A chegada do E30 (30% de etanol anidro na gasolina, ante atuais 27%) entra oficialmente em vigor no próximo dia 1º de agosto.
Diante disso, a importação de etanol pelo Brasil pode ser retomada para suprir a demanda, uma vez que há possibilidade de preços competitivos em outros países, destaca a Argus.
Na avaliação de participantes de mercado, há espaço para importações entre 400.000-800.000m³ de etanol até o fim da safra de cana-de-açúcar, em março de 2026, relata a empresa.
Tal volume de importação não é registrado há pelo menos quatro anos, e significaria uma média entre 50.000-100.000³ por mês até o encerramento do ciclo.
No primeiro semestre de 2025, o Brasil importou 25.000m³ de etanol por mês, em média, de acordo com dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC).
A maior parte dos lotes deve ser originada nos Estados Unidos, maior produtor de etanol do mundo, e entregue no Nordeste, principalmente nos portos de Itaqui (MA) e Suape (PE), em função da proximidade geográfica – que reduz o custo de frete.
O planejamento ocorre diante do aumento da mescla do etanol anidro na gasolina, de 27pc para 30pc, a partir de sexta-feira, 1º de agosto. O novo mandato deverá elevar a demanda pelo aditivo e reduzir a oferta de hidratado, o que tende a sustentar os preços do biocombustível no mercado doméstico.
Em entrevista ao JornalCana, Maria Ligia Barros, especialista em etanol da Argus, explica mais a respeito:

Impacto do E30 na Importação de Etanol
Como se chegou à média de 50 milhões a 100 milhões de litros de etanol por mês de importação para atender a demanda com o E30?
“Esses são volumes com que participantes do mercado – de distribuidoras, importadoras, produtoras e corretoras de etanol – estão trabalhando em seus planejamentos e projeções, segundo apurou a Argus.”
O etanol de milho feito no Brasil (cujas estimativas mais otimistas apontam para 10 bilhões de litros neste ano, 2,2 bilhões de litros acima de 2024) não é suficiente para suprir a demanda com o E30?
“O aumento nas importações na dimensão esperada é mais uma questão de oportunidade do que necessariamente de suprimento.
Participantes do mercado calculam que pode ficar vantajoso trazer etanol dos EUA a partir de meados de outubro ou novembro, à medida que o E30 impulsiona os preços do biocombustível domesticamente e o produto norte-americano começa a baratear.
É que por volta desse período começa a diminuir a demanda dos EUA por gasolina. O inverno do hemisfério norte é marcado por menor tráfego de veículos no país, fundamento que se estende até março e pode favorecer as compras externas pelo Brasil.
O ritmo e a intensidade desses movimentos de preço paralelos é o que vai determinar o quanto essa janela de arbitragem poderá se abrir.”
Impactos Regionais e Comerciais
Caso haja importação de etanol dos EUA, e ele chegue pelo Nordeste, há risco de esse biocombustível ficar na região, o que, segundo lideranças locais (Renato Cunha) já se posicionam, irá afetar os preços do etanol feito pelas usinas do Nordeste – que devem entrar em safra a partir de agosto.
“Sim, um eventual aumento nas importações de etanol poderia pressionar os preços no Nordeste, sobretudo no momento em que a safra esteja a pleno vapor.
Existe a possibilidade de as usinas nordestinas optarem por manter um mix de produção mais açucareiro. Mas essa opção tem se tornado cada vez menos atrativa com a queda dos preços do açúcar nos mercados internacionais.”
Fique à vontade para comentar mais a respeito.
“As tensões comerciais entre Brasil e EUA são um fator importante de incertezas.
Vale lembrar que Trump tem pautado a taxação em 18pc sobre o etanol norte-americano pelo Brasil como um fator de desequilíbrio na relação entre os dois países.
Trump ameaçou impor uma taxa de 50pc sobre todos os produtos de origem brasileira a partir de 1º de agosto, e a forma que o Brasil reagir deverá ditar o rumo desse fluxo de etanol.
Caso o governo brasileiro retalie à tarifa de Trump, a janela de arbitragem para o produto importado pode permanecer fechada.
A possibilidade de o Brasil diminuir suas barreiras tarifárias contra o etanol norte-americano – conduta que provavelmente abriria as portas para maiores importações pelo Brasil – parece distante neste momento, dados os recentes comentários do ministro do MME, Alexandre Silveira.”