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Labirinto do etanol

Roberto Rodrigues foi, inquestionavelmente, o maior ministro da Agricultura da República Brasileira e, ainda, é uma referência do agronegócio nacional. Filho do ex-vice-governador Antoninho Rodrigues, ele nasceu em Cordeirópolis, no interior paulista, e, prestes a completar 70 anos, ironiza a sua aposentadoria compulsória da Universidade Estadual Paulista (Unesp), na região de Jaboticabal, onde preleciona na cadeira de cooperativismo: “Isso não é aposentadoria compulsória, mas sim expulsória”.

Nos dias atuais, coordena o Centro de Agronegócio da Fundação Getúlio Vargas (FGV) de São Paulo e, recentemente, foi designado embaixador brasileiro junto à Organização das Nações Unidas para Agricultura e Abastecimento (FAO). Engenheiro agrônomo pela conceituada Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) de Piracicaba, possui um vastíssimo currículo e larga folha de dedicação e atividades voltadas à atividade econômica mais relevante da nação, o agronegócio.

Na condição de ministro da Agricultura (2003/2006), encetou a reorganização da Pasta, implantando os alicerces de uma agricultura moderna e eficiente, com ênfase à energia da biomassa, notadamente da cana-de-açúcar.

Em face das dificuldades encontradas com o setor econômico e financeiro do governo de Lula e sem condições de solucionar os desafios do agronegócio, resolveu deixar o ministério, estruturando, em seguida, o Conselho Superior do Agronegócio (Deagro) do sistema Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).

Nas entidades das indústrias paulistas lançou o “SouAgro”, movimento exitoso, visando a estruturar a comunicação planejada sobre a relevância e força do agronegócio.

A ausência de Roberto Rodrigues do governo é sentida pela defesa intransigente mantida dos produtores rurais, mesmo que recebendo acerbas críticas, diante das posições assumidas em relação ao Código Florestal.

Na sua gestão ministerial, Roberto Rodrigues procurou, exaustivamente, esclarecer que uma das mais relevantes descobertas brasileiras no setor energético: o etanol extraído da cana-de-açúcar poderia fracassar e isto aconteceria no bojo da Conferência da Rio+20 por falta de adequadas políticas governamentais.

Ao contrário do que sucedera na Conferência do Rio 92 (Eco 92), chefes de Estado e de Governo, inclusive grandes produtores de petróleo, circulavam em carros movidos a gasolina, comprovadamente mais poluentes do que os veículos a etanol, quando o evento (Rio + 20) bradava a imperiosidade de implantação do desenvolvimento sustentável entre as nações. É contraditório.

Atualmente, quem comprou um carro flex, veículo resultante do desenvolvimento da tecnologia brasileira, verifica que o abastecimento com o etanol não é mais compensatório. A gasolina, extraída do petróleo importado ou nacional, é a melhor escolha dos usuários nas bombas dos distribuidores.

Com efeito, há uma enorme contradição. Enquanto se promovem infindáveis reuniões governamentais nas academias e universidades, a fim da promoção universal das energias ecológicas, mais limpas e renováveis, o governo brasileiro anda na contramão.

Cada vez mais, torna-se inviável encontrar a saída do labirinto do etanol brasileiro, que tem de competir com o preço da gasolina congelado pelo governo, para manter a inflação dentro das metas fazendárias e com o preço remunerador do açúcar no mercado internacional. Não bastasse a defasagem do preço da gasolina, os preços dos derivados brasileiros encontram-se desalinhados com os valores internacionais.

O Brasil já importou nos últimos 12 meses perto de 4 bilhões de litros de gasolina, o que ocasionou um prejuízo estimado à nossa principal estatal (Petrobrás) de perto de US$ 650 milhões. Os trabalhos mais recentes da Universidade Estadual Paulista evidenciam, ademais, que os canaviais paulistas estão mais velhos e menos produtivos, necessitando a sua renovação. Daí, a falta de matéria prima, a ser esmagada nas moendas.

Conforme os especialistas, haverá a necessidade de construção no próximo decênio de mais 120 indústrias sucroalcooleiras, no sentido do atendimento da demanda do açúcar, para o mercado interno e do exterior, bem como do etanol anidro, para a mistura (25%) à gasolina ou hidratado nos carros flex, cujas vendas continuam aquecidas.

O Brasil necessita passar dos atuais 555 milhões de toneladas de cana processados para 1,2 bilhão, em 2020, com o propósito de produzir 51 milhões de toneladas de açúcar, 69 bilhões de litros de etanol e 14 milhões médios de eletricidade, o equivalente a Itaipu.

Após três décadas de criação do Proálcool, não temos etanol sequer para o uso interno e, vergonhosamente, passamos às importações mais caras do etanol de milho dos Estados Unidos, gerando empregos na grande Nação. Existem, ainda, os nossos cientistas que preconizam que a melhor solução constituirá no futuro fabrico do etanol celulósico, extraído do bagaço da cana, o que já acontece em planta piloto.

Como preconizava, acertadamente, Roberto Rodrigues, o planejamento agrícola e industrial necessita ser realizado, com a antecedência devida, a fim de que as demandas sejam atendidas, com a implantação de um modelo econômico mais sustentável no Brasil nas áreas do etanol, açúcar e bioeletricidade. É o que esperamos.

Luiz Gonzaga Bertelli é vice-presidente da Associação Comercial de São Paulo, conselheiro e diretor da Fiesp-Ciesp e presidente da Academia Paulista de História (APH)

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