Com a evolução dos preços dos fertilizantes e diante da dinâmica recente de preços do ATR, o comportamento da relação de troca do setor – especialmente no contexto das implicações econômicas do conflito no Leste Europeu – apresenta impacto negativo em termos de investimentos, levando à piora de indicadores de produtividade no médio e longo prazo no setor bioenergético brasileiro. A afirmação consta do estudo Projeto Campo Futuro CNA/Senar, elaborado pelo Pecege/CNA.
Segundo o estudo, com a forte elevação de preços dos fertilizantes e os impactos sobre o custo logístico internacional, os problemas na cadeia global de fornecimento resultaram em escassez de produtos em certas regiões em momentos de 2021, aspecto que viria a se agravar após o início do conflito no Leste Europeu, ao final de fevereiro/2022.
Tais altas, evidentemente, pressionam sobremaneira o custo de produção da cana-de-açúcar e incentiva estratégias alternativas no campo, com destaque para o uso de vinhaça (especialmente do tipo localizada, com vistas a diminuir a dependência de potássio) e para utilização de esterco, oriundo de criações de bovinos e aves, como fonte de nitrogênio.
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O aumento da matéria-prima foi inferior à alta dos preços dos fertilizantes. “Mesmo com os elevados preços da matéria-prima, entre janeiro de 2021 e março de 2022, os produtores de cana-de-açúcar do Centro-Sul passaram a precisar comercializar, em média, duas vezes mais produto (ATR) para adquirir a mesma quantidade de fertilizantes, o que explica a crescente busca por alternativas aos mesmos”, aponta o estudo.
Com o início do conflito armado, a oferta russa de petróleo reduziu-se substancialmente, fazendo com o que o preço do barril apresentasse um processo de rápida aceleração e chegando a superar em US$ 120 o barril no início de março de 2022. Tal fato pressiona não apenas o preço do etanol, via paridade com o preço da gasolina, mas também do açúcar, dada a percepção de um mix de produção com maior representatividade do biocombustível no Brasil. Mostra-se, dessa forma, favorável aos preços do setor.
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Por outro lado, o Brasil passava por um processo de alta das taxas de juros, tornando o país atraente a capitais estrangeiros. Com a alta do preço das commodities (incluindo petróleo), mais recursos adentraram o país, reduzindo significativamente a taxa de câmbio, o que, por si mesmo, tenderia a reduzir a receita do setor.
O atual momento, em que os custos pressionam as margens do setor, deixa claro o contexto dinâmico e incerto no qual o setor bioenergético se encontra. Sem as antigas proteções da forte regulamentação estatal existente até os anos de 1990, torna-se crítico, para usinas e produtores independentes, realizar um constante monitoramento das condições do mercado.
O estudo prevê a adoção de novas estratégias nos tratos culturais. “Particularmente na safra 2022/23, em meio a preços tão elevados de fertilizantes, novas estratégias nos tratos culturais podem se mostrar, não apenas economicamente viáveis, mas fundamentais para a manutenção de resultados positivos na atividade, uma vez que os termos de troca do setor apresentam clara tendência de deterioração”, afirma.