O governo Lula quer criar uma Embrapa industrial, inspirada no modelo bem-sucedido da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), cuja função é desenvolver e disseminar inovações tecnológicas e difundir nas indústrias a cultura do investimento em pesquisa e desenvolvimento (P&D).
A idéia nasceu no grupo de trabalho que planeja a política industrial e acaba de ser formalizada em documento do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), a ser divulgado na próxima semana. Foi debatida por cinco ministros na reunião de quarta-feira da Câmara de Política Econômica, presidida pelo ministro da Casa Civil, José Dirceu.
“No primeiro momento, vamos construir uma rede de integração de vários centros de excelência em pesquisa industrial, articular com o setor privado e, em seguida, unificar essa rede em uma única empresa, cujo modelo é o da Embrapa”, explicou o presidente do Ipea e coordenador do grupo de política industrial do governo, Glauco Arbix.
Em fase de concepção, a empresa ainda não foi formalmente proposta nem tem formato final, mas são entusiastas da idéia o presidente Lula e os ministros do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan, e da Fazenda, e Antonio Palocci.
Segundo Arbix, ela é necessária porque não há, no governo, um instrumento capaz de dar racionalidade à ação de centros de pesquisa na área industrial.
“Não é nossa intenção criar um aparato estatal de empreguismo, com ramificações pelos Estados. A idéia é dispor de um instrumento específico, depender menos de tecnologia importada e fomentar a criação e uso das nossas, sobretudo no setor privado”, avisa o presidente do Ipea.
A idéia ganhou força com a evolução do estudo “Desempenho e crescimento do agronegócio no Brasil”, de autoria de seis pesquisadores do Ipea, que será divulgado na quarta-feira. “Percebemos que a Embrapa teve papel fundamental na explosão de crescimento do agronegócio nos últimos oito anos, levando novas técnicas e pesquisas em sementes para inúmeras propriedades agrícolas e ampliando fronteiras para áreas antes consideradas improdutivas. Essa constatação nos levou a refletir porque razão isso não aconteceu com a indústria, onde a capacidade de inovar é extremamente baixa”, conta Arbix.
“É que na indústria os empresários preferem comprar inovações técnicas das multinacionais, é reduzida a produção de novas patentes no País, não há estímulo de financiamento à pesquisa pelo setor privado, a burocracia mais atrapalha do que ajuda e o País não possui um instrumento específico que organize a geração e disseminação de novas tecnologias, papel que a Embrapa executou com sucesso na agropecuária. Com isso, o Brasil é comprador e não produtor de inovação. Precisamos inverter essa equação”, continua o presidente do Ipea