O aumento sem precedentes de casos de incêndio, muitos deles de origem criminosa, na região Centro-Sul do Brasil no final de agosto despertou maiores preocupações sobre as condições dos canaviais, já bastante impactados pela prolongada estiagem, a serem colhidos durante o último terço da safra 2024/25.
Ainda que os impactos dos incêndios ainda estejam sendo mensurados, sobretudo quanto às perdas, a extensão da área afetada já sinaliza o ambiente desafiador para as operações de colheita, sobretudo diante da necessidade das usinas moerem a cana queimada dentro de um intervalo de até 48 horas para evitar perda significativa de qualidade, sem esquecer das áreas cuja cana ainda não atingiu o seu ponto ideal de corte.
À luz dos resultados iniciais desses impactos, além dos danos já provocados pela seca, a DATAGRO publicou uma revisão do balanço de safra 2024/25 da região Centro-Sul do Brasil no dia 26 de agosto para os clientes do DATAGRO Crop Survey, cujos novos números podem ser resumidos através dos seguintes pontos:
- Cana-de-açúcar: redução de 602,0 para 593,0 milhões de toneladas (654,43 milhões de toneladas em 2023/24);
- Rendimento industrial: redução de 140,60 para 140,20 kg de ATR por tonelada de cana (139,22 kg ATR/tc em 2023/24);
- Produção de açúcar: redução de 40,025 para 39,30 milhões de toneladas (42,43 milhões de toneladas em 2023/24);
- Produção de etanol total: redução de 0,44 bilhões de litros por conta dos efeitos na safra de cana (na safra 2023/24 foram produzidos 33,59 bilhões de litros);
- Mix de produção para açúcar: mantido em 49,6%, contra 48,9% na safra 2023/24.
O acompanhamento do impacto dos incêndios e a condição geral do canavial na safra 2024/25 e as perspectivas para 2025/26 continuam a ser monitorados, e eventuais refinamentos de estimativa poderão ser realizados à frente.
Mais do que em relação à moagem, há maior preocupação sobre o poder de cristalização das usinas do Centro-Sul, com muitos agentes do mercado já desconfiados da possibilidade de que o mix para a produção de açúcar em 2024/25 fique próximo ao de 2023/24, a depender dos danos nos canaviais provocados pelos incêndios e da velocidade pela qual as usinas conseguiram colher estas áreas em tempo hábil – além dos impactos sobre a planta, o forte ritmo de moagem tende a limitar a flexibilidade das usinas para maximizar a produção de açúcar
Por outro lado, importante ressaltar para a revisão sobre a produção de etanol de milho, de 7,7 para 8,0 bilhões de litros em 2024/25, correspondendo, portanto, a 24,6% da oferta total de etanol na região para a atual temporada, contra 18,7% em 2023/24, que ajuda a compensar a queda da produção de etanol de cana. A nova estimativa de produção de etanol total na safra 2024/25 na região Centro-Sul passa de 32,66 para 32,52 bilhões de litros.
Os incêndios também provocaram preocupações sobre as áreas a serem colhidas na próxima safra de 2025/26, tendo em vista os danos já observados pela equipe de agrônomos da DATAGRO Crop Survey nas áreas de rebrota, o que deve encorajar os produtores a retardar o início das operações de moagem na próxima temporada.