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Ingrediente biológico avança na agricultura

A biotecnologia tem um papel crescente no combate aos danos causados pelos combustíveis fósseis. O produto mais conhecido é o etanol de segunda geração, mas tanto a agricultura quanto a indústria usam com maior frequência tecnologias novas para substituir ingredientes químicos e chegar a produtos menos poluentes ou agressivos ao meio ambiente.

No etanol de segunda geração, enzimas ou leveduras especialmente preparadas agem para permitir que o bagaço e a palha da cana-de-açúcar fermentem e possam se transformar no álcool. O processo não somente produz um combustível menos poluente, como utiliza resíduos – a palha e o bagaço da cana, ou biomassa – que seriam descartados. Com isso, reduz-se a área de plantio, a queima do óleo diesel que move os tratores e o uso de fertilizantes. E agora as empresas estão desenvolvendo novas variedades da planta, chamadas de cana-energia, com maior teor de fibra e potencial produtivo.

Estima-se que seja possível produzir até 8.500 litros de etanol de primeira geração com um hectare plantado com cana-de-açúcar. Aproveitando-se a biomassa, a produção praticamente triplicaria, para 25 mil litros. Além de ser mais eficiente para a produção do álcool, a biomassa também reduz a emissão de gases-estufa.

De acordo com Bernardo Silva, presidente-executivo da Associação Brasileira de Biotecnologia Industrial (ABBI), tomando como base 100 a emissão de gases provenientes da gasolina, o etanol de primeira geração emite 25 e o de segunda geração, 21. Na cana-energia, a emissão cairia para 9. “Ou seja, é uma tecnologia fenomenal, não só na questão energética, mas também ambiental”, diz.

A GranBio, que começou a produzir etanol de biomassa no fim de 2014, desenvolveu uma variedade de cana-energia com espécies ancestrais e híbridos comerciais. Comparada à tradicional, a produtividade de cana-energia ultrapassa 180 toneladas por hectare, quase o dobro da outra. E ainda se adapta a condições mais restritivas de solo, informa a empresa.

Por outro lado, os plásticos verdes tornaram-se uma realidade e a biotecnologia é usada em uma lista que continua a crescer. Biofertilizantes, por exemplo, são uma proteção natural contra pragas e reduzem a pegada de carbono quando comparados aos fertilizantes tradicionais. Em produtos de higiene íntima, ingredientes químicos como propileno e butileno, derivados do petróleo, são substituídos por microorganismos geneticamente melhorados.

Enzimas de branqueamento da madeira produzidas por micróbios tomam o lugar da solução química dura usada para fazer papel. Até o jeans lavado está ficando verde. Ao invés de produzir o efeito com pedra-pomes esmagada (produto da mineração a céu aberto), é possível usar enzimas de biotecnologia que desbotam o tecido. “O mercado está se desenvolvendo”, afirma Silva. A ABBI tem 13 empresas associadas, a maioria delas multinacionais, e muitas têm laboratório de pesquisa no Brasil. “Temos visto um movimento de grandes empresas olhando para o Brasil, querendo fazer a transição para a base biológica”, diz o presidente.

A dinamarquesa Novozymes faz enzimas que substituem químicos pesados, altamente poluentes, para vários segmentos industriais, como os de detergentes, têxtil, de alimentos, de bebidas e de bioenergia. A enzima é basicamente um catalisador, que promove uma reação química potencializadora. Sem a quebra da molécula no processo de produção de etanol a partir de biomassa, “demoraria centenas de anos” para que fosse finalizado, afirma Emerson George de Vasconcelos, presidente para a América Latina da Novozymes.

Fonte: (Valor)

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