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Indústria revê produção e demite trabalhadores

O reajuste na produção de colheitadeiras causou novas demissões e aumentou a incerteza sobre a estabilidade do setor de máquinas agrícolas nos próximos meses. Por enquanto, a linha de montagem das colheitadeiras foi a principal desfalcada em número de trabalhadores demitidos.

Na última sexta-feira, a americana John Deere confirmou a demissão de 502 pessoas da unidade de Horizontina (RS), que produz plantadeiras e colheitadeiras e empregava cerca de 2,7 mil trabalhadores até o final de setembro de 2008. De outubro de 2008 até agora, cerca de 1.225 vagas foram fechadas entre as maiores indústrias de máquinas no Brasil.

Segundo representantes do setor industrial, as máquinas de grãos e cana-de-açúcar demandam em média 10 vezes mais mão-de-obra que os tratores. A situação só não é pior porque a agricultura familiar garantirá o consumo de pequenos tratores por meio de programas de incentivo criados pelo Governo Federal e também adotados pelos estados de São Paulo e Paraná.

Neste ano-safra, os pequenos produtores receberam cinco vezes menos crédito no Plano Agrícola e Pecuário na comparação com a agricultura denominada empresarial. Novas demissões não estão descartadas em outras fábricas.

Em Piracicaba (SP), a Case IH, pertencente ao Grupo Fiat e líder em vendas, possui uma unidade para produção de máquinas de cana, a fase de negociações com a empresa deve começar no início do próximo mês. José Florêncio da Silva, vice-presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Piracicaba, explica que em dezembro, 18 funcionários da linha de produção foram demitidos. “A empresa prorrogou por mais 20 dias as férias coletivas determinadas no final do ano. Vamos tentar uma negociação para evitar o fechamento de mais postos de trabalho”, observa.

Conforme informou Silva, entre as opções estão a redução da jornada com a formação de um banco de horas, que seria descontado quando a produção normalizar, e até mesmo a redução de salário. “Tudo será levado a assembleia para avaliação”, completa. A fábrica possuia pouco mais de 200 funcionários até o final do ano passado.

A New Holland, que também pertence ao grupo Fiat, demitiu 350 funcionários de sua unidade em Curitiba (PR), que produz máquinas para grãos, em dezembro. No entanto, a assessoria da empresa não confirma os rumores de novas demissões. Segundo informaram, não há previsão de cancelamento no projeto de reativação da fábrica da Case IH em Sorocaba (SP), porém não há data definida para o lançamento.

Alcindo Kempfer, presidente do Sindicado dos Metalúrgicos de Horizontina (RS), revela que as demissões surpreenderam o sindicato. Disse ainda que as maiores empregadoras da região são as fábricas da John Deere e da também americana AGCO Corporation – dona das marcas Valtra e Massey Ferguson no Brasil.

Ele lembra que a AGCO já demitiu 155 pessoas de Santa Rosa (RS) em dezembro. “Se considerarmos uma renda média de R$ 1 mil por mês, a economia da região deixará de movimentar mais de meio milhão de reais com as novas demissões”, analisa. Segundo disse, não feito nenhum contato para negociações. “Sabíamos que a crise complicou as vendas, mas as demissões sem comunicação prévia surpreenderam”.

Durante entrevista a um canal de TV na sexta-feira, André Carioba, vice-presidente sênior da AGCO para a América do Sul, não descartou novas demissões na unidade de Santa Rosa, que produz máquinas. A assessoria da empresa não confirmou as informações de novos cortes no município.

Kempfer acrescenta que o corte de pessoal da John Deere ficou acima da queda da produção. “A produção caiu cerca de 25%, enquanto as demissões correspondeu a 30%”, revela. Procurado pela reportagem, o Sindicato das Indústrias de Máquinas Agrícolas do Rio Grande do Sul não respondeu às ligações.

Milton Rego, vice-presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), afirma que o maior problema está na escassez de crédito para a agricultura de grande porte, o que atinge diretamente as máquinas. “O crédito e até mesmo a dívida dos grandes produtores restringem o acesso ao crédito.

As máquinas são historicamente financiadas em 95% dos casos pelos recursos do Moderfrota e as restrições dos produtores dificulta o acesso a essa linha”. Ele não acredita que as demissões contaminem as unidades de tratores porque os programas para a agricultura familiar sustentarão a demanda.

“Se fizéssemos um levantamento por faixa de potência, veríamos que a maioria vendida é de pequeno porte. Na linha de produção os tratores pequenos são produzidos junto com as grandes”. (Roberto Tenório)

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