A cogeração em operação comercial no Brasil acaba de ultrapassar a marca de 20GW, o que equivale a 1,43 vezes a capacidade instalada da maior hidrelétrica do país, a usina de Itaipu, que contém 14GW.
Em junho de 2022, o Brasil registrou um total de 20,11 GW de capacidade instalada de cogeração em operação comercial no Brasil, o que representa 10,9% da matriz elétrica brasileira (183,59 GW).
Em 2022, verifica-se um incremento de 559 MW. As informações são compiladas pela Associação da Indústria de Cogeração de Energia (Cogen), com base em dados da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).
LEIA MAIS > Usina Coruripe investe R$ 200 milhões para aumentar produção de açúcar
O levantamento da Cogen aponta um incremento de 558,7 MW em 2022. São 465,7 MW em novas usinas e outros 93 MW em ampliações de capacidade instalada.
Somente ao longo do mês de junho foram adicionados 12 MW de bagaço de cana-de-açúcar, 202,7 MW de licor negro, 26 MW de óleos vegetais e 10 MW de resíduos de madeira, oriundos das novas usinas COAF (Timbaúta – PE), LD Celulose (Indianópolis – MG), Inpasa Dourados (Dourados – MS) e Cantá (Cantá – RR).
Já ao longo do mês de maio, foram adicionados 93 MW de bagaço de cana e 10 MW de resíduos de madeira, oriundos da ampliação da usina USI BIO (Santo Inácio – PR) e das novas usinas UJU Bio (Colorado – PR) e Santa Luz (Boa Vista – RR).
LEIA MAIS > Petrobras reduz preço da gasolina nas refinarias
Nos meses de março e abril, a Cogen registrara a adição de 50 MW de bagaço de cana, decorrentes da ampliação da usina Da Mata (Valparaíso – SP); 6,78 MW de óleos vegetais das novas usinas 3 Tentos Ijuí (Ijuí – RS), BBF Izidolândia (Alta Floresta D’Oeste – RO) e BBF Urucumacuã (Chupinguaia – RO); e outros 13,44 MW de resíduos de madeira, oriundos das novas usinas Bonfim (Cantá – RR) e Pau Rainha (Boa Vista – RR).
Em janeiro, a Cogen já tinha apontado a adição de 134 MW de licor negro originado na nova usina Puma II, da Klabin (Ortigueira – PR).
No país, a cogeração conta agora com 646 usinas. A produção de energia movida a bagaço de cana-de-açúcar conta com 383 usinas, totalizando 12,073 GW instalados, o que representa 60% do total da cogeração. Em segundo lugar, no ranking, está o licor negro, com 20 usinas, perfazendo 3,407 GW instalados (16,9%). Já a cogeração a gás natural tem 93 usinas, somando 3,152 GW instalados (15,7%).
A cogeração derivada de cavaco de madeira chega a 880 MW instalados (4,4%) derivadas de 70 usinas. A produzida com biogás detém 369 MW instalados (1,8%), partindo de 50 usinas. Outras fontes somam 226 MW instalados, com 29 usinas, e completam o quadro (1,1%).
A projeção para todo o ano de 2022 é de entrada em operação comercial de 807,18 MW.
LEIA MAIS > Raízen e Embraer firmam parceria que estimula produção de combustível de aviação sustentável (SAF)
“A cogeração tem importância estratégica para o Brasil. É uma energia distribuída, gerada em usinas próximas dos pontos de consumo, o que dispensa a necessidade de investimentos em longas linhas de transmissão. E é uma energia firme, com qualidade, não intermitente A cogeração é fundamental para uma matriz elétrica mais equilibrada, poupando água dos reservatórios das hidrelétricas”, afirma o presidente executivo da Cogen, Newton Duarte.
Em que pese todo o potencial, a Cogen avalia que o planejamento energético brasileiro não tem levado em conta todo o potencial da cogeração – principalmente da bioeletricidade.
“Os organismos de planejamento deveriam ser mais assertivos ao sinalizar a expectativa de crescimento da cogeração. A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) prevê a adição de mais 2,3 GW de expansão de usinas a biomassas no quinquênio 2022-2026. E esse número não está refletido no Plano Decenal de Energia 2031 (PDE 2031), o principal documento de planejamento energético do país, que projeta apenas um crescimento médio de 80 MW por ano entre 2027 e 2031, de modo a totalizar 400 MW em um período de cinco anos. Os investidores precisam saber que a cogeração tem um imenso potencial para crescer, sobretudo com o uso do biometano”, explica Duarte.
LEIA MAIS > Estudo aponta efeito da taxa de câmbio e fertilizantes nos custos de produção de cana
O crescimento médio das biomassas nos últimos 15 anos foi de 750 MW/ano e, nos últimos cinco anos, de 350 MW/ano. “As biomassas geram energia renovável. É uma economia circular, que vem ajudando o país em sua agenda de descarbonização, por meio do programa RenovaBio. E o melhor: é uma energia extremamente competitiva – não por acaso, 2/3 de toda a cogeração a biomassas é comercializada no mercado livre’, comenta Duarte.
“Também vemos potencial para crescimento da cogeração a gás natural, principalmente com as perspectivas de uma molécula a preços mais competitivos, o que ganha viabilidade com a abertura do mercado de gás e mais competição na oferta dessa molécula”, acrescenta o presidente executivo da Cogen.
Na visão do diretor de Tecnologia e Regulação da Cogen, Leonardo Caio Filho, a cogeração a biomassas tem sido essencial para garantir a segurança energética do Brasil. “A cogeração ajuda a poupar 14 pontos percentuais do nível dos reservatórios das hidrelétricas do subsistema Sudeste/Centro-Oeste, exatamente onde está o principal mercado consumidor do país. E as usinas de açúcar e etanol entregam essa energia principalmente no período de safra, ou seja, entre os meses de abril e novembro, justamente os meses em que têm menos chuvas”.
“Hoje, as biomassas não vêm participando dos Leilões de Reserva de Capacidade –certames que têm o objetivo de garantir a continuidade do fornecimento de energia elétrica, com vistas ao atendimento à necessidade de potência”, diz Caio Filho.
LEIA MAIS > Investimento em créditos verdes mobiliza o setor bioenergético
“Nossa proposta é que se crie, nos leilões que venham a ser promovidos com essa finalidade, uma modalidade voltada para aproveitar a disponibilidade de potência da bioeletricidade concentrada nos períodos secos e com possibilidade de valores de potência inferiores ou nulos no período úmido da região Sudeste/Centro-Oeste”, sugere o diretor de Tecnologia e Regulação da Cogen.
No ranking por unidades da federação de cogeração por biomassa, o Estado de São Paulo lidera a lista com 7,5 GW instalados. Em seguida estão o Mato Grosso do Sul e Minas Gerais (cada um com 1,9 GW instalados), Goiás (1,4 GW instalados), Rio de Janeiro e Paraná (cada um com 1,3 GW instalados), e Bahia (1,1 GW instalados).
Entre os cinco setores industriais que mais usam a cogeração estão o Sucroenergético (12,119 GW), Papel e Celulose (3,262 GW), Petroquímico (2,305 GW), Madeireiro (832 MW) e Alimentos e Bebidas (657 MW).