Os dados divulgados pela UNICA na semana passada revelam um aumento significativo na moagem de cana-de-açúcar no Centro-Sul, que cresceu 19,49% em relação ao mesmo período do ano passado. Foram processadas 95,4 milhões de toneladas contra 79,8 milhões de toneladas no ano anterior.
A produção de açúcar também registrou um aumento notável, com um crescimento superior a 25%, totalizando 5,14 milhões de toneladas em comparação às 4,1 milhões de toneladas do ano passado.
O mix de açúcar no período alcançou 47,68%, comparado a 45,37% no mesmo período do ano anterior. Embora seja uma notícia já conhecida, é importante destacar que a safra está progredindo muito bem, não havendo, até o momento, motivos para preocupação em relação à sua dimensão.
O mercado não se baseia apenas em notícias, mas, principalmente, em narrativas. As preocupações com a seca nas regiões canavieiras do Centro-Sul são legítimas. No entanto, é prematuro fazer diagnósticos sobre o suposto déficit hídrico que poderia afetar a produção de cana. Conforme mencionado por um produtor experiente: “a safra está indo muito bem, obrigado”. Se a seca persistir, “só sentiremos algum reflexo depois de agosto; portanto, ainda há muito tempo para observarmos os desdobramentos”.
E como o mercado reagiu a tudo isso? Bem, o mercado precisa de volatilidade, ou melhor, os especuladores prosperam com a volatilidade, e as narrativas são ingredientes cruciais na sua formação. Nesta semana, os dados do COT (Commitment of Traders) divulgados pela CFTC (Commodity Futures Trading Commission), a agência reguladora americana do mercado de commodities, mostraram que os fundos mantiveram praticamente inalterada sua posição vendida a descoberto, que totaliza 81.725 lotes, com base na posição de terça-feira passada.
O mercado futuro de açúcar em Nova York encerrou a semana com o contrato para vencimento em julho/24 cotado a 18.96 centavos de dólar por libra-peso, uma alta de 51 pontos em relação à semana anterior, pouco mais de 11 dólares por tonelada.
Com o real se desvalorizando, encerrando a semana ao redor de R$ 5,3500 (uma queda de 3,4% na semana), a média dos contratos para julho/24, outubro/24 e março/25 subiu 125 reais por tonelada em relação à semana anterior.
As médias das safras 25/26 e 26/27 aumentaram 87 e 60 reais por tonelada, respectivamente. Estimamos que a desvalorização do real nos últimos 3 meses (quando o câmbio estava a R$ 4,9350) contribui para uma perda de 150 pontos no açúcar em NY (33 dólares por tonelada).
A acentuada desvalorização do real não é apenas um reflexo do cenário macroeconômico que não acredita na redução dos juros norte-americanos depois do surpreendente número de criação de empregos nos EUA em maio, bem acima do esperado, mas também da contribuição inestimável de Lula e sua incrível capacidade de superar as tolices protagonizadas por Dilma, diminuindo a credibilidade fiscal do país, aumentando a insegurança jurídica e afastando investidores estrangeiros.
Em meio a esse caos, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, aparentemente sem nada melhor para fazer na vida, visitou o Vaticano para uma audiência com o Papa Francisco na quinta-feira. Imagino que tenha ido pedir uma intervenção divina.
O mercado de energia contínua anêmico, com a queda do petróleo em cerca de 4% nos últimos 30 dias. Das softs commodities, o açúcar lidera a queda com 5% no mesmo período. Está difícil ficar altista dadas as circunstâncias.
Na parte técnica, segundo nosso analista Marcelo Moreira, o julho-24 encerrou a semana “cravado” nos 19 centavos de dólar por libra-peso após testar e respeitar o primeiro suporte da média-móvel dos 9 dias de 18.73 centavos de dólar por libra-peso.
Com a aproximação do vencimento das opções no dia 17 de junho convém prestar atenção nos strikes 19 e 20 centavos de dólar por libra-peso com posição em aberto nas opções de compra “call” respectivamente em 5.300 lotes e 7.100 lotes.
Já nas opções de venda “put” atenção nos strikes 18.00/19.00/19.50 e 20.00 centavos de dólar por libra-peso com a posição em aberto respectivamente 3.800 lotes/6.300 lotes/2.100 lotes e 5.000 lotes! Próximos suportes importantes a 18.73/18.00/17.30 centavos de dólar por libra-peso e resistências a 19.58/ 20.79 e 20.99 centavos de dólar por libra-peso.
Arnaldo Luiz Corrêa é gestor de Risco para o mercado agrícola de commodities e sócio-diretor da Archer Consulting – empresa de assessoria em Mercados de Futuros, Opções e Derivativos.