pode estimular a devastação de florestas; 2)a responsabilização dos biocombustíveis por parte da expressiva alta dos preços das commodities agrícolas, o que vem elevando a inflação em todo o mundo; 3) o perigo de que a produção de etanol reduza a produção de alimentos e aumente a fome nos países pobres. No caso brasileiro, há ainda a acusação de que as plantações de cana empregam trabalho escravo.

Lula dirá que as pastagens estão no centro-sul, em áreas, portanto, que já estão plantadas e bem longe da Amazônia; que as plantações para a produção de biocombustíveis ocupam apenas 1% das terras agricultáveis do Brasil, o que tem pouco ou nenhum impacto na segurança alimentar. Informará, ainda, que a substituição parcial da gasolina por etanol evitou a emissão de 644 milhões de toneladas de CO² nos últimos 30 anos e gerou 6 milhões de postos de trabalho.

Para o ministro Miguel Jorge (Desenvolvimento), que integra a comitiva de Lula, as críticas têm uma explicação básica: “A partir do momento que você passa a ser eficiente e ocupa mercados, os seus concorrentes contra-atacam. É o protecionismo clássico dos países europeus contra a agricultura dos países em desenvolvimento”.

Na opinião do ministro, há um “movimento orquestrado”, o que exige uma “reação rápida”. “No caso do Brasil, não há essa questão de substituir a produção de alimentos por produção de cana, que é o que nós usamos para o etanol no Brasil. Nós temos enormes quantidades de terras não usadas e que não são cultivadas ainda. Portanto, nós não estaremos substituindo nada”, disse Miguel Jorge.

Sobre as condições de trabalho escravo, o ministro reconheceu que ocorreram problemas em São Paulo, maior produtor de álcool, mas que são caracterizadas como trabalho precário, e não escravo. “Alguns problemas pontuais infelizmente aconteceram no Brasil e foram usados, até com certa competência, para atacar todo um processo. Casos isolados, em uma fazenda ou outra, são uma preocupação do governo brasileiro, que quer acabar com isso”, disse o ministro. (Tânia Monteiro)

Inscreva-se e receba notificações de novas notícias!

você pode gostar também
Visit Us On FacebookVisit Us On YoutubeVisit Us On LinkedinVisit Us On Instagram