Cogeração

UNESP destaca que a cana tem melhor eficiência na conversão da energia solar em biomassa

Estudo foi publicado na revista científica internacional "Renewable and Sustainable Energy Reviews"

Medição de radiação solar intercetada pelas folhas de cana-de-açúcr
Medição de radiação solar intercetada pelas folhas de cana-de-açúcr

A cana-de-açúcar é uma cultura com grande potencial para produção de bioenergia devido ao seu alto potencial de conversão de energia solar em biomassa.  Entretanto, a interação entre o ambiente de produção e a cultivar escolhida é um dado fundamental para a eficiência produtiva do cultivo.

Um estudo desenvolvido por pesquisadores da Faculdade de Ciências Agronômicas (FCA) da Unesp, câmpus de Botucatu – SP, respondeu a duas questões que permaneciam pouco estudadas sobre esse tema: qual a eficiência da cana-de-açúcar em converter a energia solar interceptada pelas folhas em biomassa? Como essa eficiência é influenciada pelo ambiente de produção e pelas cultivares?

Os resultados do trabalho foram publicados em julho pela revista Renewable and Sustainable Energy Reviews, uma das mais bem conceituadas na área de energias renováveis e sustentabilidade (fator de impacto 14,982, segundo o Journal Citation Reports/Web of Science, e classificada com o 3o maior índice H, relativo ao número de trabalhos publicados pela revista e suas citações), com o título de “Energy conversion efficiency in sugarcane cultivars as a function of production environments in Brazil”.

O objetivo do trabalho foi avaliar a eficiência da conversão da energia solar em biomassa, bem como a energia disponível por área (hectare) e a produtividade dos colmos, em função do ambiente de produção em diferentes cultivares.

Os experimentos foram realizados em dois ambientes de produção no Brasil, nos municípios de Prado Ferreira, Estado do Paraná (Ambiente Produtivo A) e Presidente Bernardes, Estado de São Paulo (Ambiente Produtivo C), utilizando três cultivares de cana-de-açúcar (SP80-3280, RB855156 e RB867515), em dois ciclos de cultivo.

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Prof Marcelo de Almeida Silva (divulgação)

“De maneira geral, observamos que a eficiência da conversão pode aumentar em 51,3% em função do ambiente de produção e da cultivar utilizada. A eficiência em converter energia solar em biomassa foi em média de 3,8% na cana planta (primeiro corte) e 3,3% na cana soca (segundo corte) em Ambiente de Produção A, e de 2,9% e 2,2%, respectivamente, em Ambiente de Produção C”, explica o professor Marcelo de Almeida Silva, coordenador estudo e do grupo de pesquisa do Laboratório de Ecofisiologia Aplicada à Agricultura da FCA/UNESP.

“Além disso, também registramos que a interação entre o ambiente de produção e a cultivar escolhida causa variação de 75,80% na produtividade do colmo, e a produtividade da biomassa é menos afetada pelo déficit hídrico do que a produtividade do colmo”.

Em termos de aplicabilidade, os resultados demonstram quantitativamente a importância da correta alocação de cultivares nos ambientes de produção. “É fundamental ter atenção ao manejo varietal, aquele que contempla a interação com o solo, épocas de plantio e de colheita, entre outras condições, para se obter a melhor eficiência na conversão da energia solar em biomassa e explorar ao máximo o potencial produtivo de cada cultivar de cana-de-açúcar”, salienta o docente.

A pesquisa foi tema da tese de Alexandrius de Moraes Barbosa, que realizou seu doutorado no Programa de Pós-Graduação em Agronomia: Agricultura, na FCA/Unesp, com bolsa Fapesp, sob orientação do professor Marcelo Silva. Atualmente, Barbosa é docente da Unoeste Também são autores do artigo Rafael Rebes Zilliani, Carlos Sérgio Tiritan (ambos da Unoeste) e Gustavo Maia Souza (Universidade Federal de Pelotas).

Medição de radiação solar intercetada pelas folhas de cana-de-açúcar (divulgação) 

Para o professor Marcelo Silva, a avaliação positiva do trabalho e sua publicação pela Renewable and Sustainable Energy Reviews se deve ao seu caráter inovador e a sua metodologia, com a realização dos estudos em campo, envolvendo duas localidades (ambientes diferentes), três cultivares e dois ciclos de cultivo.

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“Nossa contribuição científica é no sentido da aplicação do conhecimento. Outros trabalhos nessa linha de pesquisa já foram realizados, porém em câmaras de crescimento, em vasos, com um tipo de solo, por exemplo. O produtor de cana-de-açúcar muitas vezes conhece o conceito de manejo de cultivares e ambientes de produção, isto é, qual cultivar é a mais indicada para ser cultivada em determinadas condições de solo e clima. Mas, com esses resultados, explicamos cientificamente as razões, em termos de eficiência de conversão de energia luminosa em biomassa, que levam ao melhor desempenho de determinada cultivar em determinado ambiente”.