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Lavoura gaúcha tem perfil complementar

Diferentemente do modelo de monocultura do Centro do país, o assistente técnico estadual da Emater Alencar Rugeri tem claro que, nas propriedades gaúchas, a cana-de-açúcar deverá entrar como complemento. O objetivo não é substituir uma cultura consolidada, mas diversificar as fontes de renda. Regra que independe do tamanho do estabelecimento rural, porque a cultura se presta tanto para pequenas quanto para grandes áreas.

O custo para implantação da lavoura fica entre R$ 2,5 mil e R$ 3 mil por hectare. Antes que alguém se assuste diante da cifra – superior a de culturas tradicionais como soja, de R$ 1,3 mil por hectare, e milho, de R$ 1,5 mil por hectare –, é preciso lembrar que a cana é uma cultura anual e semiperene. Ou seja, a partir do primeiro ano, tolera até cinco ou mais cortes com a mesma soca, desde que tenha bom manejo e manutenção adequada, alinhada a condições climáticas favoráveis. Nesse período, o investimento se concentra na adubação, e os gastos, portanto, se reduzem. Já os ganhos líquidos podem chegar a R$ 900,00 por hectare, garante o presidente da Cooperativa dos Produtores de Cana de Porto Xavier (Coopercana), Gildo Bratz, única usina produtora de álcool combustível do Estado. Lucro que, em muitos casos, poderia superar os propiciados pela soja ou pelo milho.

Mas a comparação com a produção de grãos, oleaginosa ou fumo não é indicada pelos especialistas. Seja pelos custos ou pela possibilidade de retorno financeiro. São plantações distintas, com peculiaridades e características próprias, que se adaptam ou não à realidade de cada propriedade, afirma o economista Tarcísio Minetto, da Fecoagro. Segundo ele, o que os produtores precisam levar em conta é o diferencial de cada cultura. No caso da cana-de-açúcar, por exemplo, somam à favor a maior resistência ao clima adverso, a pragas e doenças e a condição de perenidade, que permite ao agricultor, no caso de uma safra de preço ruim, adiar a colheita para o ano seguinte. Os seus subprodutos também podem ser aproveitados: o bagaço na geração de energia ou como alimento para o gado e o vinhoto na ferti-irrigação das lavouras.

A logística, porém, é um fator preocupante. O coordenador da Subcomissão de Cana, Álcool e Etanol da Assembleia Legislativa, deputado Heitor Schuch, destaca que estudos técnicos indicam como antieconômico o transporte para moagem em distância superior a 30 quilômetros. Para se viabilizar, a produção não pode estar longe da usina, cuja instalação pode exigir investimento de R$ 50 mil a mais de R$ 300 milhões, conforme o tamanho e a capacidade da planta.

A previsão da Coopercana para este ano era produzir 7 milhões de litros de álcool combustível a partir do processamento de 130 mil toneladas colhidas por 280 associados em 2,3 mil hectares. Contudo, a meta será revista. O etanol é revendido a distribuidoras, e o ciclo de produção, desde o plantio até a comercialização, é gerenciado pelos agricultores, 98% familiares. Um modelo que, até então, tem se mostrado sustentável e poderá servir como referencial na organização da cadeia produtiva.

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