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Ligados no bagaço da cana

Das destilarias de açúcar e álcool às indústrias e até a vida tumultuada dos shopping centers, o bagaço da cana de açúcar garante energia limpa ainda pouco conhecida do consumidor urbano, mas que avança entre as fontes de geração do insumo em Minas Gerais, com a perspectiva de se tornar uma das principais opções à luz que vem das hidrelétricas. Nos próximos cinco anos, R$ 2,5 bilhões serão aplicados pelas empresas do setor sucroalcooleiro no estado empenhadas em triplicar a potência instalada de energia elétrica à base dos canaviais. Se as projeções se confirmarem, serão 2.500 megawatts de potência em 2015, frente as 780 MW nesta safra (2010/2011).

Desse volume atual, as 18 usinas que, este ano, já se aproveitam da cogeração do bagaço de cana deverão vender 340 megawatts de energia excedentes, quase o suficiente para iluminar duas cidades como Uberaba, no Triângulo Mineiro. A meta é chegar a 1.700 MW comercializados fora das plantas industriais, ou seja, cerca de cinco vezes mais em 2015, quando o negócio será disputado pelo dobro de destilarias que, hoje, produzem além do açúcar e do álcool, nas projeções do Sindicato e Associação da indústria (Siamig/Sindaçúcar) de Minas.

Para chegar aos consumidores na cidade grande, a exemplo do Shopping Del Rey, um dos grandes empreendimentos de Belo Horizonte que entrou no mercado de energia renovável, o insumo produzido nas usinas de açúcar e álcool entra no chamado sistema interligado operado pela Cemig. A concessionária passa a ser responsável pelo transporte dessa energia, que é negociada no mercado livre, aquele em que consumidores até determinada tensão, como os shopping centers, podem escolher de quem vão comprar energia. Um dos benefícios é que tanto para a energia do bagaço de cana, quanto a eólica e das PCHs (pequenas centrais hidrelétricas) o comprador tem direito a descontos no uso do sistema de transmissão.

De acordo com o balanço energético do estado, relativo ao ano passado, divulgado este mês pela Companhia Energética de Minas (Cemig), 11,5% da demanda de energia têm a cana de açúcar como ponto de partida. Os dados se referem a 2008. Matérias-primas consideradas mais agressivas ao meio ambiente como o carvão mineral e seu derivados significam 13,8% do total. Não são só os usineiros que ganham com esse novo manancial de receita. Para se ter uma ideia do que representa essa potência de energia gerada nesta safra com o bagaço da cana, ela responde por 4% de toda a energia gerada em Minas, ainda nas contas da indústria sucroalcooleira.

As vantagens estão na geração de um insumo considerado limpo – com baixa emissão de gás carbônico – renovável e produzido na própria usina, que conta com licença ambiental ou tem condições de obter mais rápido e ao menor impacto sobre o ambiente a autorização dos órgãos ambientais, segundo o presidente do Sindaçúcar, Luiz Custódio Cotta Martins. “Há muitas tecnologias em desenvolvimento que virão. Já existem pesquisas de variedades da cana de açúcar com alto teor de fibras para geração de energia”, afirma. Uma das grandes novidades e a quem a natureza certamente vai agradecer são os estudos para geração de energia à base da palha da cana, que, por lei, não poderá mais ser queimada em Minas a partir de 2014. Toda a colheita nos canaviais terá de ser mecanizada.

Potencial Nas contas do presidente do Sindaçúcar, se todo o volume da palha disponível nesta safra fosse aproveitado pelas usinas, a energia gerada corresponderia a uma usina de Três Marias, da Cemig, localizada na Região Central de Minas. Cláudio Homero Ferreira da Silva, engenheiro de Tecnologia e Normalização da concessionária mineira, diz não haver dúvidas de que será ampliado dentro de cinco anos o potencial da energia do bagaço de cana que entra no sistema de transmissão da Cemig. “A empresa acompanha esse movimento, desenvolvendo projetos de pesquisa que estão associados conceitualmente à energia da biomassa. O ideal é que a tecnologia funcione para diversos segmentos, tanto para bagaço de cana quanto resíduos agrícolas e urbanos”, afirma.

O Shopping Del Rey informou ter se beneficiado de uma economia de 30% nos preços pagos, ao optar por comprar, por meio da Cemig, a energia produzida pela Usina Coruripe, do grupo alagoano Tercius Wanderley, que opera as unidades Campo Florido, Iturama e Carneirinho, no Triângulo Mineiro. Com um consumo de 17.850 megawatts/hora por ano, o centro de compras renovou o contrato de compra por mais cinco anos a partir do mês que vem.

A MATRIZ MINEIRA

Demanda de energia em Minas Gerais, conforme a fonte (*)

Petróleo, gás natural e derivados 33,1%

Lenha e derivados 26%

Carvão mineral e derivados 13,8%

Energia hidráulica 13,7%

Derivados de cana de açúcar 11,5%

Outras 1,9%

Fonte: Balanço Energético do Estado de Minas Gerais 2009/Cemig

(*) os números se referem a 2008

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