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Hidrovias

O Rio Grande do Sul é um Estado favorecido para a navegação. Dotado de hidrovias ligando os principais centros produtores, o modal é o mais vantajoso em termos econômicos – são necessários 160 caminhões para transportar a mesma carga movimentada por navio de quatro mil toneladas. E, não é só isso: os gastos com manutenção das estradas e com acidentes ampliam os custos. Mas não é só a hidrovia que conta a favor da navegação. O Estado possui um complexo portuário que se constitui em elos fundamentais para a movimentação de cargas, tanto para importação quanto para exportação. Esta reportagem mostra os mais importantes portos fluviais gaúchos: os portos de Porto Alegre, Estrela e Pelotas. O sistema hidroviário também conta com terminais privativos – alguns localizados dentro, e outros fora dos portos organizados. Esta reportagem mostra como opera um dos terminais com maior movimentação de carga no Estado, o Santa Clara, da Copesul, e os projetos de investimento da Aracruz Celulose em portos fluviais, como parte da estratégia logística da empresa.

De acordo com o superintendente da Superintendência de Portos e Hidrovias (SPH), Roberto Falcão Laurino, o transporte hidroviário é o mais seguro, mais econômico e o mais ecológico. Laurino afirma que o melhor aproveitamento da hidrovia deve-se a estudo da melhores composições logísticas por parte das empresas. “Mesmo sendo, ainda subutilizadas, em 2006 movimentamos 4,6 milhões de toneladas do Estado em hidrovias interiores, a segunda maior movimentação do País. Além da manutenção das hidrovias gaúchas, Laurino afirma que a SPH está empenhada em incentivar a participação do modal hidroviário na logística de transportes do Rio Grande do Sul.

Porto Alegre tem o maior porto fluvial

Cláudia Borges

O porto de Porto Alegre, que completou 86 anos em primeiro de agosto, é um entreposto fundamental para as importações e exportações gaúchas, principalmente de produtos que têm como origem ou destino empresas da Região Metropolitana de Porto Alegre e eixo Porto Alegre-Caxias do Sul. Maior porto fluvial do País, localizado na margem esquerda do lago Guaíba, tem calado de 17 pés e permite a entrada de navios com até 220 metros de comprimento e 15 mil toneladas de carga. O porto possui oito mil metros de cais acostável dividido em três cais – Mauá, Navegantes e Marcílio Dias. No cais Mauá, com 3,2 mil metros está localizada a sede administrativa da SPH, além de 16 armazéns, com uma área coberta de 33,9 mil m2. O cais Navegantes, com 2,5 mil metros de cais acostável, possui 10 armazéns, com 42.355 m² de área coberta. Além disso, conta com um terminal de contêineres, numa área de 36,6 mil m2 com dois berços de atracação. No cais Navegantes, existem os terminais privativos da Cesa, da Serra Morena e cinco terminais que movimentam areia, cascalho e brita. No cais Marcílio Dias, a extensão de 2,2 mil metros é utilizada para movimentação de materiais para a construção civil.

As principais cargas movimentadas em Porto Alegre são fertilizantes, trigo, sal, bobinas de papel e sorgo no desembarque. Estas cargas são provenientes da Europa e Ásia e da Rússia, Israel, Canadá Noruega e Estados Unidos. No embarque, com destino a Rio Grande e exportação, transformadores, celulose e papel, congelados, metalmecânico leve e pesado, derivados de petróleo, grãos de origem vegetal, produtos siderúrgicos, contêineres e carga geral. O porto de Porto Alegre possui acesso rodo-ferro-hidroviário. Por rodovia, é possível chegar ao porto pelas BR-101, BR-208, BR-290 e BR-386. O porto de Porto Alegre está localizado a 315 quilômetros de distância do porto do Rio Grande por hidrovia. Pelo mesmo modal, basta percorrer 278 quilômetros para chegar da Capital ao porto de Pelotas e 145 quilômetros até Estrela parte pelo rio Jacuí, e parte pelo Taquari. Até Charqueadas a distância é de 46 km, ao Pólo Petroquímico de Triunfo, 26 quilômetros, e ao porto de Cachoeira do Sul, 227 quilômetros. Outra vantagem logística do porto é a proximidade com o Aeroporto Internacional Salgado Filho, localizado a menos de 10 quilômetros de distância. Entre os planos da SPH, que inclui o porto e a hidrovia, estão a implantação de ISPS-Code, sinalização da hidrovia da lagoa dos Patos para viabilizar a navegação noturna e a implantação do calado variável de inverno do porto para 19 pés.

