JornalCana

Intervenção na Petrobras preocupa setor

Fluxo de caixa das usinas pode ser afetado. Especialistas também apontam outras ameaças

Alexandre Figliolino

O anúncio de que Jair Bolsonaro indicaria um novo presidente para a Petrobras causou impacto negativo no mercado e também tem preocupado o setor sucroenergético. Os temores são baseados nas incertezas sobre a recuperação do setor de etanol, que possui ligação direta com a política de preços da Estatal, de acordo com a agência de classificação de riscos Fitch.

Para a agência, a influência do governo de Bolsonaro na estratégia de negócios da Petrobras pode ser um fator negativo para o fluxo de caixa das companhias de açúcar e etanol do país, embora seja um movimento neutro para seus ratings.

Além dessa situação pontual, outras ameaças surgem no horizonte bioenergético.

Em busca de avaliações, o JornalCana promoveu no início de março, um webinar com a participação de Alexandre Figliolino, sócio diretor da MB Agro e conselheiro de diversas empresas; André Rocha, presidente do Fórum Nacional Sucroenergético e do Sifaeg; Arnaldo Correa, diretor da Archer Consulting; Jacyr Costa Filho, membro do comitê executivo do Grupo Tereos e Tarcilo Rodrigues, diretor da Bioagência.

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Arnaldo Correa

Durante o evento, que contou com moderação do jornalista Alessandro Reis e patrocínio da AxiAgro – Inteligência e Conectividade; GDT by Pró-Usinas; Pró-Usinas; HRC; Project Builder e S-PAA Soteica, as vozes representativas do setor sucroenergético consideram a necessidade de se adotar medidas para fortalecer o etanol e deixá-lo menos vinculado ao mercado de combustíveis fósseis.

Alexandre Figliolino, afirmou que o anúncio da demissão de Roberto Castello Branco resultou em uma desvalorização generalizada dos ativos brasileiros, o que traz prejuízo e piora o ambiente de negócio. “E era para o Brasil estar surfando uma onda fantástica de crescimento, pois estamos vivendo um super ciclo na commodity. Mas infelizmente, parece que vamos perder o bonde da história mais uma vez”, afirmou.

André Rocha reforçou que o setor manteve conversas com o Governo ao longo de 2020 para tentar estabelecer políticas que pudessem dar competitividade ao etanol, mas o setor conseguiu sobreviver mesmo foi devido ao seu esforço e graças à boa recuperação de preços do açúcar, etanol e energia. Além disso, contou com uma renda extra, que foi a comercialização dos créditos de descarbonização (CBIOs).

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André Rocha

“Este Governo que reclamou de intervenções, iniciou o ano bem, conseguiu eleger aliados, mas começou a ter atrito com os governadores, envolvendo as vacinas contra a Covid-19 e recursos e isso contamina o ambiente político. O recorde de mortes espelha um país desorganizado que não sabe o que fazer com a pandemia e afugenta os investidores”, disse.

Arnaldo Correa, concordou que 2020 foi bom para o setor, que conseguiu ganhar dinheiro, fez fixações extremamente remuneradoras, como nunca ocorreu. “O setor aprendeu uma lição muito importante e aproveitou as oportunidades. Seu amadurecimento é admirável.  Em uma safra que nem começou ainda, já tem 85,5% do seu açúcar destinado à exportação e fixado em preços remuneradores”, disse.

“A intervenção do Governo na Petrobras afugenta o investidor estrangeiro. Apenas no Governo da Dilma, o setor perdeu de 68 a 80 bilhões de reais em função do controle de preço e também teve perda de marke share, com queda de 40% no consumo dos carros abastecidos por hidratado”, argumentou.

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Jacyr Costa Filho

Jacyr Costa Filho alegou que uma forma mais duradora de diminuir a influência do Governo é a privatização das refinarias. “No momento que isso ocorrer, a Petrobras vai ter menor poder de decisão no mercado. Isso vai trazer mais transparência e uma maior concorrência”, disse, comentando que se a privatização for bem construída, pode se ter um novo patamar de atuação no setor.

O executivo falou ainda sobre a possiblidade do surgimento de uma indústria pujante com o RenovaBio e também afirmou que é preciso estar atentos e prontos para responder às transformações que podem ocorrer nos próximos anos em relação à matriz energética, como também, falou da importância e oportunidades da sinergia entre as montadoras e o setor sucroenergético.

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Tarcilo Rodrigues

Na opinião de Tarcilo Rodrigues, o Governo pode indicar quem quiser para a presidência da Estatal, o que não pode é mexer na política de preços, pois o prejuízo para o setor sucroenergético é gigantesco. “Temos oportunidades para o crescimento do mercado de açúcar e do etanol, como o RenovaBio, mas tem que ter investimentos. E sem uma política clara do nosso principal concorrente (a gasolina), estamos fadados a continuar nos arrastando. Não é o que queremos, pois sabemos que o futuro do setor é promissor”, disse, ressaltando que o segmento tem que ser firme e exigir a política de preços de mercado.

Esta matéria faz parte da edição de março do JornalCana.

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