A produção de hidrogênio verde utilizando biocombustíveis pode contribuir e acelerar a descarbonização do setor de transporte, que está entre as áreas que mais emitem gases de efeito estufa no mundo.
Para cumprir as metas estabelecidas no Acordo de Paris e limitar o aumento da temperatura do planeta a 1,5ºC acima dos níveis pré-industriais, Erwin Franieck, mentor de pesquisa e desenvolvimento e inovação SAE Brasil, afirmou que as soluções e tecnologias limpas precisarão entrar de forma mais ativa e rápida no mercado.
Ele participou do Workshop: O Potencial dos Biocombustíveis para a Produção de Hidrogênio, durante a BW Expo, Summit e Digital 2020, realizado na quinta-feira (19).
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A curadora do Núcleo Transformação Energética – Hidrogênio da BW Expo, Summit e Digital 2020, Monica Saraiva Panik, explicou que a tendência mundial é que novos investimentos serão direcionados em favor de sistemas de energia renovável e biocombustíveis, e o hidrogênio verde se tornará mais valioso do que os combustíveis fósseis, devido ao redirecionamento da demanda mundial em sua trajetória focada no cumprimento das metas do Acordo de Paris.
“As tecnologias “Bio to Hydrogen” abrem novas perspectivas para o Brasil e principalmente para as usinas sucroalcooleiras que possuem uma indústria e infraestrutura consolidada e já produzem etanol, biogás, bio-resíduos e biodiesel em larga escala”.
Franieck é pai do sistema Flex e recordou que a entrada da tecnologia foi bem aceita no mercado, se mantendo forte, mesmo em períodos de crise, porque o poder de escolha está na mão dos usuários.
“Mas, como será o futuro da mobilidade, uma vez que teremos que amarrar uma nova estrutura, ampliando a ideia do flex”, ponderou. “Além do etanol, temos o potencial do mercado de biomassa. Mas, para isso, é preciso definir um plano estratégico para o futuro mercado de energia e da mobilidade, a fim de, por exemplo, planejar a produção de biomassa de forma adequada”.
Conforme enfatizou Monica, o hidrogênio não compete com os biocombustíveis, mas sim ser um de seus subprodutos, ampliando a gama de negócios, expandindo o mercado e promovendo a inovação tecnológica.
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“O hidrogênio pode ser produzido a partir dos resíduos de biomassa através dos processos de reforma e gaseificação, abrindo novas portas e novos negócios para esse setor, que sofre com a instabilidade do mercado interno e externo”. Além disso, o uso da biomassa para a produção de hidrogênio não concorre com a produção de alimentos, porque ao invés de descartar seus resíduos no solo causando uma perda de eficiência de 50%, se pode aproveitá-la para a geração de energia.
Desse modo, Antonio Alberto Stuchi, consultor para Novas Tecnologias e Processos Industriais da Raízen, apresentou alguns dados sobre o potencial de produção de biomassa da companhia. “Atualmente, o potencial da biomassa disponível é de 34,4 toneladas por hectare ou 0,43 toneladas por tonelada de cana, sendo que 0,28t vem do bagaço e 0,15t da palha”.
Sobre o etanol, Daniel Lopes, sócio e diretor da Hytron, mostrou que a produção de hidrogênio verde a partir desse combustível é bastante vantajosa, uma vez que um equipamento da empresa consome 7,61 litros de etanol para a produção de 1kg de hidrogênio, consumindo 18 litros de água e dez vezes menos energia do que o processo de eletrólise da água.
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Para aplicação automotiva, Lopes afirmou que a mobilidade em todas as suas formas – veículos leves, pesados, marítimo, ferroviário, entre outros – tende a ser elétrica porque há mais eficiência e menos poluição. Com isso, serão necessárias tecnologias complementares para prover seu funcionamento, como é o caso do hidrogênio.
Em uma situação hipotética, Lopes realizou cálculos reais para demonstrar a viabilidade da produção de hidrogênio verde a partir do etanol. Um modelo SUV necessitaria de 7,5 kg de hidrogênio verde para alcançar uma autonomia de 1.125 km. Ou seja, o consumo de etanol seria da ordem de 57 litros de etanol para abastecer os 7,5 kg e o consumo médio chegaria a 20 km/l. Já o abastecimento levaria aproximadamente 3 minutos.
“Em meus cálculos o custo do kg do hidrogênio produzido a partir do etanol varia entre US$ 2,5 e US$ 5, um valor extremamente competitivo em nível mundial, porque hoje essa produção varia entre US$ 7 e US$ 9”, reforçou Lopes.
Esta matéria faz parte da Edição 321 do JornalCana. Para conferir, clique AQUI.