Pelotas movimenta clínquer e uréia como principais produtos

Localizado no Sul do Estado, o porto de Pelotas, administrado pela SPH, começou a operar em janeiro de 1940. Construído na margem esquerda do canal São Gonçalo, que liga a lagoa Mirim à lagoa dos Patos, o porto tem 17 pés de profundidade e um importante papel para geração de trabalho e redução de custos logísticos de importadores e exportadores. Em 2006, o porto movimentou 40 mil toneladas de clínquer e uréia, principais cargas que entram e saem do porto. As instalações possuem um cais acostável com três berços com a extensão total de 500 metros, além de três armazéns alfandegados para carga geral e granéis, com capacidade para 27 mil toneladas.

O porto apresenta fácil acesso pelo modais rodoviário, aéreo e ferroviário. Por hidrovia, se liga ao porto de Porto Alegre e ao porto do Rio Grande pela lagoa dos Patos. Via rodoviária é possível chegar ao porto pelas rodovias BR-116, BR-392, BR-293 e BR-471. A proximidade com o Aeroporto Internacional de Pelotas, localizado a 10 quilômetros de distância facilita o uso do modal aéreo. Além disso, conta com um acesso ferroviário que permite a implantação de uma linha para o transporte de cargas por trem.

Na área do porto, há também o terminal privado da Cimbagé – Companhia de Cimento do Brasil. A estrutura do terminal é composta por um píer com plataforma de 19,6 metros, com dois dolfins de amarração e profundidade de 5,18 metros, sete silos verticais com capacidade de 7 mil toneladas e seis tanques com capacidade de 15 mil toneladas. No local, são armazenados produtos como clínquer, coque de petróleo, casca de arroz, calcário.

Estrela pode unir Uruguai a São Paulo

O porto de Estrela está situado na margem esquerda do rio Taquari, no município de Estrela, a 142 quilômetros de Porto Alegre via fluvial, e a 450 quilômetros do porto do Rio Grande. A ligação com a Capital é feita pelo rio Taquari até a confluência com o rio Jacuí, por onde a embarcação chega a Porto Alegre. Por rodovia, existem dois acessos: pela BR-386 ou pela Rota do Sol. O porto também possui acesso ferroviário, o que possibilita o transporte multimodal. O cais possui 585 metros de extensão e seis berços, três para operações de embarque e três para desembarque.

A aérea de armazenagem tem capacidade para estocagem de 90 mil toneladas. São dois armazéns graneleiros, com capacidades estáticas para 13 mil e 37 mil toneladas de produtos como soja, farelo de soja, trigo e milho. Há ainda um silo vertical para 40 mil toneladas de grãos como arroz, milho, trigo, soja, sorgo que está alugado para a Companhia Estadual de Silos e Armazéns (Cesa).

Para carga geral, existe um armazém com 2.260 m2. O porto possui também um pátio com 5 mil m2 para estocagem de contêineres, além dos equipamentos para movimentação de carga. O produto mais movimentado no embarque é a soja e no desembarque, materiais de construção. Com um calado de 3,2 metros, o equivalente a 11 pés, graças à eclusa no município de Bom Retiro do Sul, o porto pode receber embarcações com até 3 mil toneladas de carga e 100 metros de comprimento.

Para o administrador do porto, José Luiz Fay de Azambuja, Estrela ainda é muito pouco utilizado, se considerada sua capacidade de movimentação e armazenagem. “A sociedade não voltou os olhos para a hidrovia e o porto de Estrela está sendo subutilizado. Ele faz ligação com Porto Alegre, Pelotas, Rio Grande e Santa Vitória do Palmar, que poderiam ser mais aproveitadas”, afirma. Um exemplo, segundo Azambuja, seria a movimentação de açúcar de São Paulo até Estrela por ferrovia. De Estrela a Pelotas a carga seria levada por hidrovia e a embarcação retornaria com arroz. “Estimo que assim, utilizando mais modais, o transporte ficaria 20% mais barato”, diz Azambuja. Outro roteiro a ser explorado seria de Montevidéu a São Paulo, com a carga, de petroquímicos por exemplo, transportada de caminhão a Santa Vitória do Palmar, de onde seguiria por hidrovia até o porto de Estrela. De lá, poderia seguir até São Paulo pelo modal ferroviário. A administração do porto é vinculada ao Ministério dos Transportes, através da Companhia Docas do Estado de São Paulo.

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