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Limites à cana

Decreto que veta a expansão do cultivo da gramínea nos biomas da Amazônia e do Pantanal autoriza plantio em 204 dos 399 municípios do Paraná

Está proibida a expansão da área de cana-de-açúcar em Aba­­tiá, Colorado, Nova Olímpia, No­­va Santa Bárbara, Pinhalão, Santo Antônio do Paraíso, São Jerônimo da Serra e Tapejara. Os oito municípios, que estão entre os 142 que plantam cana atualmente no Paraná, foram vetados pelo Zoneamento Agro­eco­lógico da Cana-de-açúcar (ZaeCana). Juntos, eles cultivam 38,3 mil hectares, 6% da área estadual, estimada acima de 600 mil hectares.

Outros quatro municípios paranaenses teriam que reduzir a área plantada em até 64%. É o caso de Porecatu, no Norte do estado, que hoje tem 13,7 mil hectares cobertos com cana e, conforme o Zae, só pode cultivar 4,9 mil. Considerando também Paranacity, Jacarezinho e Bom Sucesso, que também estão nessa lista, 13,6 mil hectares estariam desabilitado! s, o equivalente a 2% da área do estado.

Etanol

Lavouras sustentáveis para alavancar as exportações

Hoje, a cana se estende por 633,9 mil hectares no Paraná. Quase 90% dessas lavouras são moídas para fabricar açúcar e álcool. O restante é destinado à produção artesanal (de cachaça, por exemplo) ou é área de reforma. Na safra 2008/09, cuja moagem deve se estender até dezembro no estado, a indústria espera colher 44,9 milhões de toneladas de cana em 555 mil hectares, volume que deve render 2,5 milhões de toneladas de açúcar e 2,1 bilhões de litros de álcool. Na comparação com o ano anterior, a oferta de açúcar seria 2% menor, mas a de álcool 14% maior, conforme estimativas da Associação de Produtores de Álcool e Açúcar do Estado do Paraná (Alcopar).

O mercado externo, principal válvula de escape da produção excedente, porém, caminha na contramão: está muito mais açucareiro. Entre janeiro e agosto de 2009, as exportações paranaenses de açúcar aumentaram 17% e! m volume e 12% em receita, enquanto os embarques de álcool encolheram, respectivamente, 44% e 12%. O fraco desempenho coloca o combustível no 20º posto na pauta de exportação do Paraná. O açúcar é o 4º. Produzido em 121 países, o açúcar tem mercado consolidado. É, afinal, uma commodity com padrões internacionais de qualidade e preços formados em bolsas de derivativos (as mais importantes são Londres e Nova York), façanha ainda distante para o álcool, ou, agora, etanol.

A mudança da nomenclatura oficial do produto, anunciada no mês passado, começa a valer no início de novembro, conforme determinação da Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). A agência justificou a medida argumentando que “o uso do nome etanol reforçará a posição internacional do produto brasileiro”. Na ocasião, o diretor técnico da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica), Antonio de Pádua Rodrigues, declarou que a substituição da palavra álcool por etanol nas bombas “vai facilita! r as coisas para nossas empresas em termos de exportação, deixando claro que o produto brasileiro é exatamente aquele que vem sendo cada vez mais utilizado em várias partes do mundo”.

O zoneamento agroecológico da cana-de-açúcar é mais uma iniciativa nesse sentido, considera Disonei Zampieri, técnico especializado em cana-de-açúcar no Departamento de Economia Rural (Deral) da Secretaria Estadual da Agricultura e do Abastecimento (Seab). “Ao vetar o cultivo da cana na Amazônia e no Pantanal, atende a duas áreas extremamente sensíveis à opinião internacional”, explica. “O zoneamento responde a críticas internacionais ao acabar de uma vez com o mito da cana-de-açúcar na Amazônia”, concorda o diretor de comunicação corporativa da Unica, Adhemar Altieri.

