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Lula: ambiente, terrorismo e fome exigem ações urgentes

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou ontem que, além do desafio do aquecimento global, a fome, a exclusão social, o terrorismo e o narcotráfico, exigem ações urgentes de toda a comunidade internacional. Lula discursou aos participantes da Reunião de Cúpula do G-8 em Gleneagles, na Escócia.

– Para conter as mudanças climáticas, precisamos rever padrões de produção e de consumo. É preciso intensificar a transferência, a preços acessíveis, de tecnologias aos países em desenvolvimento, onde estão as comunidades pobres e os ecossistemas mais vulneráveis ao efeito-estufa – completou o presidente. Brasil, China, Índia, México e África do Sul participam como convidados da reunião ampliada sobre a questão ambiental.

Lula também chamou atenção para a prioridade que o Brasil tem dado aos investimentos em energias renováveis. O presidente brasileiro citou o uso de biocombustível como um dos programas pioneiros no País. “Estamos promovendo a integração da agricultura familiar na produção do óleo de mamona, insumo para o Programa do Biodiesel. Somos líderes mundiais na produção de etanol. Meu governo está empenhado também na redução substancial do desmatamento, principal fonte das emissões brasileiras.”

– Devemos fazer esforços para frear as mudanças climáticas, mas ressaltamos o direito ilimitado ao desenvolvimento e a necessidade de dispor de tecnologias apropriadas a preços acessíveis – disse Lula. Ele afirmou aos outros mandatários do G-5 que outro ponto importante é a diversificação da matriz energética e a prioridade para energias renováveis, como o etanol e o biodiesel.

Lula pediu também a criação de um novo modelo de cooperação internacional que facilite a transferência de tecnologias para lutar contra a mudança climática. Eu um discurso pronunciado na reunião do G-5 (integrado por Brasil, China, Índia, México e África do Sul), o presidente insistiu que “temos responsabilidades comuns, mas diferenciadas” com os países desenvolvidos.

Presidente não chegou a se encontrar com tony blair

O presidente esteve reunido com o primeiro-ministro da Índia, Manmohan Singh; o primeiro-ministro do Japão, Junichiro Koizumi; e o chanceler da Alamanha, Gerhard Schroeder. O primeiro ministro britânico, Tony Blair, não chegou a se encontrar com Lula, pois voltou a Londres tão logo foi informado da série de atentados na capital.

Ao saber dos atentados, o presidente condenou os ataques e apresentou condolências ao chefe do governo britânico. “O Brasil expressa sua mais firme condenação a mais essa deplorável ação terrorista”, disse Lula em nota oficial. O presidente brasileiro, que teria uma reunião com Blair que teve de ser cancelada, disse ter apresentado seus pesares ao premiê.

As explosões ocorridas ontem em Londres esvaziaram a reunião. Apesar de sua ausência, os líderes do G-8 continuam em Glenealges, dando prosseguimento às conversações previstas na agenda.

As manifestações anti-G8 nas ruas de Gleneagles – cidade onde está sendo realizada a reunião de cúpula dos sete países mais industrializados do mundo e a Rússia – ficaram mais intensas com a chegada dos governantes. Um forte esquema policial foi montado e várias ruas da cidade estão bloqueadas, principalmente as que dão acesso ao hotel onde se realiza a reunião.

As quatro viagens que fez à África foram citadas pelo presidente Lula, que também defendeu a combate à pobreza como um dos focos da reunião do G-8. “Nosso compromisso com a África é mais do que um posicionamento político. Está inscrito em nossa alma”, ressaltou.

Ao falar do Haiti, Lula destacou o papel do Brasil, que comanda a força de paz da Organização das Nações Unidas (ONU) naquele país. “Renovo aqui o apelo para que a comunidade internacional não se omita na reconstrução haitiana.”

Depois de uma viagem de 12 horas, o presidente chegou ontem por volta das 6 horas (horário de Brasília) ao hotel Gleneagles, para a reunião de cúpula anual dos líderes do G-8. Acompanhado do chanceler Celso Amorim, Lula foi recebido pelo primeiro-ministro escocês, Jack McConnell.

O presidente também elogiou a iniciativa dos líderes do G-8 de perdoar a dívida externa dos países mais pobres. Segundo Lula, “O Brasil, na medida de nossas possibilidades, vem cancelando dívida de países da América Latina e da África, pedindo muitas vezes, como contrapartida, que realizem investimentos em educação”.

Líderes pedem maior estabilidade nas economias

No encontro com os representantes do G-8 o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e os delegados dos outros quatro países em desenvolvimento convidados para a reunião do G-8 defenderam também “maior estabilidade e previsibilidade” na economia mundial. O chamado G-5 da reunião (Brasil, China, Índia, México e África do Sul) pediu que os líderes do G-8 (Alemanha, Canadá, Itália, Estados Unidos, França, Grã-Bretanha, Japão e Rússia) promovam o multilateralismo, aumentem a cooperação Norte-Sul e trabalhem pela distribuição eqüitativa e globalizada de renda.

