O emprego de gás natural no processo convencional de cogeração faz a usina de cana-de-açúcar gerar 50% mais eletricidade com a mesma biomassa.
A adição do gás integra solução híbrida que Walter Fernando Piazza Júnior (foto acima), presidente da GasBrasiliano, do Grupo Petrobras, explica a seguir, em entrevista ao Portal JornalCana.
Portal JornalCana – O que é essa solução híbrida?
Walter Fernando Piazza Júnior – Trata-se da usina híbrida, solução desenvolvida pela GasBrasiliano por meio de parceiros tecnológicos como o Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) e a WTERT Brasil, empresa especializada na geração de energia com resíduos sólidos. O projeto visa maximizar o retorno financeiro das usinas de açúcar e etanol por meio da inserção do gás natural no ciclo de vapor da biomassa.
Explique mais, por favor
Piazza Júnior – Quando o gás natural é inserido no ciclo de vapor da biomassa, há aumento da eficiência do processo. A energia do gás natural aumenta a temperatura do vapor produzido pela biomassa e, consequentemente, sua capacidade de produzir energia mecânica na turbina à vapor. Esse ganho pode ser obtido com o uso do gás natural em configurações de superaquecimento do vapor externo à caldeira de biomassa ou em ciclo de reaquecimento, utilizando-se dos gases de exaustão de turbinas à gás natural.
Fale mais sobre os ganhos
Piazza Júnior – Nesse contexto de integração de biomassa e gás natural, a eficiência aparente do gás atinge valores entre 85% a 140% – razão entre a quantidade de energia adicional gerada e a quantidade de gás natural aplicado, garantindo a competitividade do gás natural na aplicação. Um dos pontos mais relevantes da solução apresentada é que a quantidade de gás natural inserida é pequena, porém a eficiência global das usinas pode ser aumentada significativamente. A planta continua com sua característica de combustível renovável e o gás natural apresenta-se como um bônus, valorizando e maximizando a energia da biomassa.
A solução foi implantada em alguma usina?
Piazza Júnior – Há estudos de casos em usinas parceiras, comparando o retorno financeiro da solução convencional (sem gás natural) e solução híbrida (com gás natural) com a quantidade de bagaço fixa. Os resultados são muito atraentes. Buscamos demonstrar, por meio das ferramentas de análise técnica e financeira desenvolvidas, que a introdução do gás natural em usinas existentes, ou novas, garante retorno financeiro acelerado ao empreendimento.
É possível dar um exemplo prático do ganho?
Piazza Júnior [com a participação de executivos da GasBrasiliano]: O retorno é acelerado devido à maior eficiência. No caso de uma turbina de 6 megawatts (MW), ela irá gerar 50% mais eletricidade com o mesmo bagaço, e um consumo anual de 14 milhões de metros cúbicos de gás natural. Assim, a tendência é de maior sobra de bagaço o que permitirá, também, a extensão da safra pela usina com a queima em alta eficiência. Quanto maior a safra, melhores os resultados financeiros por conta desse processo híbrido.
Quais os investimentos necessários para essa solução híbrida?
Piazza Júnior – É preciso investir em uma turbina a gás, no momento de um processo de retrofit da usina, com caldeiras de alta pressão.
Em sua maioria, as usinas enfrentam problemas financeiros junto a bancos e tomar empréstimos para adquirir novos equipamentos está difícil.
Piazza Júnior – Há linhas de financiamento disponíveis para equipamentos de geração de energia de processo industrial. Mas também há empresas interessadas em fazer o investimento [da solução híbrida] junto às usinas.
Como assim?
Piazza Júnior – É um trabalho feito em conjunto com as usinas. Elas apresentam a configuração para o retrofit. E a GasBrasiliano complementa com a solução de usina híbrida.
E os investimentos em equipamentos para chegada do gás até a usina de cana?
Piazza Júnior – A GasBrasiliano assume esses investimentos.
Como a empresa pretende divulgar mais a solução?
Piazza Júnior – No começo de junho ela foi apresentada para representantes da Associação da Indústria de Cogeração de Energia (Cogen). Já no próximo 10 de agosto próximo faremos a apresentação na sede da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica), na capital paulista.