JornalCana

Ilegais ditam preço do álcool, diz Shell

A Shell tem prejuízo na venda de álcool hidratado no Brasil, segundo informa Vasco Dias Jr., presidente da companhia. Para competir com distribuidoras e postos que sonegam tributos, a Shell vende o combustível pelo preço determinado pelo mercado ilegal. “Não existe outra alternativa. Não podemos deixar de oferecer o produto aos nossos clientes.”

O mercado irregular de álcool hidratado –que, segundo ele, já alcança cifras de bilhões de reais– é o maior problema enfrentado hoje pela Shell no país. O Sindicom, sindicato que reúne as distribuidoras, estima que 34% do consumo de álcool hidratado em 2005, de 7,1 bilhões de litros, tenha sido de produto clandestino. “É preciso mexer no sistema de tributação para evitar a sonegação fiscal e aumentar a fiscalização.”

Dias Jr. assumiu a presidência da Shell em fevereiro do ano passado, após uma experiência de quatro anos na diretoria executiva da CSN. Mas, na Shell, já havia trabalhado 20 anos e ocupado funções importantes na companhia em Londres, na França e na Holanda.

O uso do álcool como combustível não pára de crescer no Brasil, segundo informa, principalmente devido à expansão no consumo de carros bicombustíveis, movidos a álcool e a gasolina. De janeiro a junho deste ano, 653 mil desses veículos foram colocados no mercado. E a previsão é que esse número chegue a 1,1 milhão de unidades até dezembro.

“E, quanto mais cresce a venda de álcool, mais as companhias que operam de forma legal e o Estado perdem. Por isso, a prioridade do Sindicom é trabalhar para resolver o problema da concorrência desleal com governos estaduais, o governo federal e a ANP [Agência Nacional de Petróleo]”, diz.

Na Shell, o álcool já representa entre 20% e 30% das vendas de combustíveis, afirma o executivo. A gasolina participa com 40% a 50%, e o diesel, com 20% a 30%. Os Estados de São Paulo e do Rio de Janeiro são as regiões mais críticas na venda de álcool irregular, diz.

“Ataque violento”

As práticas ilegais no mercado brasileiro de combustíveis já levaram a Shell a encolher no país. Em 1999 e 2000, a sonegação de impostos, o uso de solventes na gasolina e o comércio do chamado álcool molhado (mistura de água no álcool anidro, isento de ICMS) levaram a companhia a fechar 1.500 postos com sua bandeira no Brasil.

“Naquela época, o mercado sofreu um ataque extremamente violento de práticas ilegais. Isso criou uma situação em que a companhia optou pela redução do número de postos [de 4.000 para 2.500 postos no país] para proteger a marca, pois tínhamos indícios fortes de prática de dumping e de sonegação fiscal nos postos que tinham nossa bandeira”, diz.

A Shell também decidiu vender a participação nos postos que possuía na região Centro-Oeste do país para a Agip. “Perdemos muito mercado devido às práticas ilegais do setor. Mas, para a companhia, nossos princípios empresariais de negócio, ética e marca são muito mais importantes”, afirma Dias Jr.

Nos últimos quatro anos, na avaliação do presidente da Shell, o mercado ilegal de gasolina e diesel diminuiu devido a ações de governos estaduais e da ANP. “E, nesse cenário, a Shell voltou a crescer no ano passado. Já estamos com 2.700 postos no país [10% próprios e 90% de revendedores]”, afirma.

Dias Jr. diz que a estratégia da empresa é abrir 150 postos em 2007 e também voltar a operar na região Centro-Oeste do país. Para isso, a companhia multinacional prevê desembolsar US$ 50 milhões, que também serão usados para reformas e a manutenção de postos existentes e financiamentos a revendedores.

“Já abrimos 150 postos neste ano, vamos abrir mais 150 no ano que vem e no ano seguinte. Podemos voltar a ter postos em Goiânia e em Brasília, pois já terminou o prazo de carência determinado por lei após a venda que fizemos para a Agip.”

Outros US$ 50 milhões, segundo informa o presidente da Shell, serão investidos nas suas bases de distribuição, em lubrificantes e em combustíveis para a aviação e para clientes industriais. “E isso vai acontecer independentemente de quem for o presidente da República no ano que vem”, afirma.

Deixar o Brasil

Para o presidente da Shell, a companhia nunca teve e não tem a intenção de deixar o Brasil (esse rumor chegou a ser forte no início desta década). “Só na área de exploração e produção de petróleo [fora a Petrobras, a Shell é a única companhia que produz óleo comercialmente no país], a companhia já investiu US$ 1,5 bilhão no mercado brasileiro.”

Dias Jr. diz que os investimentos em uma região estão sempre ligados ao retorno que se tem, e a Shell está satisfeita com o Brasil. “Poderia estar mais satisfeita? Sim, se tivesse maior rentabilidade no mercado de varejo. Isso não está impedindo a companhia de investir no país, mas a empresa poderia estar investindo mais.”

Os tributos incidentes sobre produtos e serviços no setor de combustíveis, segundo estima o Sindicom, representam 29,8% do custo dos produtos. Nos países da América Latina, esse percentual é de 20,6%. A média mundial é de 15,7%.

Apesar de os investimentos em exploração e produção de petróleo da Shell serem maiores do que os investimentos em distribuição de combustíveis, a divisão de combustíveis representa 85% do faturamento da Shell no Brasil, estimado em US$ 7 bilhões para este ano.

Inscreva-se e receba notificações de novas notícias!

você pode gostar também
Visit Us On FacebookVisit Us On YoutubeVisit Us On LinkedinVisit Us On Instagram