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Lula copia Vargas; PT retoma “queremismo”

Em um discurso marcado pelo tom ufanista, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem no Palácio do Planalto que “nenhum país do planeta Terra tem as condições que tem o Brasil para competir no combustível alternativo”. Citou a campanha “O Petróleo é Nosso”, criada na década de 50 pelo então presidente Getúlio Vargas (1883-1954) e que culminou na criação da Petrobras, para dizer que o slogan hoje é “o biocombustível é nosso”.

Em São Paulo, a Executiva Nacional do PT já começou uma “campanha de mobilização nacional” para defender a candidatura de Lula à reeleição. A campanha foi batizada de “queremista” pelo petista Humberto Costa, ex-ministro da Saúde.

O “queremismo” foi um movimento que pedia a permanência de Getúlio Vargas na Presidência, iniciado em 1945. Enquanto partidos políticos eram organizados e candidatos eram lançados, Vargas preferia passar uma imagem dúbia: não afirmava nem negava sua candidatura nas eleições.

Lula, que costuma se referir ao ex-presidente em seus discursos, tem agido de forma parecida. Chegou a afirmar ser candidato em entrevista a radialistas no fim do ano passado, mas recuou e disse ter se enganado.

Ontem, a exaltação das potencialidades do Brasil foi o fio condutor de todo o discurso do presidente na cerimônia de assinatura dos primeiros contratos de compra de biodiesel. Também houve espaço para auto-elogios ao governo e a seus parceiros.

O clima era de empolgação. Antes de Lula discursar, o ministro de Minas e Energia, Silas Rondeau, quase lançou a candidatura de Lula. “O senhor já é o candidato (…) O senhor está sendo consagrado pelo povo com o selo social do combustível”, disse o ministro, em referência ao fato de agricultores familiares plantarem o produto usado no biodiesel.

Os primeiros contratos foram assinados ontem com a Petrobras, sendo que esse lote está estimado em R$ 50 milhões e vai beneficiar 65 mil famílias. “Entre a descoberta do professor Expedito [Parente], a data que ele patenteou o biodiesel e a transformação disso em combustível de verdade passaram-se 22 anos. E em apenas dois anos, com o trabalho extraordinário das pessoas que estão aqui, mas também da ministra Dilma [Rousseff] e do ministro Roberto Rodrigues, nós, com o apoio do Congresso, conseguimos transformar o produto numa nova matriz energética do nosso país na área de combustível.”

À tarde, para alunos do projeto Rondon, Lula afirmou que “ninguém vai conseguir competir com o Brasil na área do combustível renovável, tanto na questão do álcool como na do biodiesel”.

Lula utilizou a cerimônia do biodiesel para aproveitar a volta da discussão sobre combustíveis renováveis, reavivada pelo discurso do presidente dos EUA, George W. Bush, que falou na busca por uma dependência menor do petróleo e colocou parte da atenção internacional no Brasil.

Nos últimos meses, o presidente fala no biodiesel sempre que tem a oportunidade. Ontem, de bom humor, Lula chegou a brincar na hora da fotografia da assinatura dos contratos: “Daqui a cem anos, os bisnetos de vocês vão estar vendo essa foto”, disse, sentado na mesa e fora da fotografia. “Hoje é um daqueles dias que você se levanta e diz: valeu a pena. Primeiro, ser brasileiro; segundo, estar vivendo este momento que nós estamos vivendo e, terceiro, poder viver este momento como presidente da República”, falou.

À tarde, no evento na Base Aérea com cerca de 530 alunos que embarcaram para a Amazônia, Lula retomou o tema biodiesel após elogiar a UNE (União Nacional dos Estudantes) pelo “papel extraordinário” para que o projeto Rondon fosse retomado.

Vestido com uma camiseta do projeto por cima da camisa, Lula tirou foto com alunos, ganhou uma camiseta da Universidade Federal de Minas Gerais e foi recebido com um pequeno cartaz dizendo “Lula – Bis em 2006” de estudantes de Juiz de Fora.

À tarde, o presidente viajou para Belo Horizonte. Visitou obras na UFMG e reafirmou que seguirá comparecendo a inaugurações pelo país enquanto não se “colocar como candidato”. Lula foi recebido na capital mineira por um grupo de cerca de 200 militantes.

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