Para o ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, o Zae vai reduzir a resistência à entrada do etanol brasileiro no mercado externo e dar maior competitividade ao produto. “Primeiro é bom para o Brasil, para o pulmão do tra! balhador e para o bioma e segundo porque garante a colocação do etanol brasileiro no mercado externo”. Para Minc, a decisão evitará barreiras comerciais e bloqueios ao nosso produto, facilitando a transformação do álcool em commodity. Mas nem todo mundo concorda. Para Altieri, o zoneamento é um passo importante para a conquista de novos mercados, mas ele ressalta que a consolidação do comércio global ainda depende de um longo e complicado processo de certificação. “Hoje, há mais de 15 processos de negociação no mundo. Como é que vamos certificar um produto com tantos modelos diferentes?” (LG)

No total, o zoneamento excluiria 51,9 mil hectares que hoje são ocupados pela cana no Paraná. Excluiria, no condicional, porque o Decreto 6961, que aprova o Zae, deixa de fora das novas regras as áreas de produção já consolidadas nos estados do Centro-Sul. Além do Paraná, São Paulo, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso e Goiás também são beneficiados.

Se todos os 142 munic! ípios paranaenses que já plantam fossem ampliar suas áreas até o limite previsto, o estado saltaria para 2,8 milhões de hectares de cana. Incluindo os outros 70 que hoje não plantam, mas que têm o cultivo autorizado e juntos podem plantar até 1,1 milhão de hectares, seriam 3,9 milhões de hectares no estado, área semelhante à cultivada por São Paulo na safra passada (3,85, segundo a Conab).

Mas isso dificilmente irá acontecer. Primeiro, porque o Paraná tem grande tradição no cultivo de grãos como soja milho, trigo e feijão (e um mercado já cativo). Por serem lavouras temporárias, dão mais flexibilidade de produção ao agricultor do que a cana, que é uma cultura semiperene, com ciclo médio de cinco anos. “O zoneamento não determina se haverá ou não expansão da cana no Brasil, apenas abre espaço para essa possibilidade. Funciona como um indutor, apontando claramente ao investidor quais as melhores áreas em cada estado”, explica o coordenador-geral de Açúcar e Álcool da Secretar! ia de Produção e Agroenergia (SPAE), do Ministério da Agricultura (Mapa), Cid Caldas.

Para isso, o Mapa dividiu o Brasil em áreas de baixa, média e alta aptidão ao cultivo da cana. Conforme os critérios adotados no ZaeCana, as regiões mais aptas ao cultivo da gramínea devem ter temperatura média anual de acima de 20ºC , produtividade superior a 60 toneladas de cana por hectare e risco de geada menor que 15%. No Paraná, 66% das áreas onde o plantio é recomendado recebem essa classificação.

No estado, é possível encontrar exemplos como o de Rolândia, que hoje cultiva 5,8 mil hectares plantados e pode aumentar essa área em até 272%, num total de 21,5 mil hectares, tudo em regiões de alta aptidão. No outro extremo, há casos como o de Rondon. Campeão paranaense em produção de cana, com quase 22 mil hectares cultivados atualmente, o município pode ampliar em 48% a extensão plantada, para 32,5 mil hectares, mas a maioria das áreas em que o plantio é permitido é classificada! pelo Mapa como de baixa aptidão. Há ainda exemplos como o de Umuarama, que hoje tem 7,9 mil hectares e pode chegar a até 112,3 mil, crescendo em áreas de alta, média e baixa aptidão.

Apesar das restrições, pouco muda o mapa da cultura no Paraná. A proposta do governo com o ZaeCana é proibir a expansão do cultivo nos biomas Pantanal, Amazônico e na Bacia do Alto Paraguai, o que afetará 92,5% do território brasileiro. As maiores áreas consideradas impróprias para cultivo estão acima do paralelo 24°S. O Paraná está localizado entre os paralelos 22 e 27°S.

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