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Louis Dreyfus faz no país investimentos de US$ 800 milhões

O grupo francês Louis Dreyfus nunca investiu tanto no Brasil quanto nesta década. Após alguns anos de projetos menos ambiciosos e vendas relativamente estagnadas, a multinacional francesa deverá consolidar aportes superiores a US$ 800 milhões no país entre 2004 e 2009, como parte de uma estratégia global que tende a reduzir sua dependência das operações de trading, sua força-motriz, e conferir peso a atividades com receita recorrente.

Em linha com esse novo enfoque, a LDCommodities, principal braço do conglomerado, já aplicou US$ 290,3 milhões para expandir a frente brasileira entre 2004 e 2006 e tem aprovados mais US$ 516,3 milhões para investir de 2007 a 2009. Os gastos para os próximos três anos já têm endereço definido, e a empresa prospecta novas oportunidades, o que deverá elevar o valor previsto.

Presente no Brasil desde o início do século passado, o grupo francês, até hoje familiar, passou a ser mais conhecido por aqui em 1942, quando comprou a Comércio e Indústrias Brasileiras Coinbra. Fortaleceu-se com a marca Coinbra, chegou a ser conhecida como Coinbra-Dreyfus e hoje, como Louis Dreyfus Commodities do Brasil, responde por pouco mais de 10% da receita global da múlti e por 40% de seus ativos industriais.

Com os investimentos desta década, não é difícil que tais fatias aumentem. Mas, aparentemente, a questão não está na lista de preocupações do presidente da subsidiária brasileira, Kenneth C. Geld. Há 20 anos na empresa, o executivo diz que está empenhado, sim, em participar ativamente do processo de integração do grupo em plataformas globais de negócios.

Atualmente presente em 53 países e dono de uma receita total da ordem de US$ 20 bilhões por ano, o Louis Dreyfus foi estruturado de forma descentralizada, o que começou a mudar nos últimos anos. Quando Robert Louis Dreyfus tornou-se presidente e CEO do grupo, em 2006, a linha foi reforçada, e no novo direcionamento o papel do Brasil ganhou ainda mais relevância – principalmente nos segmentos sucroalcooleiro e de citros.

Em tempos de redução de subsídios ao açúcar na União Européia, a área de açúcar e álcool recebeu US$ 162,1 milhões dos investimentos aplicados pela multinacional no país entre 2004 e o ano passado, e deverá absorver US$ 309,7 milhões do valor total programado para entre 2007 e 2009. O grupo já conta com três usinas no Brasil, e no momento constrói uma nova unidade em Rio Brilhante, no Mato Grosso do Sul.

“Estamos diante de uma irreversível tendência mundial de substituição do uso do petróleo, conjugada com uma política de transferência de renda para o setor agrícola para garantir a oferta de etanol. E o Brasil, onde já temos know-how, produz o álcool mais barato do mundo, competitivo, nas nossas contas, com o preço do petróleo a partir de US$ 40 o barril”, avalia Geld.

Além da usina sul-mato-grossense, a LDCommodities vem ampliando suas áreas de cana ao mesmo tempo em que também investe em melhorias e ampliações das usinas existentes. Com os aportes, a capacidade de moagem do grupo no país deve chegar a 11 milhões de toneladas por safra em 2009, ante 4,7 milhões em 2006, e a área cultivada com cana deve passar de 57.135 para 117.581 hectares na mesma comparação.

A receita do segmento no Brasil, que só perde para a dos negócios de soja, deverá alcançar US$ 505 milhões em 2007, ante os US$ 434,9 milhões apurados no ano passado, de acordo com balanço preliminar. O faturamento da soja tende a superar US$ 1,1 bilhão neste ano, 15% mais que em 2006, e nessa frente a principal ação em andamento é a duplicação da fábrica localizada em Alto Araguaia, no Mato Grosso.

“Em linha com diretriz de maximizar estruturas, fechamos três das seis esmagadoras que tínhamos em 2003, expandimos as outras três e hoje processamos um volume maior de soja”, diz Geld.

Produto da equação que reúne combustíveis e soja, o biodiesel também está nos planos da LDCommodities Brasil, mas neste caso ainda não há projeto definido. “O mercado ainda está crescendo de forma fragmentada. De qualquer forma, já temos uma refinaria com capacidade para 500 toneladas por dia anexa à unidade de Alto Araguaia e entraremos quando houver oportunidade”, diz Geld. Na Argentina e nos EUA a LD já produz biodiesel a partir da soja.

Enquanto espera a chance de investir em biodiesel, a busca por melhorias, maximizações e sinergias avança também na área de citros, que tem na exportação de suco de laranja o carro-chefe. “Estamos muito animados nessa frente, na medida que o Brasil ocupará, permanentemente, o espaço deixado pela Flórida [cujos pomares de citros foram duramente afetados por furacões em 2004 e 2005]. Nosso foco é investir em São Paulo”, afirma.

A LDCommodities já tem 8 milhões de árvores de laranja plantadas no Estado, 50% em parceria com citricultores, foi aprovado um projeto para mais 5 milhões nos próximos dois anos – 60% delas também em parceria -, e além disso continuam as negociações com fornecedores terceirizados para um reajuste de preços. Com laranja, a área cultivada deverá passar de 18.612 hectares, em 2006, para 147.304 em 2009.

Nas operações de trading, as perspectivas de Kenneth Geld também são positivas. No algodão, por exemplo, a LD tem boas possibilidades de assumir a liderança nas exportações em 2007, com mais de 150 mil toneladas – “há cinco anos sequer constávamos no mapa dos exportadores” -, enquanto no café o objetivo é praticamente dobrar a receita neste ano, para US$ 100 milhões.

Logística recebe aportes sobretudo para agilizar o transporte de cana nas propriedades em que opera, e outra novidade está no forno: a estréia no segmento de fertilizantes, com vendas de produtos acabados produzido a partir de matérias-primas importadas. “O grupo reconhece que o Brasil ganhará cada vez mais espaço no mercado mundial de commodities. Por isso mostrou-se disposto a fazer esses investimentos”, conclui o executivo.

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