Mercado

Indústria exportadora deve atrair mais o capital estrangeiro neste ano

Depois de despencar em 2003 para o menor patamar em oito anos, o volume de investimento direto estrangeiro (IDE) no Brasil deve aumentar em 2004, seguindo a tendência mundial de recuperação desse fluxo de recursos. Mas ao invés das aplicações em infra-estrutura que predominaram no final da década de 90 – conseqüência das privatizações -, o interesse dos investidores internacionais estará voltado para o setor produtivo, principalmente segmentos exportadores como agroindústria e extração mineral.

Bancos e consultorias ouvidos pelo Valor estimam o IDE entre US$ 12 bilhões e US$ 15 bilhões em 2004. Isso pode significar alta de 18% até 48% ante aos US$ 10,1 bilhões registrados em 2003 pelo Banco Central. Esses recursos devem ser aplicados, predominantemente, em tecnologia, alteração de linhas de produto ou aumento da capacidade. Dificilmente haverá grandes aquisições ou construção de fábricas.

Para o economista-chefe do Credit Suisse First Boston, Rodrigo Azevedo, os setores “comercializáveis”, ou vinculados à exportação, irão atrair o maior volume de investimento. “São os mais rentáveis e algumas indústrias transformaram o Brasil em plataforma de exportação”, diz. Os setores mais ligados ao mercado interno, como o automobilístico, devem se restringir ao lançamento de produtos, dada à alta capacidade ociosa.

A expectativa de maior peso da indústria na entrada de divisas estrangeiras pode ser um reflexo de três anos de retração nos investimentos, avalia o diretor-executivo do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (IEDI), Júlio Sérgio Gomes de Almeida. “É o fim de uma ressaca”. Desde 2000, o país passou por uma crise de energia e um período eleitoral conturbado. Por isso, 2004 pode ser o momento em que projetos sairão das gavetas. Nada que contemple o mercado interno. A expansão da produção exportável é o incentivo da vez, prevê.

Esse movimento, contudo, ainda é “embrionário”, define Gomes de Almeida. De 1995 a 2000, segundo o IEDI, 60% dos recursos estrangeiros foram para setores de baixo potencial de exportação. Após a introdução do câmbio flutuante, o perfil começou a mudar, o que é positivo.

Antiga vedete dos investidores estrangeiros, a infra-estrutura deve registrar desempenho aquém do desejado, dada à ausência de marcos regulatórios, afirmam os bancos. Carlos Kawall, economista-chefe do Citibank, diz que a construção civil também não será beneficiada, pois enfrenta um problema estrutural, como a falta de financiamento no país. O Citibank estima em US$ 15 bilhões a entrada de IDE em 2004.

Para Kawall, outro setor que irá contribuir com um bom resultado é a área financeira. Mas por motivos inversos ao setor exportador. Em 2003, a saída de investidores estrangeiros do sistema financeiro prejudicou o resultado de IDE do país. Esse processo parece estar no fim.

Julio Callegari, economista da Tendências Consultoria, avalia que deve cair o volume de IDE que representa apenas conversão de dívidas das companhias em participação acionária. A consultoria, que estima a entrada de US$ 12,5 bilhões no país, acredita que esse tipo de operação responderá por 32,5% dos recursos, abaixo dos 51,2% de 2003, mas acima dos 18,6% de 2001. Kawall, do Citibank, explica que o volume de conversão de dívida foi expressivo em 2003, porque, com a alta do risco-país, as multinacionais preferiram captar recursos mais baratos e repassar às filiadas para o pagamento de dívidas. E com a instabilidade cambial, optaram por aumentar o capital e reduzir a necessidade de hedge. “Com o risco-país mais baixo e a menor volatilidade, o percentual deve cair em 2004, mas será alto”.

Por enquanto, apenas uma operação pode mudar as previsões dos economistas: a fusão entre as fabricantes de cerveja Ambev e Interbrew. Apesar de envolver apenas troca de ações, a operação pode ter impacto contábil no resultado do IDE. A Interbrew irá pagar US$ 11 bilhões por 53% das ações da Ambev. Kawall, do Citibank, lembra que parte desse recurso poderá ser contabilizado como IDE. Já a compra dos ativos da Labatt (que pertence a Interbrew) pela Ambev poderá ser registrada como investimento brasileiro no exterior.

Apesar do aumento ainda tímido, a entrada de IDE no Brasil pode superar um pouco o fluxo médio para os emergentes. O Instituto de Finanças Internacionais (IIF) estima que os investimentos estrangeiros diretos em países emergentes devem aumentar 18%, para US$ 110,7 bilhões. A Ásia deve absorver o maior volume com US$ 59,8 bilhões. O maior crescimento relativo ocorrerá na Europa (77% para US$ 17,6 bilhões) pela aceleração da privatização na Turquia e nos países da União Européia. Já na América Latina, o fluxo deve crescer 11,9%, para US$ 29,1 bilhões.

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