Ao contrário do que o título possa sugerir, o papel não é uma fonte de hidrogênio verde. Mas as leis e regulamentações que tratam dessa, cada vez mais reconhecida fonte de energia limpa, começam a ganhar corpo, abrindo caminho para saída dos laboratórios de pesquisa, e partindo para sua exploração em escala comercial.
No Brasil, a publicação de três resoluções do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) trouxe implicações positivas para o desenvolvimento do hidrogênio no país. Tratam-se da Resolução CNPE nº 2 de 2021, que inclui o hidrogênio como um dos temas a serem priorizados na destinação de recursos de pesquisa, desenvolvimento e inovação regulados pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) e pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP).
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A Resolução CNPE nº 6 de 2021, que determina a proposição de diretrizes para o Programa Nacional do Hidrogênio (PNH2); e da Resolução CNPE nº 6 de 2022: institui o Programa Nacional do Hidrogênio e cria o Comitê Gestor do Programa Nacional do Hidrogênio.
No Senado Federal, uma comissão especial deve avaliar, no prazo de dois anos, os programas do governo para o hidrogênio verde e fomentar o ganho de escala dessa tecnologia de geração de energia limpa.
A ANP acompanha o andamento do projeto de lei (PL) 1878/2022 – que cria a política que regula a produção e uso para fins energéticos do hidrogênio verde, em tramitação na comissão especial – e do PL 725/22, que disciplina a inserção do hidrogênio verde como fonte de energia no Brasil e estabelece parâmetros de incentivo ao uso do hidrogênio sustentável.
Além de ser útil em todos os modos de transporte (rodoviário, aéreo, marítimo e ferroviário), o hidrogênio verde também pode ser utilizado na indústria de alimentos, geração de eletricidade residencial e industrial, em refinarias, no processo produtivo de outros combustíveis, como o diesel verde, na produção de amônia, no segmento de fertilizantes e de combustível marítimo.
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Em palestra no Seminário STAB Industrial, realizado durante a 29ª Fenasucro & Agrocana, em Sertãozinho – SP, sob o tema “Hidrogênio Verde – Perspectivas e Possibilidades”, Murilo Borges, gerente de Engenharia de Processos, da Reunion Engenharia, destacou que trata-se de um caminho sem volta.
“Já existe um movimento para viabilizar esse negócio, o que tende a ganhar espaço cada vez maior no país inclusive no setor sucroenergético.” De acordo com ele, a tendência é de desenvolvimento crescente deste mercado nos próximos anos”, disse Borges destacando que a transição energética abre uma janela de oportunidades, com a consolidação de produtos como biogás, biometano e o hidrogênio verde.
Ao abrir sua apresentação Borges destacou uma frase de autoria do Sheik Ahmed Zaki Yamani, ministro do Petróleo da Arábia Saudita entre 1962 e 1986, que dizia que “a idade da pedra não acabou por falta de pedra. A idade do petróleo irá acabar muito antes que o mundo fique sem petróleo”, acentuando a inclinação cada vez mais crescente da busca por fontes de energia limpas e renováveis.
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Ao falar sobre as características e potencialidades do hidrogênio verde, Borges ressaltou que é um vetor energético muito versátil. “Existem diferentes tecnologias para se obter diferentes tipos de hidrogênio, como hidrogênio musgo, branco, turquesa e verde”, explicou.
Na palestra, ele apresentou diferentes processos de produção, rotas tecnológicas, principais usos e cadeia de produção. “A maior parte do hidrogênio é produzido hoje a partir de gás natural. Hoje os principais consumidores desse tipo de produto produzem o próprio hidrogênio para uso na indústria.”
No setor sucroenergético, as principais formas de produção de hidrogênio verde são pela reforma do biometano e do etanol, além da gaseificação ou pirólise do bagaço de cana-de-açúcar. A versatilidade se faz presente, ainda, na aplicação desse vetor energético. Majoritariamente empregado nas próprias indústrias, atualmente, o hidrogênio tem um enorme potencial de mercado a ser desenvolvido, como no ramo automotivo, por exemplo. Outra vantagem, no caso do etanol, é a questão da produção descentralizada pelas usinas e da distribuição nos postos de combustíveis
O desafio, agora, segundo Borges, é alinhar o desenvolvimento tecnológico com a viabilidade econômica, além de encontrar métodos seguros de armazenamento e de transporte.