Além disso, insistiram sobre as preocupações com o meio ambiente e o fim dos subsídios agrícolas. “As medidas de apoio doméstico à agricultura em países industrializados que distorcem o comércio devem ser substancialmente reduzidas, e todas as formas de subsídios à exportação precisam ser eliminadas em uma data determinada”, denunciaram, com vistas à Rodada de Doha.

Os representantes dos países em desenvolvimento destacaram também que a persistência da pobreza representa grande entrave ao desenvolvimento sustentável e, neste contexto, reivindicaram a aplicação efetiva dos acordos assinados no Consenso de Monterrey para alcançar os chamados Objetivos do Milênio das Nações Unidas, entre os quais a redução à metade, até 2015, dos atuais níveis de pobreza.

“Devemos preservar a coerência, a cooperação, a determinação e o sentido de responsabilidade compartilhada (…) por todos os membros da comunidade internacional, se quisermos resultados positivos”, escreveram em um relatório comum apresentado durante a Cúpula de Gleneagles.

Além de Lula, integram este grupo de nações em desenvolvimento os presidentes mexicano, Vicente Fox; o chinês, Hu Jintao, e o sul-africano, Thabo Mbeki; e o primeiro-ministro indiano, Manmohan Singh. Eles se reuniram com os líderes do G-8 e também com representantes de instituições internacionais como a ONU, o FMI, o Banco Mundial e a Organização Mundial do Comércio (OMC).

Bush: há consenso sobre mudança climática

O presidente George W. Bush disse ontem que existe consenso sobre as questões ligadas à mudança climática entre os membros do G-8, apesar de ter reiterado sua oposição ao protocolo de Kyoto, que tem o objetivo de reduzir as emissões de gases com efeito estufa, que provocam o aquecimento do planeta. Para Bush, agora é preciso avançar para uma “era pós-Kyoto”.

– Houve desacordos no passado, mas graças ao trabalho do primeiro-ministro (Blair) existe um consenso sobre o fato de que devemos avançar juntos – acrescentou Bush. “A maneira de progredir juntos é reconhecer que existe um problema, o que faço desde que sou presidente, e que há uma forma de abordá-lo de maneira construtiva”.

Bush saudou a presença no G-8, na condição de convidados, de países em desenvolvimento, como Brasil, Índia, China, México e África do Sul, que não estão obrigados pelo protocolo de Kyoto a reduzir as emissões de gases poluidores. Além disso, afirmou que qualquer acordo sobre a luta contra a mudança climática do planeta deve ser ampliado a estes países.

– A maneira mais construtiva de enfrentar o problema na nossa perspectiva é incluir não apenas os Estados Unidos nas discussões, mas também os países em desenvolvimento, como Índia e China – disse. Maior poluidor do planeta, os Estados Unidos foram o único país do G-8 que não ratificou o tratado de Kyoto.

Em vigor desde fevereiro passado, este protocolo pretende uma redução global de 5,2% das emissões de gases de efeito estufa no mundo até 2012, numa comparação com os números de 1990.

Bush lembrou que desde sua chegada ao poder em 2001 reconheceu que os gases de efeito estufa são nocivos e que é preciso atuar. “Eu estou convencido de que as tecnologias permitirão o crescimento da economia mundial e, ao mesmo tempo, ser mais sábios para proteger o meio ambiente”.

– O objetivo dos Estados Unidos é neutralizar para reduzir as emissões de gases de efeito estufa com o tempo – destacou Bush, que, no entanto, não apresentou um calendário para sua proposta.

Chirac espera anúncio de um acordo importante

O presidente da França, Jacques Chirac, anunciou ontem que a cúpula do G-8, chegará a um “acordo importante” sobre mudança climática, “apesar de não ir tão longe como desejávamos”. Durante entrevista à imprensa, o presidente francês explicou que o principal mérito deste acordo será “restabelecer o diálogo” entre os sete países do G-8 que ratificaram Protocolo de Kyoto e os Estados Unidos.

– Isso é um sinal importante na direção dos países emergentes – afirmou Chirac, confirmando que um comunicado do G-8 sobre o assunto será publicado hoje, ao término da cúpula. No texto não serão mencionados objetivos específicos, deu a entender Chirac.

Por sua vez, o representante pessoal do chanceler alemão, Gerhard Schroeder, Bernd Pfaffenbach, disse que os chefes-de-Estado e de governo do G-8 aprovaram as grandes linhas da declaração e um plano de ação sobre “mudança climática, energia e desenvolvimento sustentável”.

Segundo Pfaffenbach, houve acordo em tentar reduzir os gases que causam o chamado efeito estufa, promovendo uma tecnologia mais limpa e uma energia mais eficiente. Ele acrescentou que o texto faz referência também ao Protocolo de Kyoto, mas sem dar cifras concretas sobre metas a alcançar.

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